Queda do dólar é de curto prazo e não deve prosseguir, avalia Itaú Unibanco em relatório

Mesmo com trajetória de queda do dólar para o real em 2025, do pico de R$ 6,30 em dezembro para R$ 5,69 na última sexta-feira (14), o Itaú Unibanco avalia que a apreciação do câmbio se limita ao curto prazo.
O diferencial de juros com o aumento da Selic e o começo mais ameno que o esperado pelo mercado financeiro do governo Trump ajudaram o real a ganhar força contra a moeda norte-americana. Contudo, em relatório, o banco mantém sua previsão de dólar a R$ 5,90 para 2025.
O diferencial de juros por si só “não deve ser capaz” de apreciar ainda mais o real neste ano. “Os fundamentos ainda apontam para uma taxa de câmbio mais depreciada: esperamos que o risco fiscal continue em patamar elevado e que o dólar siga se fortalecendo globalmente”, diz o banco em relatório.
Fiscal impede valorização do real, diz Itaú Unibanco
O cenário fiscal ainda é o mesmo do pico do dólar. No ano, o dólar se desvalorizou 7,58% para o real. Na última sexta-feira, a moeda americana chegou a menor cotação desde novembro.
Mas para o Itaú, parte da melhora do câmbio veio de um início de mandato de Donald Trump menos turbulento do que o esperado. Houve ainda na visão do banco um “adiamento, aparentemente temporário, do anúncio de certas tarifas”, o que ajudou a moeda brasileira a se valorizar.
Mas o principal efeito, diz a equipe de analistas macroeconômicos do banco, vem do “diferencial de juros”. Em janeiro, o Banco Central optou por elevar a Selic para 13,25% ao ano.
Apesar do alívio no curto prazo, o diferencial de juros sozinho não sustenta a taxa de câmbio abaixo de R$ 5,90, indica o Itaú.
O risco fiscal, por outro lado, levaria o dólar a subir porque continua elevado. O banco avalia que o governo federal não será capaz de cumprir com o teto da meta de déficit primário para 2025, de 0,60% do PIB. No lugar, deve entregar um saldo de despesas contra receitas primárias deficitária em 0,70%.
“Avaliamos que uma melhora mais consistente do prêmio de risco e dos ativos domésticos só ocorrerá com uma perspectiva de trajetória mais equilibrada da dívida pública à frente” dizem analistas do banco. “Uma alternativa complementar a contenção de despesas de curto prazo é apertar os parâmetros do arcabouço fiscal”, sugere o banco ao indicar ser necessário corte de R$ 35 bilhões.
Itaú: Fed não deve cortar juros nos EUA em 2025
Diante das políticas de Donald Trump, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) resolveu deixar os juros inalterados em janeiro. E o Itaú Unibanco acredita que a autoridade americana deve manter a estratégia durante todo o ano.
Em janeiro, o Fed manteve os juros em patamares de 4,25% a 4,50% ao ano. Foi este diferencial que levou o dólar a cair frente ao real. Jerome Powell, presidente do Fed, disse que a autoridade “não tem pressa” para cortar juros.
Isso porque o governo Trump tomou uma série de medidas que, na visão dos economistas do Itaú, são inflacionárias. A primeira sendo as tarifas sobre a China e a taxação global de 25% sobre aço e alumínio importados.
A tarifa de 10% sobre todas as importações chinesas, por exemplo, deve levar a um repasse de 0,2 ponto percentual em preços nos EUA. Ao mesmo tempo, as medidas de deportação e restrição a imigrantes também trazem riscos inflacionários, diz o Itaú Unibanco.
“A demanda doméstica continua forte, o ritmo de emprego deve continuar acima do seu ritmo neutro (aquele que deixa o desemprego constante), o que pressiona salários e a inflação”, apontam os analistas.
“Esperamos que os fatores elencados acima impossibilitem novos cortes de juros. E que o Fed ajuste sua comunicação indicando que os juros devem permanecer elevados por mais tempo”, conclui o banco.
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