Projeções para 2023: Juro e inflação mais altos podem se somar a downgrade em agências de risco, diz Stuhlberger

Aumento de gastos garantido por PEC sem que haja fundos para isso pode impactar negativamente câmbio, juros e ações, diz o executivo da Verde

Luis Stuhlberger é gestor do fundo Verde (Foto: Silvia Costanti/Valor)
Luis Stuhlberger é gestor do fundo Verde (Foto: Silvia Costanti/Valor)

Projeções para 2023 apontam “juros reais mais altos e inflação possivelmente mais alta”. Além disso, pode haver uma deterioração da imagem do país diante das agências de risco. O cenário foi esboçado por Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset, durante o Macro Vision 2022, evento realizado pelo Itaú em dezembro.

“Não vejo chance zero de a gente sofrer um downgrade por alguma agência de risco com a PEC (da Transição, que autoriza gastos fora do teto), sem fundos. Aí você tem mais impacto sobre câmbio, juros e ações”, disse o executivo durante .

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Juntando os últimos dois anos do governo Bolsonaro com a PEC da Transição, os gastos podem ultrapassar o teto em R$ 350 bilhões.

“Provavelmente, o déficit primário estrutural para o ano que vem, se nada for feito, será de 2% do PIB. Dado que o custo da dívida também vai tirar da gente mais uns 3 ou 4 pontos, então, o déficit nominal será em torno de 5 a 6 pontos”, completou.

ICMS e outros impostos

O executivo diz que o novo governo não terá muitas condições para mitigar essa situação porque uma delas envolveria o aumento do peso do ICMS sobre combustíveis. E esse tipo de decisão poderia ser politicamente perigosa para o novo governo.

Outra maneira de reduzir o déficit seria, segundo Stuhlberger, o aumento de outros impostos. Mas ele alerta: “não quero dar ideias ao PT”.

Ele elenca algumas possiblidades que devem ser ventiladas pelo novo governo para aumentar a arrecadação: “Podem fazer medidas de aumento de impostos mesmo sem uma reforma tributária ampla, como mexer na tributação do JCP (juros sobre capital próprio), atualização de valor de imóveis, atualização de dinheiro no exterior, tributação de estoque de fundos exclusivos fechados…”, mencionou.

Política econômica

Ele afirma que deve haver uma volta de Lula ao modelo de 2003/ 2010, “com o governo acelerando, e o Banco Central, brecando”. Porém, o sucesso disso dependerá de o novo presidente manter o mesmo respeito pelas decisões do BC.

“Isso funcionou antes porque o Lula tinha um profundo respeito por Meirelles, e lutou contra opiniões internas do PT”, avaliou.

Outro ponto importante da nova política econômica será o papel do BNDES e da Caixa, que devem servir como “braços de empréstimos subsidiados” do governo Lula. “Isso aumenta cada vez mais o juro real de equilíbrio”, avalia.

Ele completa dizendo que o cenário pode se manter estável enquanto houver crescimento do PIB, mas, diante de uma perda da aceleração da economia, a situação pode se deteriorar.

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