Gestoras diminuem exposição a dólar contra real por incerteza e abrem posições de curto prazo

Gestores da Faria Lima admitem exagero do mercado e encerram posições de compra em dólar; futuro da divisa para real hoje está em aberto

Gestoras desistem de carregar dólar após queda de 7% da moeda para o real em 2025. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Gestoras desistem de carregar dólar após queda de 7% da moeda para o real em 2025. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

A queda do dólar para o real em 2025 vem provocando um choque de expectativas entre gestoras de fundos multimercado com mandato para investir em moedas. O movimento de alta do câmbio abriu um verdadeiro “racha” entre os principais estrategistas da Faria Lima, que encerraram o carrego da moeda americana no longo prazo e, agora, preferem contratos com gatilhos de entrada e saída tática.

Em janeiro, as gestoras Kapitalo e Bahia Asset encerraram suas posições vendidas no real brasileiro contra o dólar. Armor Capital, Gap Asset e Gauss Capital estão, neste momento, apostam na valorização do câmbio local contra a moeda americana. A Quantitas aproveitou a queda para abrir posição comprada em dólar. Ao se explicarem, gestores dizem que a divisa “pode ir para os dois lados” contra o real.

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Dólar está R$ 0,30 abaixo do preço justo, diz Quantitas

A queda do dólar para o real em 7% ao ano, com a maior parte do tombo em janeiro, causou uma verdadeira invertida nas expectativas da Faria Lima e das gestoras que operam câmbio em seus fundos de investimento multimercado.

A valorização ocorre após a moeda americana atingir a maior cotação da história desde a introdução do Real na economia. Em dezembro, o dólar atingiu a cotação nominal de R$ 6,26, em meio à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, decepção com medidas de cortes fiscais do governo e volume atípico de remessas ao exterior.

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De lá para cá, as gestoras que esperavam um dólar mais forte no caso de uma postura agressiva de Trump sobre tarifação de importações se surpreenderam.

Nesse sentido, “o efeito de cauda de Trump ainda mais agressivo sobre o dólar foi diminuindo” afirma Rogério Braga, estrategista em multimercados da Quantitas.

A gestora vê uma oportunidade de comprar a moeda americana com a queda do dólar. A aposta, contudo, é tática, porque obedece uma banda de oscilação bastante curta. “Essa posição pode ser encerrada ainda mesmo em fevereiro”, comenta Braga.

“Em dezembro, vimos um descolamento do dólar em relação a nossos modelos e acreditávamos que a cotação sobre o real estava R$ 0,50 acima do valor justo”, diz o gestor. Hoje, o patamar do dólar para o real está R$ 0,30 abaixo do valor alvo.

Mas sem contar com uma alta expressiva, a Quantitas opera com gatilhos curtos para a moeda. “É uma posição mais curta que ajuda a nosso portfólio de apostas em e juros reais e futuros de IPCA+.”

AZQuest diminui aposta do dólar contra moedas emergentes

A realidade é que operar contra o real traz hoje um custo enorme no gasto para manter o contrato vendido, diz Gustavo Menezes, gestor de macroeconomia da AZQuest.

A gestora foi diminuindo ao longo de fevereiro sua posição comprada em dólar, afirma Menezes. Tanto para o real quanto para outras moedas de economias emergentes, como China e México. “Hoje temos pouquíssima operação envolvendo o real”, comenta o estrategista.

A gestora deixou de lado o dólar devido ao custo de carrego. No mercado, o carrego equivale ao custo de quando a gestora compra moeda em um país de juros baixos realiza empréstimos ou negocia derivativos usando uma divisa com juros maiores. É o caso do diferencial de juros entre Brasil e EUA.

Além disso, a venda de contratos futuros em dólar contribuiu para a baixa da moeda americana em janeiro. O investidor estrangeiro vendeu mais de R$ 20 bilhões em contratos em aberto, diz Menezes.

“O trade de dólar para real pune bastante quando ele não vai no sentido desejado, principalmente pelo diferencial de juros.”

Dólar pode ir ‘para os dois lados’ contra o real

Os gestores entrevistados pela reportagem acreditam que existem fatores tanto para a valorização quanto para a desvalorização do dólar para o real.

Braga, da Quantitas, diz que a bola está dividida na Faria Lima “porque temos vetores bem relevantes nas duas direções (alta e baixa do dólar)”. De um lado, o cenário fiscal não mudou entre dezembro e fevereiro. Por outro, a entrada dos estrangeiros líquida de R$ 8,2 bilhões na bolsa de valores faz pressão sobre o dólar.

A safra brasileira, cujo efeito positivo sobre o câmbio perdura no 1º trimestre, também sinaliza um câmbio mais favorável para o Brasil, de acordo com Gilberto Kfouri, head de multimercados da BNP Paribas Asset.

Assim, ele explica que Trump pode ser favorável para moedas emergentes.

“Trump vem usando as tarifas mais como arma de negociação do que com objetivo arrecadatório. No primeiro mandato do Trump, o dólar perdeu muito valor. E teria espaço para perder mais se fizermos essa correlação”, aponta Kfouri.

A Gauss Capital está comprada no real contra o dólar, acreditando que a divisa americana ainda não atingiu o piso de desvalorização.

“As justificativas para alta ou queda dólar pendem para os dois lados. Mas não temos target super definido porque dependemos mais do preço das opções (contratos futuros em dólar)” explica Gabriel Gianecchinni, gestor da Gauss.

Por fim, o especialista aponta como a valorização de mercados emergentes e economias exportadoras fez com que o real ganhasse mais valor. Na China, o “limite ao modelo de crescimento via exportação” pode levar o país asiático a crescer com a expansão do consumo interno.

“E isso se reflete em países como o Brasil.”

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