Disco de vinil entra na cesta de inflação do Reino Unido. E não é mero acaso ou capricho
Entenda a justificativa do The Office for National Statistics e um pouco do panorama no Brasil
“O preço da capa do disco eu consigo fazer com desconto se você pagar via Pix”.
A frase foi dita por um vendedor de discos em uma feira de vinil que ocorreu na Lapa, zona oeste de São Paulo, no último domingo (10).
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No andar de cima de um restaurante simples por quilo, com uma vidraça grande, que mostrava a rua Clélia ensolarada, vendedores de diferentes lojas mostravam seus produtos.
Se não eram numerosos por volta das 10h da manhã, os compradores formavam um grupo suficiente para entender que havia algo ali.
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“Só para te informar que teu pedido foi enviado (emoji de mãozinhas levantas em direção ao céu)”.
O vendedor de uma loja virtual informa que a encomenda está a caminho. É um disco de vinil novo, comprado pela internet, após o consumidor ter sido impactado pelo Instagram.
Disco de vinil e a inflação
“Este ano, discos de vinil retornaram para a cesta (de bens e serviços) após o ressurgimento de sua popularidade. Está não é a primeira vez que o vinil está na cesta de produtos; nós o vimos pela última vez em 1992, para depois desaparecer à medida que os CDs e cassetes (fitas) se tornaram mais populares”.
A afirmação está em comunicado emitido pelo The Office for National Statistics.
Ele informa quais são os novos produtos que entram e saem da cesta de bens e serviços acompanhados pelo escritório.
Assim, foram adicionados, além dos discos de vinil, 15 outros itens.
E 15 itens deixaram a lista neste ano.
Air fryer entra; sofá-cama sai
Então, a lista de produtos que entram e saem do computo de inflação tem algumas curiosidades.
Assim, foi incluída na lista o produto air fryer. “Este produto popular rapidamente aumentou a despesa nos anos recentes”, descreve o documento.
Por outro lado, o sofá-cama sai da lista. “Este item deixa a cesta refletindo uma queda na popularidade”.
Assim, o produto conhecido no idioma inglês como hand sanitiser, aqui no Brasil chamado de álcool em gel, também deixou a lista.
A justificativa é a de que os coletores de preços notaram vasta redução da oferta desse produto desde a pandemia.
Esforço para manter a casa em ordem
A revisão dos itens que compõe a cesta de preços monitorados pelo governo inglês, apesar de ser periódica, vem num momento em que o Banco Central da Inglaterra (BoE) se esforça para manter a escalada de preços sob controle.
A inflação da Inglaterra, de 4% em janeiro, ainda está significativamente acima da meta do BoE.
O custo de vida aumentou acentuadamente em todo o Reino Unido durante 2021 e 2022. A taxa anual de inflação atingiu 11,1% em outubro de 2022, o máximo em 41 anos, antes de diminuir posteriormente.
Ao mesmo tempo, o país vive praticamente em pleno emprego.
Ou seja, enquanto os preços sobem, as pessoas estão empregadas e, portanto, o consumo segue acelerado.
Daí a preocupação com uma espiral inflacionária ascendente.
Como resposta, o BoE, tal como o Fed (banco central dos Estados Unidos) e outros bancos centrais em todo o mundo, aumentou agressivamente as taxas de juro para conter aumentos de preços.
Atualmente os juros básicos da Inglaterra são de 5,25% ao ano – e segundo as declarações mais recentes do presidente do BoE, Andrew Bailey, um corte no custo do dinheiro ainda em 2024, talvez não venha tão cedo, como os investidores esperam.
“Alguns itens são retirados da cesta, alguns são incorporados e outros permanecem inalterados. Essa atualização anual reflete mudanças nos gostos e hábitos dos consumidores e mantém a precisão e a relevância de nossas estimativas de inflação”, complementa o comunicado do The Office.
Assim, a mudança com base estatística no Reino Unido sobre vinil já é pelo menos uma percepção no Brasil.
Discos de vinil: preço do hobby é caro
Dessa forma, por aqui, se avolumam vendedores online, as feiras de vinil parecem cada vez mais frequentes e há muitas lojas físicas espalhadas por São Paulo vendendo discos de vinil. Novos e usados.
Disconcert em Perdizes, Eric Discos em Pinheiros, Casarão do Vinil na Mooca. São apenas algumas lojas.
A lista é grande para quem quiser fazer uma imersão neste universo.
Além delas, gravadoras oferecem os produtos em clubes do disco por assinatura.
Mas é um hobby que pesa no bolso.
Discos novos, com prensagem recente, podem ser encontrados por R$ 250, R$ 300 e até R$ 750, quando importados.
Dessa maneira, o barato da história é garimpar.
Assim, retirar um dia de folga para vasculhar os acervos das lojas físicas em busca de pechinchas, raridades e descobertas é algo que os aficionados fazem com frequência.
E experiência própria, compensa muito no bolso.
Percepção pessoal, sem contar com o batalhão de observadores do The Office for National Statistics, o mercado do vinil está se desenvolvendo no Brasil.
Dessa forma, resta saber o quanto a onda veio para ficar.
Quem sabe não encontro você na próxima feira de vinil na Lapa?
Colaborou: José Eduardo Costa, editor-chefe da Inteligência Financeira