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Disputa de sites com Shopee vai continuar; asiática tem 5% de mercado no país chegando a um dígito alto, diz Goldman
A operação da Shopee no Brasil, do grupo Sea Limited, de Cingapura, atingiu 5% do mercado brasileiro de comércio eletrônico cerca de dois anos após a sua entrada, nas estimativas da equipe de análise da Goldman Sachs, e terminou o ano já no patamar de um dígito alto. O Goldman já mencionou em outro relatório que projeta “share” de Shopee no Brasil em 20% até 2025.
Com base nessa taxa de 5%, a Shopee teria alcançado R$ 9 bilhões em vendas pela plataforma (chamado GMV). Se alcançar um dígito alto, a soma alcança R$ 16 bilhões.
Essa conta, feita pelo Valor, considera vendas totais do comércio eletrônico de R$ 182,7 bilhões em 2021, como informado ontem pela NielsenIQ/Ebit (que inclui a venda on-line de produtos entre países).
Consultorias já ouvidas pelo Valor estimam montante entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões.
“Acreditamos que a concorrência com novos participantes disruptivos continuará sendo um tema para 2022”, escreveu a equipe em relatório hoje.
Embora o Goldman reconheça que certas preocupações específicas da empresa poderiam levar a gestão do grupo Sea a mostrar maior disciplina na alocação de capital, o banco acredita que seu compromisso em tornar o Brasil num mercado “core” é “inabalável”, diz a equipe. O comando da companhia vem ressaltando mais o interesse em expandir o negócio local nas teleconferências e conversas com analistas e investidores globais.
De qualquer forma, entre essas preocupações que vem pressionando o grupo estão o aumento da queima de caixa, as projeções de analistas de uma operação mais fraca para o negócio de “games”, outro braço de operação do grupo Sea, o custo de capital crescente e desempenho recente do preço das ações (as ações SE estão em queda 66% nos últimos seis meses), diz o Goldman.
Segundo o relatório, o analista internacional da Sea prevê que o Shopee invista cerca de US$ 1,5 bilhão no Brasil/ América Latina neste ano, num cenário de perda de lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação do grupo Shopee no mundo de US$ 3,5 bilhões em 2022. Conta ainda que o grupo controlador já disse que levantou no mercado quase US$ 7 bilhões em 2021 e pretende destinar parte disso para investimento no comércio eletrônico Brasil/América Latina e no braço de fintechs.
Na recente teleconferência de resultados do quarto trimestre da Sea, a administração reiterou o Brasil como prioridade, observando que o total de pedidos brutos no país atingiu 140 milhões no quarto trimestre. Isso se compara aos 145 milhões de itens vendidos por Mercado Livre — apesar de os dois números não serem diretamente comparáveis, ressaltam.
A equipe revisou a sua análise para Shopee no Brasil (publicada pela primeira vez em julho de 2021) para tentar avaliar como estão os números agora e como ele se compara ao Mercado Livre, reforçando que são para “fins ilustrativos”.
“Para Shopee, estimamos que cerca de 30% do custo de envio seja arcado pelo cliente. Analisamos que uma perda de Ebitda de pouco menos de US$ 2 por pedido [informação já publicada pela Sea] pode implicar em termos de custos de envio divididos entre a empresa e os clientes”. Ainda projetam um lucro unitário de R$ 1,5 a R$ 2 por pedido no Mercado Livre, que se compara a uma perda de R$ 10 (US$ 2) por pedido da Shopee.
O Goldman cita no relatório informações antecipadas pelo Valor sobre a Shopee. Diz que a empresa passa por gargalos logísticos, segundo conta a imprensa local, “apontando períodos de envio prolongados e alguns desafios no rastreamento de pedidos”.
“Mas embora haja provavelmente uma curva de aprendizado que a Shopee precisará avançar, acreditamos que investimentos de parceiros [em logística] abordarão gradualmente esses pontos problemáticos”, afirma.
O Goldman ainda cita a notícia do Valor de que a J&T EXpress, prestadora de serviço da Shoppe no mundo, está agora trabalhando para a empresa no país.
“Observe que a J&T Express trabalha com o Shopee há mais de cinco anos no Sudeste Asiático. Nossas verificações (de mais de 220 vagas de emprego no país, muitas das quais em localidades regionais), indicam que a J&T Express poderia eventualmente construir um modelo de serviço completo em todas as regiões do Brasil”.
A equipe de análise ainda diz que os “vencedores” em termos de participação de mercado em 2021 foram Mercado Livre e Americanas, ganhando respectivamente 0,7 ponto e 0,9 ponto de fatia nas vendas. “Isso coloca a Americanas de volta à segunda posição do comércio eletrônico do Brasil, com 18,8% de participação, à frente de Magazine, com 18,1% e da Via, com 10,7%, mas abaixo de Mercado Livre, com 31,2%”, disse.
“Para 2023, esperamos que Magalu e Americanas fiquem empatados em 20% de [participação de] mercado”, afirma.
Segundo a equipe de analistas, Magazine e Via “deram os passos mais notáveis” para aumentar a monetização” de seu marketplace, e melhorando a lucratividade de seus marketplaces. Esse movimento se deu por mudanças recentes nas condições comerciais fechadas junto aos lojistas das plataformas, como o Valor já noticiou semanas atrás.
Ainda sobre esse tema, o Goldman diz que acredita que um fator chave para o baixo desempenho de Magazine e Via na segunda metade de 2021 foi a “alta exposição à categoria de duráveis, que teve desempenho inferior ao do varejo geral dado o agravamento do cenário macro”. Essas varejistas tem maior dependência, no on-line e no físico, da venda de bens duráveis de seu estoque próprio.
Apesar disso, o banco faz uma ressalva, e diz que, no Magazine, incluindo o dado anualizado de venda de KaBuM!, o marketplace já chegaria a 45% das vendas na plataforma.
Além desse fator da dependência, o banco cita como “lacuna” o nível de serviço prestado por essas cadeias no braço de logística do marketplace, em relação ao que oferecem em sua própria operação digital. A diferença na qualidade do serviço prestado (na entrega de produtos aos consumidores, por exemplo) ainda impediria um avanço maior desse marketplace.
“A velocidade de envio é uma das variáveis mais importantes para conversão (juntamente com custo de envio e preço do produto), por isso, acreditamos que longos períodos de entrega podem ter prejudicado o crescimento [do markeplace] ou exigiria uma compensação de descontos de preços/outras promoções”.
O banco reconhece que Magazine Luiza avançou em termos de nível de serviço e operação logística, mas a diferença para o Mercado Livre “continua importante”.
Com conteúdo do Valor Pro, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico
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