BTG emprestava dinheiro a Americanas baseado na reputação dos controladores

Segundo o CEO do BTG, o caso Americanas é o único da carteira do banco em que a exposição de crédito era determinada pela força dos principais acionistas

Nova empresa do grupo BTG Pactual tem capital social de R$ 2 milhões - Foto: divulgação
Nova empresa do grupo BTG Pactual tem capital social de R$ 2 milhões - Foto: divulgação

“[Na Americanas] eram acionistas controladores com muita reputação, uma empresa de capital aberto, com longo histórico; acho que não foi só o nosso caso, mas todo o sistema financeiro acaba usando esse padrão”, disse Roberto Sallouti, CEO do BTG, durante a teleconferência dos resultados do 4º trimestre.

“Nos outros créditos da carteira isso não acontece”, concluiu Sallouti. Segundo o CEO do BTG, o caso Americanas é o único da carteira do banco em que a exposição de crédito era determinada não pela força do balanço da companhia em si, mas pela força dos principais acionistas.

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Renato Cohn, vice-presidente financeiro do BTG Pactual, explicou que a exposição total do BTG a Americanas é de R$ 3,5 bilhões, mas há R$ 400 milhões com resseguro e R$ 1,2 bilhão que foram compensados de contas da companhia (mas estão em disputa na Justiça). Assim, sobram cerca de R$ 1,9 bilhão. Desse total, o BTG provisionou R$ 1,1 bilhão, ou cerca de 63%.

“Nós cuidamos da nossa carteira de crédito de acordo com cenário macro. Já víamos aumento da inadimplência, muito na pessoa física. Vínhamos já reduzindo exposição a algumas empresas mais expostas e isso, mas esse é caso de fraude [Americanas], então não aconteceu em função da deteioração no cenário macro”, comentou.

Cohn disse considerar que a provisão de 63% é adequada e que na realidade o banco espera recuperar mais do que isso. “Cada banco tomou sua decisão, fizemos provisão bastante importante e razoável, dado o que a gente vê acontecendo no futuro póximo, e considerando que é um caso de fraude, tem uma série de repercussões, vai para os acionistas… Não achamos que a empresa vá desaparecer e não vai pagar nenhum dos seus credores”.

Em linha com a declaração, Sallouti disse que “Sabemos que vamos recuperar mais que isso, mas o tempo é incerto, então talvez isso nos obrigue a fazer provisiões adicionais. Mesmo que tivermos de fazer provisões adicionais, isso não muda nosso guidance”, afirmou.

Segundo ele, a Americanas provavelmente fará uma série de reestruturações, incluindo aporte dos acionistas e venda de ativos. “Faz parte do processo discussão.”

De acordo com o executivo, outras grandes empresas que enfretam dificuldades são parte de um movimento normal, até mesmo decorrente da alta de juros, mas que não implica na revisão dos processos de crédito. “Não acho que seja uma grande preocupação. É uma pequena preocupação.”

“Nossa gestão de crédito nunca foi baseada em market share, mas sim na alocação adequada de riscos.”, complementou o CEO do banco. Roberto Sallouti também comentou que o BTG não pretende mudar sua política de dividendos e deve continuar com um “payout” de 25%.

Por Mariana Ribeiro e Álvaro Campos, Valor — São Paulo.

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