Brasil e Argentina buscam equilíbrio nas relações com a China

Postura do presidente argentino com relação ao país asiático mudou após sua eleição

Javier Milei, presidente da Argentina. Foto: Gustavo Garello/Associated Press/Estadão Conteúdo
Javier Milei, presidente da Argentina. Foto: Gustavo Garello/Associated Press/Estadão Conteúdo

O presidente argentino, Javier Milei, mudou profundamente o tom de sua retórica sobre a China desde que assumiu o cargo em dezembro passado, criando um burburinho nos círculos diplomáticos.

Antes de assumir o cargo, Milei muitas vezes chamava a atenção com comentários incendiários que refletiam sua posição pró-Estados Unidos e uma postura anti-China, referindo-se uma vez à nação asiática como uma “assassina”.

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Desde a sua posse, no entanto, Milei evitou discretamente qualquer tipo de crítica a Pequim.

Quando questionado pela mídia britânica em maio sobre o presidente chinês, Xi Jinping, ele simplesmente disse: “Não o conheço pessoalmente para fazer um julgamento. Isso seria imprudente da minha parte”.

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Realidade econômica da Argentina

Junto dessa aparente mudança de atitude em relação a Pequim está a realidade econômica da Argentina.

Para superar a crise da dívida, a Argentina assinou o seu primeiro acordo de swap cambial com a China em 2009.

O acordo permite que os dois países troquem as suas respectivas moedas – o yuan chinês e o peso argentino – sem a necessidade do dólar americano como intermediário.

Desde o acordo inicial, foi revisto e ampliado várias vezes, refletindo a crescente parceria econômica entre as duas nações, bem como as necessidades financeiras contínuas da Argentina.

Na verdade, diz-se que a Argentina adicionou parte do yuan que recebeu às suas reservas cambiais.

A importância do yuan para a saúde econômica da Argentina tem crescido à medida que o país latino-americano continua a enfrentar desafios com a sua dívida nacional.

Isso significa que mesmo o pró-americano Milei não pode ignorar a profunda dependência financeira e comercial do seu país em relação à China, que representa 8% das exportações da Argentina e 20% das suas importações.

No fim de abril, a ministra dos Negócios Estrangeiros, Diana Mondino, foi enviada a Pequim numa tentativa de reparar quaisquer danos nas relações bilaterais.

“Milei não era versado em assuntos internacionais”, disse Chai Yu, diretor-geral do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais. “Depois de assumir o cargo, ele aparentemente aprendeu que cooperar com a China era o caminho mais sensato.”

Relação entre Argentina e China

A relação entre Argentina e China não se limita à economia.

Em 2017, a China estabeleceu a sua primeira estação de rastreamento por satélite no exterior, no centro da Argentina. Posicionada no lado oposto da Terra à China, os especialistas dizem que a instalação foi projetada para expandir substancialmente o alcance de recepção dos satélites do país.

Em abril, a general Laura J. Richardson, comandante do Comando Sul dos Estados Unidos, expressou preocupação durante sua visita a Buenos Aires de que a estação de satélite forneceria aos militares chineses “capacidades globais de rastreamento e vigilância”.

As suas observações realçaram a decepção de Washington com a decisão da administração Milei no sentido de uma postura mais pró-China.

A crescente dependência econômica da China não é exclusiva da Argentina na América Latina.

A Bolívia começou a usar o yuan para o comércio com a China em 2023. A partir de maio daquele ano, cerca de 10% do seu comércio total foi realizado em yuan durante três meses. A Venezuela e o Brasil também usam o yuan para liquidação.

A influência americana nos assuntos globais tem sido apoiada pelas suas capacidades de inteligência e pela hegemonia do dólar americano.

Assim, a China pode ter como objetivo reforçar o seu aparato de inteligência e expandir o alcance da sua moeda, utilizando a América Latina como trampolim.

A América Latina, rica em recursos alimentares e energéticos, também oferece à China a oportunidade de ajudar a satisfazer as suas crescentes necessidades internas.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Japão, enquanto a participação dos Estados Unidos no comércio com 33 países latino-americanos caiu de 52% em 2000 para 39% em 2022, a participação da China aumentou de 2% para 16%.

As relações com o Brasil

O Brasil, uma potência regional, também enfrenta um delicado equilíbrio no seu relacionamento com a China, o que foi sublinhado pela visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país asiático em abril de 2023.

Embora Lula não tenha concordado em aderir à Iniciativa Rota da Seda, o projeto de infraestruturas e desenvolvimento econômico transcontinental iniciado por Xi, ele visitou um centro de pesquisas gerido pela Huawei, uma grande empresa de telecomunicações alvo de sanções dos Estados Unidos, aparentemente tentando manter alianças tanto com os chineses quanto com os países ocidentais.

Esta posição diplomática oportunista levou alguns países ocidentais a tomar medidas para impedir que o Brasil se afastasse do seu rebanho.

O presidente francês, Emmanuel Macron, visitou o Brasil em março, seguido pelo primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, em maio. Ambos os líderes enfatizaram a importância das relações bilaterais com a nação sul-americana.

Tais medidas sublinham uma situação em que não se espera que a América Latina volte a ser o “quintal dos Estados Unidos”.

Com informações do Valor Econômico

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