Campos Neto: é preciso de choque fiscal para baixar juros de maneira duradoura

'Toda vez que o Brasil conseguiu cortar os juros nos últimos anos e mantê-los baixos por algum tempo, tivemos medidas fiscais que permitiram isso', apontou o presidente do BC

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Para que o Brasil consiga conviver com taxas de juros mais baixas de maneira duradoura, é preciso que haja algum tipo de choque fiscal positivo, disse Roberto Campos Neto.

Em evento organizado pelo 20-20 Investment Association, o presidente do Banco Central, voltou a relacionar períodos na história recente do Brasil no qual houve uma melhora na percepção fiscal por parte dos agentes de mercado com períodos em que os juros puderam cair de forma mais consistente.

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“Toda vez que o Brasil conseguiu cortar os juros nos últimos anos e mantê-los baixos por algum tempo, tivemos medidas fiscais que permitiram isso”.

Ele lembrou, por exemplo, do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que o governo foi capaz de entregar superávits fiscais consecutivos.

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E também da aprovação do teto de gastos durante o governo do ex-presidente Michel Temer.

Falta de confiança do mercado no arcabouço

Atualmente, segundo Campos Neto, há uma falta de confiança em parte do mercado que o arcabouço fiscal conseguirá entregar suas promessas.

“Está ficando claro que se o Brasil quiser ter juros baixos de modo estrutural, precisa criar algum tipo de choque fiscal positivo em algum ponto do tempo”, disse.

Campos Neto apontou, ainda, que o noticiário tratava hoje de medidas de reforma administrativa e que “há expectativas que, depois das eleições, iremos ver algumas medidas”.

“Isso é muito importante para nós, no Banco Central, para que possamos reduzir os juros de maneira sustentável”, apontou Campos Neto.

“Porque nossa missão é entregar a meta de inflação e é muito difícil fazer isso quando não há perspectiva de que o fiscal está ancorado”.

Inflação com sinais de estagnação

Campos Neto ainda avaliou que a inflação vinha convergindo no Brasil, mas deu sinais de estagnação recentemente.

“Começamos a ver alguns sinais de desancoragem da inflação, vindo das pesquisas de mercado, das companhias e da inflação implícita”.

“A situação do mercado de trabalho nos diz que precisamos ter muita atenção com a inflação de serviços”.

“Precisamos ter certeza que a inflação convirja e por isso decidimos no Brasil que os juros precisavam voltar a subir”.

“A meta é definida pelo governo e nosso papel é perseguir a meta de inflação”, afirmou o presidente do BC.

Condições financeiras não tão apertadas

Campos Neto também chamou a atenção para o fato de os juros estarem muito altos no Brasil, mas as condições financeiras não terem se mostrado tão apertadas.

Segundo ele, isso é uma questão que ocorre em todo o mundo. “O fiscal explica apenas parte disso”, apontou.

O dirigente afirmou que há boas notícias do crescimento no Brasil, que vem surpreendendo há bastante tempo e que parte disso se dá pela parte estrutural.

Isso se deve às reformas feitas nos últimos anos, que se refletem também no forte desempenho do mercado de trabalho.

Por outro lado, existe algum temor, segundo Campos Neto, que outra parte deste crescimento mais forte também se dê por conta da expansão fiscal ocorrida recentemente.

Com informações do Valor Econômico

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