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Dinheiro no TikTok: um jeito diferente de olhar para as finanças
Muitos acreditam que a atual geração seria, pela primeira vez, a de filhos cujo QI é inferior ao dos pais. Quando psicólogo americano James R. Flynn verificou a tendência de crescimento constante do índice de testes de QI na humanidade. Porém, ele não contava com a astúcia das redes sociais para destruir nosso foco e concentração.
A partir daí, o francês Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França escreveu o livro “A fábrica de cretinos digitais”. A obra (cuja capa você vê logo abaixo) relata como o “efeito Flynn” vem se corroendo naqueles que são “nativos digitais”. Ou seja, jovens que nasceram dominando a internet, o computador e o celular.
Dinheiro no TikTok
Não é incomum se referir ao aplicativo TikTok como sinônimo da Geração Z. E, se você não acompanhou, uma certa tendência viral do TikTok seria, à primeira vista, mais um indício da percepção negativa de Desmurget sobre a Geração Z.
Dessa forma, o nome da tendência é “girl math” e chegou no Brasil com a tradução de “matemática das garotas”. Apesar de o termo fazer alusão a um comportamento feminino relacionado ao dinheiro, este comportamento não é exclusivo de mulheres.
Em resumo, os jovens estão dividindo no TikTok suas teorias relacionadas aos gastos financeiros. Inclusive falar sobre dinheiro no TikTok vem se tornando mais comum.
O curioso é que os vídeos não permeiam o nicho de educação financeira e adjacências. São, na verdade, um compilado de escolhas financeiras que não fazem tanto sentido e por isso estão melhor categorizadas no nicho do “humor”, de tão curiosas que são. Sim, eles falam de dinheiro no TikTok. Mas não do jeito mais aprofundado. Deixo aqui alguns exemplos – e adianto que não os leve tão a sério:
- Você está perdendo dinheiro se não gastar o suficiente para se qualificar para frete grátis;
- Se devolver uma compra numa loja e a loja estornar o dinheiro no formato de vale-compras, você está ganhando dinheiro grátis para gastar na loja;
- Quando eu compro ingressos do cinema para meu grupo de amigos e eles me pagam a parte deles, eu fiz dinheiro;
- Porém, toda vez que eu pago uma compra em dinheiro vivo e não vejo nada sair da conta corrente ou do cartão de crédito, logo essa compra me custou nada.
Jovens têm menos contato com papel moeda
Precisamos levar em consideração que determinados pontos relatados são resultado de muito estudo de marketing e vendas para influenciar a tomada de decisões, tal como o exemplo do frete grátis.
Quando recebemos um cashback, a ideia das empresas é realmente dar a sensação ao cliente de que aquele é um dinheiro extra. Dissociando do seu dinheiro original e estimulando novas compras.
Para além do óbvio, a nova trend do TikTok me fez pensar sobre o caráter palpável do dinheiro.
Os jovens têm menos contato com as cédulas de papel, logo, é difícil associar as planilhas financeiras, aplicativos e a carteira de investimentos com o que está na carteira tradicional, aquela que levamos no bolso.
Muitos tratamentos para pessoas com compulsão em compras recomendam o uso do dinheiro físico para visualização o impacto financeiro de um gasto.
Pois seria mais significativo entregar um bolo de notas do que aproximar o celular numa maquininha.
Modernização dos meios de pagamento
É sempre recomendável não guardar dinheiro embaixo do colchão para não corroer o poder de compra pela inflação.
Portanto, não há atratividade para transacionar o dinheiro como nos velhos tempos.
Do ponto de vista das nossas instituições, além da tarefa de manter uma moeda estável (controlando a inflação), também é de responsabilidade do Banco Central garantir um sistema de pagamentos no país que seja resiliente, fiável e diversificado.
Por isso vimos o BC trabalhando na evolução tecnológica do Pix, em 2018. Nem parece que foi há poucos anos que usávamos TED e DOC, pagando pela transferência, que só acontecia em horário comercial.
O Pix já mudou a nossa forma de nos relacionarmos. Ele trouxe mais modernidade e a inclusão financeira para milhares de brasileiros que não tinham contato com o sistema bancário.
Do Pix ao Drex
Com todas as lições do Pix nos últimos anos, os bancos centrais vêm trabalhando em outra modernização. O trabalho agora vai ser de consolidar no dia-a-dia da sociedade o CBDC – que é a sigla em inglês para Central Bank Digital Currency, ou moeda digital do banco central.
A maioria dos BC ao redor do mundo concebe um CBDC como um complemento, que poderia oferecer novas oportunidades ao público numa era de pagamentos digitais.
Aqui no Brasil, recentemente, tivemos o anúncio do Drex, moeda digital brasileira do Banco Central do Brasil, utilizada como a versão digital do real brasileiro.
No Pix você transfere dinheiro. No Drex, você pode ter a segurança de, por exemplo, vender seu carro e, só transferir a titularidade do veículo para o novo dono no momento em que o comprador depositar o dinheiro na sua conta. Porque essas duas operações agora estarão condicionadas.
O que isso tem a ver com o girl math?
Explico. Vemos aqui que as gerações mais jovens não estão lidando superficialmente com a matemática. E isso é visto quando se fala de dinheiro no TikTok.
A verdade é que os jovens parecem estar tão intrinsecamente ligados à vida digital, que o dinheiro do mundo real deixou de fazer parte da realidade.
Na contramão das tradicionais terapias para a compulsão por compras, as soluções digitais que englobam as finanças pessoais são as que melhor traduzem a vida adulta ao jovens. Assim, eles teriam um controle mais racional das suas finanças.
Disponibilizar novas soluções mais modernas, como o Pix e o Drex para uma geração que está mais aberta a recebê-las, certamente dará ao Banco Central um case de sucesso a ser replicado pelos demais países.
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