Conflito entre Rússia e Ucrânia pode beneficiar América Latina, diz Larry Fink
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A reorganização das cadeias de suprimentos decorrente do conflito entre Rússia e Ucrânia pode beneficiar países da América Latina, segundo o CEO da BlackRock, Larry Fink. Em conferência virtual para clientes da região, o executivo afirmou que o abalo da guerra e o choque de preços em energia e alimentos soaram o alerta para que empresas e governos reavaliem suas condições de dependência para buscar soluções que atenuem o peso de um único país como responsável por 60% a 70% do fornecimento de determinado bem.
“Isso é importante para a América Latina. Se Brasil, México e Colômbia, os países da região, se focarem em dizer ‘estamos abertos para negócios’, vamos ver mais empresas se aproximando ou se afastando em termos de investimentos em relação à demanda”, afirmou Fink. “O México, pela proximidade com os Estados Unidos, é o grande beneficiário se trabalhar para a execução de tal objetivo.” Nesse jogo que vai remodelar o mundo, haverá uma reavaliação de quais serão os grandes ganhadores e perdedores.
A sua sugestão é que mais empresas se concentrem na redundância das cadeias de suprimentos. No primeiro momento, as economias vão se confrontar ainda com pressões inflacionárias, mas Fink ponderou que esse efeito será reduzido em cinco ou seis anos, quando houver aumento da capacidade produtiva. “Os US$ 110, US$ 120 correspondentes aos preços de energia vão acelerar a descarbonização.”
Para o líder da gigante americana, o descompasso entre o custo de US$ 5 para Estados Unidos e US$ 35 para Alemanha pelo gás natural desenha uma rota muito potente para a descarbonização do país europeu. “À medida que a Europa tentar encontrar um equilíbrio em relação à Rússia para construir uma cadeia de suprimentos e melhorar sua defesa, vamos ver mais estímulos fiscais que vão contribuir para a estabilidade do mundo e nos outorgar alicerces para que o mundo não passe por uma recessão profunda.” Para o executivo, se isso ocorrer, será fenômeno de curta duração.
Fink comentou ainda que muitos governos veem demandas para a transição para uma economia verde, mas não sabem o que fazer. “A Europa é a região mais avançada em sustentabilidade, mas não criou um caminho certo para a questão do aumento dos preços de energia. Isso vai drenando o quadro fiscal dos países, com subsídios.”
Como tem destacado nas cartas aos principais representantes das empresas nos últimos três anos, a mudança não será em linha reta, vai ser em várias curvas. “Os políticos, muitas vezes, não conseguem pensar para além do que acontece hoje.”
Fink lembrou que os países membros da Opep anunciaram há algumas semanas a produção de mais 1 milhão de barris de petróleo, que vai representar investimentos adicionais de US$ 20 bilhões a US$ 50 bilhões, e que os Estados Unidos estão replicando a estratégia com aumentos dos investimentos anuais para manter os planos de suprimento. Mas com a demanda mundial por hidrocarbonetos subindo e o crescimento das economias, os preços vão aumentar e acelerar a substituição. “O caminho da sustentabilidade é real”, comentou.
O cuidado é que, na América Latina e em outras regiões do mundo, a transição para uma economia mais limpa seja justa, pois o aumento de preços acaba impactando a população dos países mais pobres.
Ele citou que em economias como México, Brasil e mesmo nos EUA, embora em proporções distintas, os gastos com energia e alimentos das famílias têm subido drasticamente. “Por isso, acredito firmemente que a transição vai acontecer, com investimentos paralelos em hidrocarbonetos, em tecnologias mais descarbonizadas.”
Ao fim da sua exposição, Fink ainda falou sobre a evolução do capitalismo de “stakeholders”, de partes interessadas, conceito que extrapola a antiga máxima de que o compromisso das empresas era remunerar os acionistas e que agora abrange clientes, fornecedores e comunidade.
A saída das companhias privadas da Rússia, quando o país iniciou a ação militar na Ucrânia, a velocidade com que isso foi feito, foi o maior exemplo desse movimento. “Os conselhos diretivos das empresas não tinham mais como justificar fazer negócios nesses países e chamaram a atenção de todos os governos do mundo.” É algo que vai ter consequências no desempenho das empresas no primeiro trimestre, mas Fink acha que as companhias que têm seguido o desejo de seus consumidores, empregados e sociedade vão ser mais lucrativas.
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