O que vai acontecer com o peso argentino após as eleições?
Afinal, qual será o futuro do peso argentino no pós-eleição?
O peso argentino passou por forte desvalorização em 2023, o que chamou atenção de investidores e turistas brasileiros. Agora, com o segundo turno das eleições na Argentina sendo disputado entre o atual ministro da Economia do país, Sergio Massa, e o desafiante de extrema-direita, Javier Milei, crescem as expectativas sobre o que vai acontecer com o peso argentino e com a economia local.
Afinal, qual será o futuro do peso argentino no pós-eleição, vencendo Javier Milei ou Sergio Massa? Especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira respondem.
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Antes, vale lembrar que alguns projetos, como a dolarização da economia argentina, de Milei, já têm impactado o desempenho da moeda.
Argentina vai seguir barata para o brasileiro?
Para o economista argentino Roberto Luis Troster, “a Argentina vai continuar barata durante um tempo, seja eleito Massa ou Milei”. E isso não apenas para turismo, mas também para empreendimentos, segundo Welber Barral, sócio da BMJ Consultores, empresa especializada em comércio internacional e relações governamentais.
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“Temos trabalhado na Argentina com muitos investidores brasileiros, que, inclusive, estão olhando para oportunidades futuras. A grande verdade é que os ativos estão baratos e há muitas oportunidades, principalmente nas áreas de energia (com lítio e gás), construção e varejo”, avalia Barral.
Vale a pena comprar pesos argentinos agora?
Mas, devido às incertezas por conta das eleições na Argentina e discrepâncias entre os dois programas, Paulo Feldmann, professor da FIA Business, é mais cauteloso e coloca isso na conta das incertezas eleitorais, afirmando ser “arriscado” apostar contra ou a favor do peso neste momento.
“A situação na Argentina muda completamente, dependendo de quem for eleito dia 19. Não convém confiar em nada neste momento”, alerta.
O que Massa e Milei propõem para o peso
Os especialistas apontam grandes discrepâncias entre os programas de Sergio Massa e Javier Milei. Conheça cada um dos programas dos candidatos. Alguns aspectos podem ser bastante relevantes para o peso argentino.
Segundo Troster, “se o Massa vencer, o mais razoável, no curto prazo, é o que a gente chama de uma reversão à média” no valor do peso depois de uma grande depreciação nos últimos meses.
No caso de Milei eleito, Troster diz que, “em vez de uma conversão à média, deve haver um processo de desvalorização do peso”, que pode ser acentuado se o radicalismo de Milei na eleição for confirmado enquanto presidente.
Para Barral, da BMJ Consultores, ainda que Milei desista de sua ideia de dolarizar a Argentina, acabando com o peso e colocando a moeda norte-americana no lugar, pode haver, em um eventual governo do candidato ultraliberal, um ritmo acelerado de mudança no câmbio.
“Milei propõe um choque, e o Massa, uma transição mais lenta, até que o (peso) oficial alcance o paralelo. O choque muito rápido teria um impacto inflacionário muito grande. E é isso que Massa tenta evitar”, acrescenta.
Quanto vale o peso argentino?
Na tarde desta sexta-feira (17), R$ 1 valia 72,34 pesos argentinos. A conversão de peso para real tinha a relação de um peso argentino para R$ 0,013.
Na comparação com o dólar, US$ 1 valia 354,02 pesos argentinos. Por outro lado, o peso argentino estava cotado a US$ 0,028.
Por que o peso argentino caiu tanto?
O peso tem sofrido uma grande desvalorização, segundo Feldmann, “principalmente devido à falta de confiança dos argentinos no futuro do país, o que os leva a achar que os preços vão sempre subir”, diz.
Para Feldmann, o futuro presidente terá como principal tarefa para contenção da desvalorização da moeda “passar uma imagem de que o país vai entrar no eixo”. E, nesse sentido, ele avalia a proposta de Milei para dolarização da economia argentina como “péssima”.
“Os casos de dolarização só aconteceram em países bem pequenos e raramente funcionaram bem. Um país que renuncia à sua moeda não tem como definir uma política econômica. Seria um desastre”, critica.
Por outro lado, ele enxerga a proposta de Massa, de fazer um plano estratégico de longo prazo envolvendo todos os setores, como a estratégia que faltou até agora ao país. “Além disso, Massa aposta na integração comercial da América do Sul, o que poderá ser bom também para o Brasil”, avalia.
Dolarizar é possível?
Para Troster, o que Milei propõe é “inviável”. “Para dolarizar, seria preciso o óbvio, ter dólares. E a Argentina hoje não tem. Além disso, o peso ainda tem um papel importante, e você pode ter uma crise de liquidez caso abra mão da moeda”, destaca.
O especialista diz que as trocas de moeda nesses parâmetros tendem a acabar em grandes recessões porque há uma perda da referência de preços. No caso da Argentina, abrir mão do peso seria abrir mão de uma matriz de preços até que o dólar ganhasse confiança como medida de valor no país.
O que é dólar blue
Para Barral, da BMJ Consultores, “a grande questão hoje é a diferença entre o peso oficial e o paralelo, que está três vezes mais desvalorizado. “Uma diferença muito grande. E ambos os candidatos dizem que vão corrigir isso, que chamam de brecha cambiária”, diz Barral.
Assim, o peso paralelo convive com o dólar paralelo, chamado de dólar blue, que estava cotado a 400 pesos em abril. Na sexta, pré-eleição, o dólar blue bateu 950 pesos argentinos, segundo informações do Estadão Broadcast. Anteriormente, em outubro, o dólar blue estava em 850 pesos argentinos. Isso dá uma ideia da velocidade da desvalorização do peso no mercado informal.
Existem mais de 15 tipos de dólar na Argentina, sendo o “blue” o mais famoso. Em algumas das ruas mais famosas de Buenos Aires é possível encontrar, com facilidade, pessoas, chamadas de “arbolitos”, que negociam dólares no mercado paralelo. Apesar de o mercado ser informal, ele é legal.
É possível devolver poder de compra ao peso?
Troster diz que a proposta de ajuste fiscal de Massa apresentada durante as eleições na Argentina é essencial para a retomada do peso a patamares pré-crise. Diminuir o déficit fiscal significará diminuir a pressão sobre preços e, consequentemente, dar valor maior à moeda argentina. “A grande questão é se ele consegue fazer, e como será feito”, alerta.
O economista diz que, atualmente, a política econômica de subsídios do país ajuda a desvalorizar a moeda local. A Argentina conta com subsídios, como o de energia para classes mais baixas, que colocam à prova a saúde fiscal do país, segundo Troster.
“Há muito desperdício de energia, por exemplo, e, com o déficit energético, o país precisa importar”, o que aumenta os gastos públicos e a instabilidade da moeda. “Seria mais fácil manter o preço para economizar, e não subsidiar”, alerta.
“Essas e outras ineficiências ele vai ter que corrigir depois das eleições na Argentina, caso ganhe”, acrescenta.
Quando o peso começará a ser afetado?
Para Troster, os efeitos poderão ser vistos já na segunda-feira pós-pleito, no dia 20 de novembro.
“Na sexta, você vai ter um preço e, na segunda, ganhando o Massa, o dólar deve cair. Se o Milei ganhar, o dólar deve disparar”, declara Troster.
O que vai acontecer com o peso argentino no longo prazo?
O economista diz não acreditar que Milei leve a cabo sua ideia de dolarização total da economia se vencer as eleições na Argentina. Assim, é de se esperar uma política bicambial ao longo do tempo, tanto no caso de eleito Milei quanto de Massa. Ou seja, a convivência entre dólar e peso.
Barral concorda que é razoável considerar que, tanto no caso de Milei quanto de Massa, o que deve haver é um sistema bimonetário. “Os argentinos utilizam muito o dólar como reserva de valor, inclusive, com contas em dólar na Argentina. Enquanto isso, o cotidiano se baseia em peso, que é muito variável e está perdendo valor”, diz.
De todo modo, para Troster, no médio prazo, um ou outro que for eleito deve conseguir uma estabilidade do peso. Porém, isso vai depender do ajuste econômico que farão, do apoio do FMI, da safra argentina, que teve quebra neste ano e ajudou a reduzir o valor do peso, entre outros fatores políticos e macroeconômicos.