Debêntures disparam após restrições em CRIs e CRAs
Para a equipe de estratégia em renda fixa do Itaú BBA, queda na rentabilidade média desses papéis deve exigir análise mais criteriosa dos investidores
As debêntures incentivadas ganharam tração desde fevereiro, na esteira de mudanças que restringiram as emissões de outros títulos isentos de Imposto de Renda.
Segundo levantamento do Itaú BBA, com base em dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os pedidos de registro para novas emissões desses papéis atingiram R$ 14,8 bilhões em fevereiro e R$ 7,8 bilhões na primeira quinzena de março.
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Para efeito de comparação, a média mensal tinha sido de R$ 5,4 bilhões em 2023.
Em número de operações, a média mensal mais do que dobrou, de seis em 2023 para 13 neste ano.
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Simultaneamente, as debêntures tradicionais, sem isenção de IR, também aceleraram.
Assim, foram R$ 20,8 bilhões em pedidos de emissões em fevereiro e R$ 27,3 bilhões só na primeira metade de março.
Dessa forma, isso se compara com R$ 15,2 bilhões na média mensal no semestre anterior. Em número de operações, a média subiu de 24 no ano passado para 32.
Segundo a equipe de estratégia em renda fixa do Itaú BBA, a queda nas taxas foi a maior motivação para acelerar as emissões.
Pelos cálculos do time liderado por Ciro Matuo, a rentabilidade oferecida aos investidores nos títulos incentivados caiu em média de 0,3 a 0,4 ponto percentual desde janeiro.
CRIs e CRAs encolhem
Foi no mês passado que o Conselho Monetário Nacional (CMN) restringiu as emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).
Esses produtos ganharam popularidade entre investidores de varejo nos últimos dois anos por combinarem isenção de IR, liquidez e rentabilidade.
Dessa maneira, mesmo após o Banco Central ter iniciado um ciclo de cortes da Selic, em agosto passado, o ritmo se manteve.
A partir das medidas do CMN, entretanto, a velocidade diminuiu.
Sem um entendimento claro do mercado sobre a dimensão das restrições as emissores caíram.
Os pedidos de novos CRAs, que tiveram média de 16 por mês no ano passado, caíram para 10 em fevereiro e para quatro nos primeiros 15 dias de março.
No caso dos CRIs, houve concentração de emissões a partir de agosto passado, com 44 por mês, caindo para 32 em fevereiro e 13 nos primeiros 15 dias deste mês.
Debêntures é o novo CRI/CRA?
Apesar de as debêntures ganharem força enquanto CRIs e CRAs perdem espaço, Matuo entende que até agora não há evidências de migração entre os incentivados.
Segundo o relatório, a maioria das emissões de debêntures é composta por empresas que já são emissoras frequentes deste instrumento.
“Elas estão seguindo em frente com estas operações mais pelo barateamento de seu custo e menos por conta da dificuldade de emissão de CRAs e CRIs”, considerou.
Segundo a equipe do BBA, após o CMN ter esclarecido dúvidas no começo deste mês, há indícios de retomada dessas operações.
Como fica para o investidor?
Segundo o estrategista, com a restrição do número de emissores, o investidor deve ficar atento antes de investir em novos incentivados.
Isso porque, com a queda na rentabilidade oferecida, o prêmio médio ofertado pelos papéis isentos ficou mais próximo de títulos do governo, considerados mais seguros.
Dessa maneira, em alguns casos, pela classificação de risco do emissor, haveria justificativa para o investidor cobrar uma rentabilidade maior, considerou.