Dólar encosta em R$ 5,30: o que explica a nova disparada da moeda americana?
Divisa fechou a terça-feira no maior nível desde março de 2023
O dólar à vista exibiu um movimento forte de apreciação na terça-feira e consolidou a tendência dos últimos dias, ao se aproximar do nível simbólico de R$ 5,30. A alta da moeda americana foi generalizada na sessão e teve como suporte a desvalorização dos preços das commodities; a desconfiança com ativos de risco (em especial, de mercados emergentes); e a piora na percepção sobre o cenário local.
No fim dos negócios no mercado à vista, o dólar anotou alta de 0,98%, cotado a R$ 5,2850, no maior nível de fechamento desde 23 de março de 2023. Na mínima do dia, o dólar à vista chegou a ser negociado a R$ 5,2496, enquanto na máxima, a R$ 5,2961. O euro comercial, por sua vez, exibiu valorização de 0,80%, cotado a R$ 5,7500.
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Eleições no México e preço das commodities
A desvalorização não foi exclusividade do real. Outras moedas de mercados emergentes e de países produtores de commodities também depreciaram frente à moeda americana na sessão desta terça-feira: perto das 17h50, o dólar avançava 1,85% contra o peso colombiano; 1% frente ao peso mexicano; 1,08% em relação à coroa norueguesa; 1,03% ante o zloty polonês; e 1,01% contra o rand sul-africano.
O movimento no início da sessão foi bastante justificado pelo comportamento dos preços das commodities. Mas, ao longo da sessão, o real perdeu mais força, o que também foi visto em outras moedas emergentes.
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Para participantes do mercado, há uma piora no risco relacionado aos ativos emergentes nos últimos dias diante de uma possível preocupação com uma desaceleração global da economia. Daí a desvalorização dos preços das commodities e a fuga de ativos emergentes, além da busca por moedas vistas como porto-seguro, como iene japonês e franco suíço. As surpresas nas eleições no México, Índia e África do Sul configuram outro ponto de atenção dos agentes de mercado que pode ter alimentado uma aversão especial aos mercados emergentes.
No caso específico do México, a avaliação do profissional da tesouraria de um grande banco local, é a de que o fluxo de saída de capital do país não deve, necessariamente, beneficiar o Brasil ou o real em particular. “Parte da recente deterioração do peso mexicano, após os resultados das eleições presidenciais, advém da visão de que o banco central mexicano pode ser mais ‘dovish’ [suave] ou o que governo poderia ter uma má postura fiscal, o que está parcialmente acontecendo na margem”, diz. Nesse sentido, para ele, a história do México “será igual” à história brasileira.
Dólar pode subir mais
Em relatório enviado a clientes, economistas do Itaú Unibanco dizem ver espaço para o dólar valorizar globalmente até o fim deste ano. Para os profissionais do banco, “o comportamento do dólar à frente dependerá sobretudo da divergência de política monetária entre o Fed e os outros bancos centrais, e da evolução das tensões geopolíticas”.
Até dezembro, a estimativa é de uma potencial apreciação adicional do dólar multilateral perto de 1,5%. E, como há uma alta correlação entre a taxa de câmbio brasileira e o dólar multilateral, os economistas dizem projetar o dólar a R$ 5,15 no fim deste ano, e não mais em R$ 5,00, enquanto para o fim de 2025 a projeção é de R$ 5,25, e não mais de R$ 5,20.
Real precisa de mais prêmio
Na visão dos strategistas do Barclays, as incertezas locais devem levar o real a apresentar uma performance mais fraca em relação a seus pares. “O ruído local dominou, superando os benefícios de contas externas mais construtivas”, dizem os estrategistas Andrea Kiguel e Erick Martinez. “É verdade que o ‘carry’ deverá tornar-se mais atrativo em termos relativos se o BC terminar o ciclo no próximo mês (ou confirmar que terminou em maio), especialmente porque os bancos centrais do G10 estão apenas começando [a cortar os juros] e muitos outros mercados emergentes de rendimentos elevado estão afrouxando [a política monetária].”
No fim das contas, os estrategistas do banco britânico apontam que a moeda brasileira precisa de mais prêmio para compensar os riscos locais, como a divisão do BC e a deterioração das condições fiscais. “Isso não significa que o dólar não irá cair contra o real. Isso depende mais das condições externas. Embora o real possa facilmente apresentar um desempenho inferior em tempos de tensão local, raramente se dissocia do ambiente global em termos de direção”, afirmam os profissionais.
Para eles, as moedas de mercados emergentes podem encontrar apoio, caso os dados dos EUA fiquem mais fracos e se as commodities se mantiverem em preços elevados. No caso desta terça-feira, porém, esse ponto não foi contemplado.
Com informações do Valor Econômico