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Como montar uma carteira de dividendos: confira ações conservadoras e ‘trunfos’
Empresas citadas na reportagem:
O mercado de ações ganha um novo fôlego com a queda da Selic, com oportunidades para empresas diminuírem passivos e, por outro lado, expandirem dividendos. Para montar uma carteira de dividendos com ativos negociados na bolsa, o investidor pode apostar em setores mais resilientes ou em empresas que ainda têm a bater seu teto na bolsa.
Analistas destacam setores mais defensivos, obviamente. Energia, saneamento e seguros são escolhas que podem recompensar o acionista mês a mês pela distribuição de dividendos ou consistência de desempenho. Mas há alguns trunfos na manga na tese de crescimento e expansão.
Qual a carteira de dividendos ideal para o investidor?
As carteiras de ações focadas em renda passiva via dividendos ou rendimentos consistentes são para o longo prazo. A visão do mercado é de que não há mesada fácil e sem riscos.
Na bolsa de valores, papéis de empresas do setor financeiro, como bancos, costumam manter um bom desempenho mesmo em ciclos de alta de juros. Além dos principais bancos negociados na B3, as companhias elétricas, de saneamento básico e de telecomunicações também são porto-seguros do investidor em dividendos. Esta é a avaliação de Pedro Marcatto, operador de renda variável da B.Side.
Para o operador, as empresas mais consolidadas na bolsa são uma boa posta que fazem parte da tese de “value investing”. Em comum, todas as companhias são “bem maturadas e têm geração de caixa mais expressiva”.
“São empresas conhecidas como cash cows, de lucratividade relevante para distribuir aos acionistas. Essas não dependem de ciclos como as varejistas, e utilizam mais o fluxo de caixa ou para aquisições ou para remuneração”, acrescenta Marcatto.
Para quem é iniciante no mercado de ações, o sócio da Nord Research, Guilherme Tiglia, defende uma carteira pequena, com poucas ações focadas em dividendos. Para o especialista, o mandamento do investidor iniciante é reinvestir os proventos nas ações.
“À medida do tempo, o investidor conhece mais as estratégias de mercado e pode ampliar a diversificação de ações”, afirma.
BB Seguridade (BBSE3) , Telefônica Brasil (VIVT3) e mais
Segundo Tiglia, boas ações para construir uma carteira focada em dividendos são:
Para a BB Seguridade, o sócio da Nord explica que o retorno sobre investimentos em equity (ROE) é de 80 vezes, além de possuir “uma operação com bom balanço de emissão de prêmios e sinistralidade”.
A seguradora vinculada ao Banco do Brasil também tem histórico de distribuir dividendos. O último repasse, nesta segunda-feira, remunerou R$ 1,67 por ação, ao total de R$ 3,2 milhões.
Ao justificar as escolhas para CTEEP e Telefônica, Tiglia afirma que são empresas que, mesmo com os juros altos, prestam serviços essenciais e estão menos expostas à volatilidade da economia.
“O setor de transmissão acaba sendo um caso a parte. Isso porque as concessionárias são remuneradas pela disponibilidade da linha de energia, independe o quanto de demanda está passando por ali. É uma receita dada e prevista após a correção pelo IPCA”, explica o especialista.
A analista de investimentos Bruna Sene, da Nova Futura, destaca outras ações do setor elétrico:
A analista informa que as ações listadas das companhias elétricas – tanto de distribuição quanto transmissão – têm uma volatilidade menor do que o mercado. Ou seja, o beta dessas concessionárias, indicador que mede o quanto uma ação pode disparar ou recuar na bolsa de valores, é inferior à marca do Ibovespa, de 1.
- Isa CTEEP (TRPL4): beta de 0,34
- Taesa (TAEE11): beta de 0,20
- Copel (CLPE3; CPLE6): beta de 0,41
- Cemig (CMIG4): beta de 0,53
Bruna destaca, por fim, ações preferenciais de Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) , além dos papéis ordinários de Banco do Brasil (BBAS3). Esta tem um beta de 0,56, enquanto as primeiras duas tem índices de volatilidade de 0,42 e 0,52, respectivamente.
Trunfos na carteira de dividendos
As empresas mais estáveis, apesar de serem boas garantias de menor risco, tem menos espaço para crescimento e projetos de expansão, concordam analistas.
A queda “contratada” da Selic pode contribuir para a valorização do fluxo de caixa das empresas. Sobretudo, é um desconto nos custos de financiamento corporativo, melhorando a perspectiva de lucro e crescimento, afirma Bruna Sene, da Nova Futura.
Nesse sentido, o analista da Ouro Preto Investimentos, Sidney Lima, destaca ações do setor de mineração com bons históricos de dividendos. Na carteira de dividendos do especialistas, entram as ações ordinárias da CSN Mineração (CMIN3) e preferenciais de Bradespar (BRAP4).
A escolha pela CSN na carteira de dividendos se justifica pelo valor patrimonial em relação ao preço das ações negociadas na bolsa. O negócio está “barato e, como várias outras empresas de siderurgia e mineração, tem possibilidade de valorização”, indica Sidney.
“Essas empresas do setor têm recorrência da distribuição de dividendos. Soma-se a isso a possível valorização das ações com uma sinalização de recuperação da economia chinesa”. Com uma desaceleração do país asiático, Sidney indica os papéis de Bradespar porque a holding pode aproveitar um repique da Vale e do minério de ferro.
Mesmo assim, aponta Pedro Marcatto, da B.Side, a Vale tem um bom histórico como pagadora de dividendos.
Suzano (SUZB3), Klabin (KLBN11) e Irani (RANI3)
Para analisar se a companhia pode expandir sua receita líquida e, portanto, seus dividendos, Marcatto frisa que o investidor deve prestar atenção no custo de operação, ou capex, e no fluxo de caixa da empresa. Quanto mais consistente o caixa, maior a chance de pagar proventos de forma recorrente.
“No setor de agronegócio você consegue identificar empresas boas pagadoras de dividendos, por mais que tenha ciclicidade das commodities.”
Outro setor é o de celulose. Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11) são casos de solidez no mercado, mas a Irani (RANI3) também pode surpreender pelos dividendos.
“São empresas com boa relação de dividend yield”, diz Marcatto. Para ele, a Klabin tem oportunidade de expandir a receita. A companhia está em vias de concluir o complexo industrial Puma II, cujo efeito na produção de papéis embalagens será um acréscimo de 460 mil unidades por dia.
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