No mercado de juros, a curva passou a precificar a Selic em torno de 13,75% no fim do atual ciclo de aperto e entre 13% e 13,25% no fim de 2022
Embora a alta dos juros de curto prazo tenha sido mais expressiva, as taxas longas também se ajustaram em alta no pregão de ontem, em reação ao cenário ainda bastante incerto
A taxa do DI para janeiro de 2027, por exemplo, subiu de 11,83% para 11,96%
Os sinais de piora no cenário inflacionário à frente deram aval a apostas ainda mais agressivas, no mercado, quanto aos rumos da política monetária. A desancoragem das expectativas de inflação de 2022 – que já encostam no teto da meta – assustou os agentes e gerou uma nova disparada dos juros de curto prazo. A taxa do DI para janeiro de 2023 saltou de 12,045% na sexta-feira para 12,34% ontem.
Assim, no mercado de juros, a curva passou a precificar a Selic em torno de 13,75% no fim do atual ciclo de aperto e entre 13% e 13,25% no fim de 2022, nos cálculos do estrategista-chefe da Renascença DTVM, Sérgio Goldenstein.
Já em relação à reunião de dezembro do Comitê de Política Monetária (Copom), ganhou força um cenário em que o colegiado é ainda mais agressivo. No mercado de opções digitais, na B3, a probabilidade de uma elevação de 1,5 ponto na Selic em dezembro, que em 19 de novembro estava em 60%, encerrou o pregão de ontem em 47%. A chance de um aumento de 1,75 ponto ficou em 20%, enquanto a possibilidade de elevação de 2 pontos encerrou o pregão em 25,9%.
“A piora foi muito expressiva. O número de 2022 já ter encostado no teto com mais de um ano de antecedência e os outros anos desancorando dão um sinal bem forte para o Banco Central”, avalia Patricia Pereira, estrategista-chefe da MAG Investimentos.
O cenário-base da gestora, inclusive, contempla três elevações de 1,5 ponto na Selic, o que levaria a taxa para 12,25% no fim do ciclo de aperto, que se daria em março. “E, cada vez mais, eu não consigo imaginar uma diminuição do ritmo. As expectativas estão indo embora e, de certo modo, a credibilidade do BC também. As coisas teriam que melhorar muito para reverter esse cenário e, hoje, eu não consigo ver essa melhora. O viés é fazer mais”, afirma Pereira.
Na última sexta-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já havia indicado preocupação com o avanço das expectativas de inflação. Ele afirmou que a autoridade monetária tem buscado ser proativa no processo de aperto monetário, mas notou que as expectativas de 2022 “estão saindo um pouco da meta” e que esse movimento de piora tem acelerado. No Focus divulgado ontem, a mediana das expectativas para o IPCA de 2022 atingiu 4,96%, nível próximo ao do teto da meta (5%).
E é justamente a disparada das expectativas de inflação para o próximo ano que tem feito o juro real abandonar as máximas em quase cinco anos. Cálculos do Valor Data a partir do swap de juro de 360 dias e das expectativas para o IPCA em um ano mostram que o juro real ex-ante chegou a 6,71% no fim de outubro. Na semana passada, a taxa ficou em 6,04%, em um momento no qual as projeções de inflação subiram de forma consistente.
“Quando levamos em consideração fatores como inércia maior, moeda mais fraca e expectativas de inflação ainda não dominadas, chegamos à conclusão de que a atual onda inflacionária de dois dígitos pode durar pelo menos nove meses consecutivos”, afirmam os economistas Mauricio Une e Gabriel Santos, do Rabobank. Nos cálculos dos profissionais, a inflação irá convergir “lentamente” para 4,9% no fim de 2022 e só voltará ao centro da meta em 2023.
O Rabobank também elevou sua projeção para a Selic e passou a esperar que o juro básico termine o atual ciclo em 11,75%. “Para evitar que a inflação corrente contamine as expectativas de inflação, o Copom terá de manter a taxa Selic nesses níveis elevados”, apontam Une e Santos. Eles acreditam que o Copom poderá começar a reduzir o juro básico no quarto trimestre de 2022, até a taxa atingir 7,5%, no fim de 2023.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, projeta um caminho mais agressivo à frente para o juro básico. Em nota, ele aponta que as expectativas de inflação “começam a refletir a perda relativa do grau de credibilidade da autoridade no tocante ao regime de metas, uma vez que horizontes longos começam a subir e o curto permanece estável, mesmo com inflação fora da meta nos anos relevantes”.
Para Sanchez, o cenário de desancoragem das expectativas reforça a perspectiva de que um aperto ainda mais agressivo da Selic pode ser necessário em dezembro. Assim, a Ativa mantém a expectativa de que o juro básico será elevado em 2 pontos percentuais no mês que vem e terminará 2021 em 9,75%, chegando a 13,25% no fim do atual ciclo de aperto monetário.
Embora a alta dos juros de curto prazo tenha sido mais expressiva, as taxas longas também se ajustaram em alta no pregão de ontem, em reação ao cenário ainda bastante incerto para o andamento da PEC dos Precatórios no Senado. A taxa do DI para janeiro de 2027, por exemplo, subiu de 11,83% para 11,96%.
“Temos já há algum tempo argumentado que as incertezas quanto ao processo de consolidação fiscal permanecem altas. Sendo assim, apesar de uma aparente melhora recente, acreditávamos que a tendência continuaria sendo de construção do prêmio de risco”, observam os profissionais do Santander em relatório semanal, ao comentarem sobre a dinâmica da curva de juros na semana passada.