Dólar tem alta de 4,70% em agosto; o que esperar até o final de 2023?

Moeda americana avança 4,70% em agosto; alta do dólar é provocada por incerteza fiscal, economia americana resiliente e China na berlinda

Agosto registrou a maior do dólar no ano. Entenda os motivos de pressão no câmbio. Foto: Pixabay
Agosto registrou a maior do dólar no ano. Entenda os motivos de pressão no câmbio. Foto: Pixabay

Em agosto, o dólar teve o maior avanço mensal desde junho de 2022. No mês, a moeda norte-americana decolou 4,70% em comparação com o real, e terminou cotada a R$ 4,95. Ao longo dos últimos 30 dias, de acordo com analistas ouvidos pela Inteligência Financeira, notícias do exterior, como o fraco crescimento chinês e sinais de uma possível alta de juros nos Estados Unidos, pressionaram o câmbio. Mas o que esperar do dólar até o final de 2023?

Alta da renda fixa americana e queda da Selic no Brasil

A expectativa de queda da taxa básica de juros (Selic) provoca um efeito natural de alta do dólar. Segundo o boletim Focus mais recente, a perspectiva para o câmbio no fim de 2023 é de valorização, podendo o dólar bater em R$ 5,00. Vale lembrar que nas últimas três leituras dos economistas ouvidos pelo Focus, as revisões foram altistas para o dólar.

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Esta também é a avaliação de Cristiane Quartaroli, head de câmbio do Banco Ourinvest. Para ela, este efeito será sentido no curto prazo.

“Já tem uma parcela dos economistas citando que o BC poderia acelerar o corte (da Selic), mas no Ourinvest não acreditamos nisso. Conforme sinalizamos, no curto prazo a queda da Selic é ruim para o câmbio porque o fluxo financeiro tende a ir para mercados de menor risco.”

A taxa de juros impacta diretamente o câmbio. Isso porque quanto mais alta for a Selic, mais investidores estrangeiros vêm ao mercado brasileiro atrás das operações conhecidas por carry trade. Na prática, trata-se de uma aplicação financeira que consiste em tomar dinheiro a uma taxa de juros em um país e aplicá-lo em outra moeda, onde as taxas de juros são maiores – e, assim, lucrar com a diferença.

Esse mercado pode ser justamente os EUA. Há uma expectativa de queda dos juros mais lenta do que o esperado por lá. Este movimento dos juros nos EUA favorece a migração de investidores de mercados emergentes, como é o caso do Brasil, para os EUA.

Em reação à postura cautelosa do Fed, de reduzir lentamente os juros, os títulos de renda fixa americana se valorizaram. A T-Note 10, clássico ativo de renda fixa do mercado dos EUA com vencimento de 10 anos, por exemplo, ampliou seus rendimentos (yield) de 3,96% em julho para 4,11% em agosto.

Dólar em alta e fluxo estrangeiro negativo

Felipe Garcia, chefe de mesa de operações no C6 Bank, afirma que o mês de agosto foi marcado por ruídos na relação entre governo federal e o Congresso. “De maneira geral ainda vemos um otimismo com o Brasil, sempre levando o pano de fundo externo”, frisa.

Mesmo assim, o mercado deve continuar a monitorar os gastos do governo e a meta de arrecadação de receitas. Fabrízio Velloni, economista da Frente Corretora, explica que investidores “não veem compromisso de controle de despesas” da administração federal.

O fluxo cambial pesou contra o real no mês, levando à alta da moeda americana. Até 21 de agosto, o investidor estrangeiro retirou cerca de R$ 12,8 bilhões da bolsa de valores brasileira. Na máxima, o dólar chegou a R$ 5,00.

O que esperar da moeda americana até dezembro?

Ourinvest, C6 e Frente Corretora explicam que o câmbio deve sofrer mais alguns estresses até o final do ano. A percepção entre gestores é de que o Fed está preocupado e atento aos indicadores de inflação e desemprego nos EUA. A autoridade monetária dos EUA deixou claro que pode realizar um novo aumento nos juros.

O piso do dólar para Fabrizio Velloni, da Frente, é de R$ 4,85. Mas o economista diz que “há grandes chances” de o dólar ultrapassar o teto de R$ 5 ainda neste ano. Para ele “o cenário exterior está muito complexo” para dar certezas sobre uma valorização ou desvalorização no curto prazo.

O Ourinvest acredita que eventos podem levar o dólar para baixo até 2024. Quartaroli justifica que o simpósio de Jackson Hole mostrou que o Fed está dependendo de “data debanding“. Ou seja, a cada nova estatística econômica, o humor da instituição pode mudar.

Contudo, o Payroll desta sexta-feira é mais um indicador que anima o mercado. “Avaliamos que os dados de trabalho devem contribuir para que o Fed não volte a subir os juros”, diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa.

Já o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, afirma que conta com um Fed mais restritivo até o final do ano. Para ele, o banco central dos EUA deve manter a taxa de juros entre 5,25% e 5,50% por mais tempo. “Nossa previsão mostra um dólar cotado a R$ 5,30 no final do ano”, diz o economista.

Não vemos cortes de juros nos EUA em um horizonte próximo. Com isso, o diferencial da Selic e do Fed Fund, que até pouco tempo era significativo, vai diminuindo. O retorno relativo de investir no Brasil vis à vis nos EUA reduz.

Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank

China é ‘principal incerteza’

“A China é o principal fator de incerteza no radar”, diz Cristiane Quartaroli, head de câmbio do banco Ourinvest. Para Quartaroli, porém, não há uma previsão de piora na balança comercial do Brasil até o final do ano pelo fator China.

Segundo Velloni, setores dependentes de commodities na China, como a construção civil, tiveram uma resposta fraca aos estímulos do governo chinês. A crise financeira do mercado imobiliário chinês, que envolve gigantes como a Evergrande e a CountryGarden, prejudica as importações de insumos brasileiros.

Mas Anderson Rodrigues Santos, Superintendente de Tesouraria do banco Daycoval, afirma que as medidas podem não ter impacto no longo prazo.

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