XP desaba quase 20% em NY após resultados ‘fracos’ e perspectivas ‘ruins’

O Credit Suisse rebaixou a recomendação para os papéis da XP destacando 'uma grande redução nas estimativas de ganhos devido a um ambiente de receitas mais deteriorado'

Foto: Divulgação
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Após a XP reportar resultados fracos no quarto trimestre, o Credit Suisse (CS) rebaixou a recomendação da companhia para “underperform” (abaixo da média do mercado) e reduziu o preço alvo de US$ 27 para US$ 15.

As ações da companhia registrava forte queda no mercado da Nasdaq, em Nova York. Por volta das 16h50 (de Brasília), os papéis perdiam quase 20%, a US$ 12,93.

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Segundo o banco suíço, o rebaixamento ocorre após “uma grande redução nas estimativas de ganhos devido a um ambiente de receitas mais deteriorado”.

A XP Inc. fechou o quarto trimestre de 2022 com lucro líquido de R$ 783 milhões, resultado 24% inferior ao reportado entre julho e setembro e de 21% na comparação de 12 meses atrás. No ano completo, a linha final das demonstrações financeiras trouxe ganhos de R$ 3,58 bilhões, desempenho praticamente estável em relação ao exercício anterior, com R$ 3,592 bilhões. Para 2023, a companhia projeta um resultado entre R$ 3,8 bilhões e R$ 4,4 bilhões.

“Estamos reduzindo nossa previsão de receita líquida para 2023 em -18%, resultando em um corte de -8% no lucro líquido, agora em R$ 3,635 bilhões, ligeiramente abaixo da projeção da empresa de R$ 3,8-4,4 bilhões, pois acreditamos que o (bem-vindos) cortes de SG&A (despesas com vendas, gerais e administrativas), principalmente de pessoal e bônus, não devem sustentar o ritmo de crescimento de receita esperado pela companhia”, afirmam os analistas Marcelo Telles e Daniel Vaz. Eles observam que os principais riscos para rating “underperform” são cortes mais rápidos nas taxas de juros no Brasil e maior atividade nos mercados de capitais.

Em relatório, os profissionais afirmam ainda “ver resultados muito negativos para as ações, considerando o grande declínio sequencial de ganhos de -22%, abaixo do consenso e das previsões do CS”.

Segundo os analistas, com a queda de receitas em todas as áreas (varejo e principalmente atacado), os resultados da empresa foram afetados pela alavancagem operacional negativa, apesar do esforço de redução de custos. “Mais uma vez a XP não gerou caixa, com redução do caixa líquido de R$ 459 milhões”, afirmam.

“Infelizmente, a empresa não divulgou a demonstração do fluxo de caixa ajustado, o que dificultou a compreensão da origem do declínio (como o impacto da recompra de ações, pagamento a assessores de investimentos, etc.)”, dizem.

“O ambiente de juros altos está provando ser um grande desafio para o modelo de negócios da XP, cujo efeito é ainda mais exacerbado por uma reestruturação corporativa necessária, mas complexa e altamente desgastante”, escrevem os analistas. “As perspectivas para o XP, portanto, permanecem muito desafiadoras.”

‘Desempenho foi muito mais fraco do que o esperado’

Numa primeira leitura sobre os resultados da XP no 4T2022, o UBS BB avaliou o desempenho como muito mais fraco do que o esperado. O lucro líquido foi de R$ 783 milhões, 24% abaixo do reportado no período de julho a setembro e 21% inferior na comparação com o mesmo intervalo de 2022.

Segundo análise assinada por Thiago Battista, Olavo Arthuzo e Kaio Prato, o desempenho negativo foi em parte compensado pelo fornecimento de uma diretriz para controle de custos para 2023. A XP estima que as despesas totais em 2023 fiquem entre R$ 5 bilhões e R$ 5,5 bilhões, em comparação aos R$ 5,6 bilhões de 2022. Com a execução, a XP espera fechar o ano com um lucro líquido contábil entre R$ 3,8 bilhões e R$ 4,4 bilhões.

Nos resultados, os analistas destacam que as receitas brutas do varejo ficaram aquém das estimativas da casa, caindo 3% no trimestre, com a “take rate” (as receitas do varejo sobre os ativos em custódia) semelhante à registrada no primeiro trimestre, de 1,09%, ante estimativa de 1,17% do UBS.

No segmento de atacado, o desempenho também decepcionou com uma queda de 23% nas receitas de ações em 12 meses e de 11% no trimestre, com a renda fixa contraindo 19% na comparação com o quarto trimestre de 2021 e 20% em relação ao trimestre anterior. As receitas com institucionais caíram 38% no trimestre, ante 26% das estimativas do UBS, enquanto os serviços de emissão recuaram 38% no trimestre e 10% no ano.

Por outro lado, os analistas enfatizam a forte geração de receitas com novas iniciativas, com as receitas com cartões aumentando 61% no trimestre, a despeito de a penetração na base XP ser ainda relativamente pequena, de 16%. As rendas com seguros aumentaram 51% no mesmo período, mas ainda representando 1% do potencial de clientes já dentro de casa.

A linha de despesas surpreendeu positivamente, representando 35,7% da receita líquida, abaixo dos 40,7% esperados.

‘Base de custos equivocada colaborou para deteriorização da receita’

A Selic alta e uma base de custos equivocada levaram a XP a apresentar uma deterioração de receitas e uma margem EBT (resultado antes de impostos) de 23%, abaixo do consenso do mercado, segundo análise do BTG Pactual. O time de pesquisa manteve recomendação neutra para as ações da companhia, com viés de baixa, com um preço-alvo em 12 meses de US$ 18.

Pelo relatório, assinado por Eduardo Rosman, Thiago Paura e Ricardo Buchpiquel, embora alguns dados operacionais já fossem conhecidos e a equipe tenha ajustado suas premissas no fim de janeiro incorporando uma agenda de corte de custos mais agressiva, a combinação entre receitas e custos representaram um “grande erro” nas estimativas, com a receita líquida ficando em R$ 3,2 bilhões, o EBT em R$ 739 milhões e o lucro líquido em R$ 783 milhões, com recuo de 12%, 22% e 15%, respectivamente.

O EBT, métrica que os analistas preferem observar para a XP devido à sua taxa de imposto muito baixa e volátil, caiu 25% no trimestre e 34% em 12 meses. No ano completo, caiu 10% após ter subido 57% em 2021.

“Em sua apresentação, a administração, repetidamente, culpou um macro difícil (alta da Selic) e uma base de custo ‘errada’ no início de 2022” para o desempenho, escrevem os analistas do BTG. Embora tenha revelado um agressivo plano de corte de custos, o lado das receita está em deterioração “e falta uma estratégia clara para compensar cenário macro”, algo que deve pesar sobre as ações da companhia, diz o BTG.

O time de pesquisa destaca o programa de corte de custos para levar os lucros de 2023 para uma faixa entre R$ 3,8 bilhões e R$ 4,4 bilhões. Depois de aumentar seu quadro de funcionários, a 6,9 mil colaboradores ao fim de 2022, em comparação a 3,6 mil em 2020, a base de custos da companhia subiu fortemente e a administração admitiu que “contratou demais” e que teve que se adaptar a tempos mais difíceis.

Da agenda de corte de custos, a XP espera colher frutos em 2023, com as despesas gerais ficando entre R$ 5 bilhões e R$ 5,5 bilhões, ante os R$ 5,6 bilhões realizados no ano passado. “Já prevíamos uma mensagem forte (estimamos demissões de 18%), mas os números vieram melhores do que modelamos”. Embora a orientação para controle de custos tenha vindo melhor, a linha de resultados veio pior.

Na sessão de perguntas e respostas da conferência com analistas, o diretor de finanças da XP, Bruno Constantino, confirmou que o primeiro trimestre de 2023 provavelmente será muito fraco. Janeiro já costuma ser um período sazonalmente ruim com muitos assessores de investimentos e clientes de férias. O mercado de capitais se deteriorou, principalmente as emissões de dívida, após o episódio com Americanas, que impactará o resultado da XP em R$ 125 milhões no período entre janeiro e março.

A análise do BTG enfatiza ainda que os números do quatro trimestre foram impactados por incentivos de R$ 240 milhões pagos pela Visa e pela B3, mas que são sazonais, não vão se repetir no primeiro trimestre. E mesmo que uma disciplina de custos entre em ação, a captação líquida mais baixa, um mercado de dívida ruim e o caso Americanas devem garantir um primeiro trimestre muito fraco, o pior do ano, como sinalizou Constantino.

Para os analistas, passar de um caso de “crescimento” para de “valor” nunca é fácil e embora o controle de custos seja uma ótima iniciativa, deve ser insuficiente para compensar receitas mais fracas. Mesmo que os resultados da XP acabem sendo os mesmos – uma tarefa que não é fácil -, a XP não traz alternativas claras de como reverter a situação, diz o BTG. Indicam que a menos que a Selic caia inesperadamente para um dígito, os números da XP tendem a passar por uma onda de revisões para 2024.

“Transformar-se numa empresa de valor nunca é fácil, mas a XP está tentando devolver mais aos acionistas. Isso acelerou as recompras de ações e o CEO [Thiago Maffra] mencionou na carta aos acionistas um retorno mínimo para 2023 por meio de recompras ou dividendos”.

Os analistas do BTG também criticaram a ausência do CEO e de Guilherme Benchimol, fundador e presidente do conselho de administração, na teleconferência de um resultado anual tão importante.

Escrevem que limitar custos é ótimo, mas pode ser tão radical que prejudica a moral da empresa. Também preocupa, prosseguem, as mudanças contínuas no modelo de “partnerhip”, que podem prejudicar a capacidade da XP de integrar e reter talentos. “Se a XP quiser aumentar seu pool de lucros, precisará se tornar mais um investimento banco e menos uma corretora pura. Essa transição não será fácil, fazer um bom modelo de partnership será ainda mais crucial, pois assume mais risco e se torna mais intensiva em capital.”

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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