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BCE reduz juros e indica que seguirá dependente de dados
Em decisão unânime e com a promessa de que as taxas de juros permanecerão restritivas “pelo tempo necessário”, o Banco Central Europeu (BCE) deu prosseguimento ao ciclo de flexibilização monetária iniciado em junho e voltou a reduzir os juros nesta quinta-feira. O movimento era amplamente esperado pelos participantes do mercado, com um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de depósito, que passou de 3,75% para 3,5% ao ano. A taxa de refinanciamento foi cortada em 0,6 ponto, de 4,25% para 3,65%, enquanto a de empréstimos passou de 4,5% para 3,9%.
A decisão do BCE vem na esteira de um progresso adicional na desinflação, apesar de alguma persistência dos núcleos em níveis mais altos, ao mesmo tempo em que o crescimento da zona do euro tem emitido sinais mais fracos. Não por acaso, a autoridade monetária reduziu a projeção para o PIB deste ano de 0,9% para 0,8% e cortou a estimativa de crescimento de 2025 de 1,4% para 1,3%.
“A direção [dos juros] é óbvia, de queda, e não é pré-determinada nem em sequência nem em volume”, afirmou a presidente do BCE, Christine Lagarde, durante entrevista coletiva concedida após a reunião, ao ser questionada se são esperadas novas reduções de 0,25 ponto na taxa de depósito em outubro e em dezembro. “Vamos continuar dependentes de dados e decidir reunião a reunião.”
Na visão de Lagarde, porém, ser dependente de dados não significa, necessariamente, olhar um número específico, mas sim o conjunto de informações recebidas. Ela, além disso, reiterou a confiança nas projeções do BCE, que apontam para uma inflação de 2%, exatamente na meta perseguida pela autarquia, até o fim do próximo ano. Apesar disso, a dirigente ressaltou que as projeções de inflação podem ser revisadas para cima caso os salários cresçam mais que o previsto, ao mesmo tempo em que alertou que as tensões geopolíticas podem elevar os preços de energia.
Vale notar que, embora o BCE tenha mantido inalterada as projeções de inflação a 2,5% neste ano e a 2,2% em 2025, a autoridade monetária passou a ver alguma pressão adicional nos núcleos inflacionários, que não contemplam itens voláteis, como os preços de energia e de alimentos. A autoridade monetária elevou a estimativa para o núcleo de inflação deste ano de 2,8% para 2,9% e passou a previsão de 2,2% para 2,3% em 2025.
No mercado, porém, a persistência dos núcleos em níveis um pouco mais altos tem sido deixada em segundo plano em relação aos sinais de enfraquecimento da atividade econômica na zona do euro. As curvas de juros têm precificado, no momento, cerca de sete reduções de 0,25 ponto percentual na taxa de depósito pelo BCE.
Hoje, porém, diante da ausência de “guidance” (prescrição futura) de Lagarde, o mercado corrigiu a rota com alguma alta firme nas taxas de curto prazo. O rendimento do Bund alemão de dois anos, por exemplo, teve expressiva, ao passar de 2,153% para 2,232%.
Entre os participantes do mercado, porém, ainda persiste a avaliação de que o BCE pode acelerar o ritmo de redução dos juros em algum momento. “Parece ser apenas uma questão de tempo até que uma perspectiva de crescimento mais sombria se traduza em cortes de taxas mais agressivos. O pouso suave nos Estados Unidos e o impacto na zona do euro podem ser esse gatilho”, afirma o chefe global de macroeconômica do ING, Carsten Brzeski.
O economista do banco holandês nota que o BCE já havia mudado em julho a avaliação de risco para sua perspectiva de crescimento para “inclinada para o lado negativo”, e deve realizar cortes de juros mais agressivos a partir do ano que vem, ao se deparar com um processo de desaceleração da atividade.
O economista-chefe do Commerzbank, Jorg Kramer, avalia, em nota enviada a clientes, que o BCE deu a impressão de que não pretende cortar as taxas de juros novamente em outubro, e ressalta que Lagarde minimizou, na coletiva, a importância de uma taxa de inflação abaixo de 2% em setembro.
“O núcleo da inflação persistentemente alto e o aumento acentuado dos salários sugerem que o BCE esperará até dezembro para cortar as taxas novamente, quando tiver as novas projeções de inflação”, diz. “Continuamos esperando mais dois cortes no primeiro semestre do ano que vem, com a taxa de depósito provavelmente atingindo 2,75% em meados de 2025.”
Para os economistas do Wells Fargo Nick Bennenbroek e Anna Stein, o BCE permaneceu cauteloso sobre o ritmo de afrouxamento. “Continuamos confortáveis com nossa visão de uma pausa na taxa do BCE em outubro, a ser seguida por um corte de 0,25 ponto na taxa de depósito em dezembro”, dizem.
“Nossa opinião também é que o BCE continuará reduzindo sua taxa de juros de referência a um ritmo constante de 0,25 ponto por trimestre (ou seja, a cada duas reuniões) em 2025”, levando a taxa de depósito a 2,25% no próximo ano.
O Citi, da mesma forma, considera baixa a probabilidade de novos cortes antes de dezembro e diz que o horizonte permanece, de forma incomum, curto. “Uma aceleração nos cortes de juros este ano segue improvável, mas cortes mais rápidos ou mais profundos são mais prováveis no próximo ano”, diz o economista chefe para Europa do Citi, Arnauld Marès.
*Com informações do Valor Econômico
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