Brasil tem limitações para elevar produção imediata de petróleo

O governo brasileiro se comprometeu a aumentar a produção de petróleo, em resposta à articulação liderada pelos Estados Unidos para atenuar os impactos das sanções à Rússia sobre a oferta global. Apesar de ter ampliado as exportações, nos últimos anos, o Brasil tem, contudo, uma capacidade limitada para elevar a produção de imediato. Qualquer contribuição brasileira, no curto prazo, será marginal, na avaliação de especialistas.
Ao todo, o Brasil exportou 1,323 milhão de barris/dia em 2021 – 45% de todo o volume extraído. O país é um dos dez maiores produtores do mundo e caminha para se tornar, também, um dos exportadores mais relevantes da década. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a partir de 2022, a maior parte do que o Brasil produz passará a ser exportada. Em 2031, dois terços da produção nacional serão vendidos no mercado externo, o que poderá alçar o Brasil ao posto de um dos cinco maiores exportadores do mundo.
Acontece que o crescimento das exportações será gradual e não há perspectivas de que o país possa, de imediato, contribuir de forma relevante para substituir parte da oferta russa. Ao todo, o petróleo brasileiro responde por cerca de 4% da produção global.
O analista sênior de óleo e gás da Bloomberg Intelligence Fernando Valle afirma que a indústria petrolífera brasileira, concentrada no pré-sal, tem particularidades que dificultam aumentos rápidos de produção, se comparada à realidade dos campos terrestres do “shale oil” [produção não convencional] dos EUA e Canadá – onde os produtores levam entre três a nove meses para aumentar volumes, quando as condições de mercado são favoráveis. No pré-sal, conta Valle, o desenvolvimento de novos projetos leva anos para sair do papel. A contratação de uma plataforma flutuante (FPSO), por exemplo, costuma ocorrer com dois a quatro anos de antecedência e se concentra hoje em estaleiros asiáticos – que convivem com atrasos na entrega, diante do desequilíbrio das cadeias globais.
“Além disso, o Brasil importa diesel e gasolina, então exportar petróleo significa importar derivado. [Qualquer aumento das exportações] é marginal. Pode aumentar 100 mil barris/dia? Pode, mas a única maneira [de aumentar exportações significativamente] seria se houvesse queda na demanda doméstica. Mas esse cenário não é o melhor para o país”, disse.
Ao todo, o Brasil produziu 2,9 milhões de barris/dia em 2021, sendo 73% no pré-sal, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP). A expectativa é que, em 2022, apenas uma plataforma nova entre em operação no país: Mero 1 (bacia de Santos). A Petrobras detém 72,5% do volume produzido no país e é a maior exportadora do óleo nacional. Empresas estrangeiras (como Shell, Repsol, Petrogal, Equinor e TotalEnergies) têm ampliado os volumes produzidos no Brasil, mas, ao contrário da estatal, têm no mercado externo o principal destino de seus volumes.
A produção terrestre, cuja estrutura é mais simples e tem capacidade de resposta mais rápida, por sua vez, é pequena no país, tendo sido responsável por 3% da produção nacional no ano passado.
A disparada do preço da commodity, provocada pelas incertezas com a guerra na Ucrânia, levou os EUA a fazerem um apelo ao Brasil e outros grandes produtores – incluindo a Venezuela – para ampliarem a produção. A secretária de Energia do governo americano, Jennifer Granholm, fez o pedido diretamente ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
O presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e do Gás (IBP), Eberaldo Almeida Neto, também é cético quanto a um aumento expressivo das exportações brasileiras no curto prazo. “O Brasil possui uma economia de mercado e produzirá sempre dentro da racionalidade econômica, diferentemente dos países da Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo], que estão sujeitos a cotas, ou de países que estão sob sanções… Além disso, no offshore, os investimentos não serão feitos com base só no curto prazo”, comentou.
Almeida Neto acredita, por outro lado, que um cenário de alta dos preços do barril tende a favorecer projetos de recuperação de campos maduros – que fase de declínio. Segundo ele, o petróleo mais caro pode viabilizar reservas que antes não teriam atratividade econômica. Esses campos, porém, tendem a ter um potencial mais baixo de aumento de volumes.
Em fevereiro, a Petrobras sinalizou que não havia muito espaço para antecipação de sua carteira de projetos. “O único espaço para movimento é quando consideramos novos poços nas plataformas existentes. Não há espaço para mudar o plano de produção nos próximos três a quatro anos”, disse o diretor de desenvolvimento da produção, João Rittershaussen.
O chefe de pesquisa de exploração e produção de petróleo da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis, acrescenta que o que as petroleiras podem tentar fazer, para capturar ganhos da valorização do petróleo no curto prazo, é postergar em alguns meses as paradas para manutenção de plataformas. Ele também vê limites na conexão de novos poços a plataformas já existentes. “As perfurações e interligação levam meses.”
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