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Dólar sobe mais de 1%; nova onda de depreciação do real vem por aí?
O dólar subiu 1,33% nesta terça-feira, cotado a R$ 5,65. A alta é explicada por fatores globais e domésticos, como o risco fiscal e tensões geopolíticas no Oriente Médio. A queda nos preços das commodities também enfraqueceu moedas emergentes. Especialistas apontam que a continuidade do conflito e a incerteza fiscal no Brasil podem levar a novas altas do dólar. A economia norte-americana e a menor liquidez global também influenciam o cenário.
O dólar avançou com força ante o real nesta terça-feira (15), subindo 1,33% nesta terça-feira (15). Cotado a R$ 5,65 Assim, nas última semanas, o dólar acumula ganhos robustos, saindo de R$ 5,42 para perto de R$ 5,66 em menos de um mês.
Diante disso, a dúvida é se uma nova onda de desvalorização do real está para acontecer. E qual deve ser o destino do dólar daqui até o final do ano? Vale lembrar que houve uma onda de valorização no primeiro semestre, e uma nova, em agosto.
Explicações possíveis: fiscal (novamente) no foco
Agora, a alta do dólar pode ser explicada por uma combinação de fatores globais e domésticos, dizem os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira.
No âmbito local, o risco fiscal segue no centro das preocupações.
“Mesmo com a hipótese nossa, de que o governo cumpra a meta fiscal inferior, fica a incerteza com relação à meta do ano que vem. Assim, a trajetória da dívida pública deve continuar subindo nos próximos anos”. A avaliação é de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Desvalorização do câmbio: Brasil não está sozinho
Veja as moedas com as maiores depreciações em 2024 ante o dólar.
País | Moeda | Valorização ante o dólar* |
Argentina | Peso Argentino | -17,52% |
Turquia | Lira Turca | -13,89% |
Brasil | Real | -13,62% |
México | Peso Mexicano | -12,53% |
Colômbia | Peso Colombiano | -9,72% |
Rússia | Rublo Russo | -6,64% |
Questões globais
Já no cenário global, as tensões geopolíticas no Oriente Médio, principalmente a ocupação da Palestina por Israel, “geraram uma maior aversão ao risco, levando os investidores a buscar segurança no dólar, que é considerado um porto seguro em momentos de incerteza”. A fala é de Luiz Felipe Bazzo, CEO do Transferbank, que é uma fintech que oferece serviços de transferência internacional de dinheiro.
“Além disso, a queda nos preços das commodities, como o petróleo, também enfraqueceu moedas de países emergentes, como o real”, acrescenta Bazzo.
O preço do petróleo Brent, com entrega em dezembro, caiu 4,14% nesta terça-feira. Cotado a R$ 74,25 o barril.
Outro ponto importante é a economia norte-americana. Ainda há dúvida com relação aos cortes da taxa de juros americana.
“Com a taxa de desemprego em queda, a renda aumentando e um núcleo de inflação acima do esperado, nos leva a crer em um corte de apenas 0,25%”, destaca Sung.
Alta do dólar hoje
Da mesma maneira, a alta nesta terça-feira tem participação de elementos internos e externos. “O impacto da queda nos preços das commodities, especialmente do petróleo, prejudica as economias emergentes e pressiona suas moedas”, diz Bazzo.
Guilherme Souza, analista da Ativa Investimentos, explica que “o alívio na tensão que envolve Israel e Irã, diante da descompressão após pronunciamento de Israel, que irá preservar alvos no Irã ligados às commodities“.
Além disso, o relatório Focus, divulgado na segunda, segue refletindo um cenário de incerteza econômica, “com projeções de inflação ainda altas, o que também aumenta a pressão sobre o real”, diz Bazzo.
Outro ponto importante, destacado por Matheus Pizzani, analista da CM Capital, é a menor liquidez global nesta terça-feira, “em função da retomada das negociações de treasuries nos Estados Unidos, que tende a causar perturbações significativa no preço relativo das moedas no curtíssimo prazo”.
Relatório de despesas aumentou desconfiança do mercado
De volta ao cenário interno, houve frustração especialmente do investidor doméstico com o quadro fiscal do país após divulgação do relatório de receitas e despesas do terceiro trimestre.
“Desde então, a curva de juros vem sofrendo e o real se desvalorizando. Esperava-se um contingenciamento de despesas, que não veio. Além disso, apareceram mais medidas de gastos, o que estressou o mercado”, destaca Paulo Gala, economista-chefe do banco Master.
Para Pizzani, da CM, o governo tem “agido de maneira responsável do ponto de vista fiscal ao substituir o volume de recursos até então contingenciados por um bloqueio mais rigoroso”.
Contudo, houve erro na transmissão da mensagem para o mercado.
Com isso, houve elevação da incerteza com relação ao respeito às bases do arcabouço fiscal. Assim, foi “disparando o gatilho para todo o processo (de desvalorização do câmbio) que enfrentamos atualmente”, avalia.
Risco de disparada do dólar no futuro próximo?
Para Bazzo, do Transferbank, “há um risco significativo de que o dólar volte a disparar, como vimos meses atrás, quando ultrapassou os R$ 5,70”. Ele avalia que as tensões no Oriente Médio devem permanecer intensas. “Assim, a continuidade do conflito pode prolongar a demanda por ativos seguros, como o dólar.”
“Se as tensões geopolíticas persistirem e o cenário fiscal no Brasil não melhorar, poderemos ver uma nova sequência de altas, semelhante à observada em agosto”, complementa Bazzo.
Contudo, Gala vê que há sinais de que a alta da moeda pode ser freada. Depois dos comentários do Gabriel Galípolo e Fernando Haddad durante o Itaú BBA Macro Vision, os ânimos do mercado aquietaram.
Nesse sentido, o economista do Master ressalta “a ideia de programa de governo para atingir grau de investimento”, ventilada pelas autoridades. Além disso, a fala sobre “controle de despesas, que está no radar depois das eleições.”
Alta pode não ser da mesma proporção
Em termos de valor absoluto, esta alta recente talvez não atinja um pico tão elevado quanto àquela observada no primeiro semestre do ano. A avaliação é de Pizzani.
“O principal vetor impeditivo deste movimento tende a ser a taxa de juros. Com o Brasil indo na contramão das principais economias globais ao promover um novo ciclo de aperto monetário nesta segunda metade do ano, a expectativa é que o elevado diferencial de juros acabe atraindo capital em direção ao país”, diz o analista da CM.
Ainda assim, ele prevê novos solavancos no câmbio daqui até o final do ano pelo menos. “Dado o cenário de elevada volatilidade e incerteza que ronda o ambiente macroeconômico brasileiro, existe elevada probabilidade de que o comportamento observado na sessão de hoje (terça-feira) se repita mais vezes”, acrescenta.
DXY em viés de baixa?
Para Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo, a valorização atual do dólar é um “repique”, mas que não deve se transformar em nova alta consistente. “O dólar enfraqueceu globalmente (em relação à última disparada de agosto)”.
“O DXY (índice de desempenho global do dólar) está rondando em torno de 103 (pontos). Num cenário base, ele fecha o ano abaixo de 100. Então, o dólar vai enfraquecer e ajudar um pouco o real”, diz Mathias.
O que pode trazer algum alívio sobre o câmbio?
Anteriormente, entre agosto e setembro, houve um recuo do dólar após o recorde. Isso foi motivado por uma correção do mercado e expectativas de medidas de estímulo econômico na China, “o que ajudou a reduzir temporariamente a aversão ao risco global”, avalia o executivo do Transferbank.
“Além disso, o corte de juros de 0,50 ponto percentual pelo Federal Reserve em setembro inicialmente trouxe um alívio para a pressão sobre o dólar”, acrescenta Bazzo.
Para Gala, um novo fortalecimento do real requer principalmente “um compromisso fiscal forte”.
Assim, “essa ideia de buscar grau de investimento pode reverter essa alta do dólar. Além disso, o corte de juros do Fed, de voltar para a mesa um corte de meio ponto ou de vários cortes de 0,25, pode trazer algum alívio”, afirma.
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