Queda histórica do dólar não muda tendência de valorização em 2025, dizem analistas

O dólar caiu atualmente para algo em torno de R$ 5,76. Isso por conta das tensões que surgem sobre a guerra comercial entre China e Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que avançava contra moedas de economias importantes no mundo como a União Europeia e o Japão, a moeda americana perdeu força contra as de emergentes como o Brasil. Mesmo abaixo de R$ 5,80, especialistas dizem que o dólar não vai cair mais. E enxergam a moeda pressionada a partir do segundo semestre de 2025.
Assim, analistas do mercado financeiro aconselham a entrada do investidor em ativos atrelados ao dólar. Ao mesmo tempo em que recebem pedidos de importadores para firmarem contratos que ajudem a proteger contra a futura alta da moeda americana em relação à brasileira.
Por que o dólar acumula queda em 2025?
A queda de 6,73% da cotação do dólar para o real em 2025 surpreendeu analistas brasileiros e marcou a maior valorização consecutiva do câmbio desde o Plano Real. Em 12 pregões da bolsa de valores, a moeda americana foi de R$ 6,17 para R$ 5,76.
Por trás da valorização, está a quebra de expectativa do mercado com o novo presidente do Estados Unidos, Donald Trump. Analistas esperavam um início de mandato mais conturbado, com aplicação direta de tarifas comerciais sobre importação de países como China, Canadá e México.
Ao mesmo tempo em que decretou tarifas, a visão dos analistas é de que Trump usa a guerra comercial para negociar acordos.
O outro motivo foi o avanço dos juros no Brasil. Enquanto a taxa Selic andou mais 1 ponto percentual e foi a 13,25% ao ano, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) manteve os juros entre dezembro e janeiro.
Quanto maior esse diferencial entre os juros brasileiro e americano, melhor para o valor do real contra o dólar, diz Thiago Pedroso, analista da Criteria Investimentos.
Com a Selic mais alta, o custo de compra e venda do real fica mais barato, diz Pedroso.
Dólar vai parar de cair a partir do segundo trimestre
O dólar ainda tem espaço para cair no primeiro trimestre. A balança comercial favorável ao agronegócio, principalmente com uma safra recorde de soja, deve manter o dólar estável no curto prazo.
“A safra forte de 2025 já está injetando dólares na economia brasileira, o que ajuda na valorização do real”, diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos.
Mas o dólar vai cair mais em 2025? Existem mais motivos no mercado financeiro para acreditar no contrário, pela valorização da divisa.
O primeiro deles é que o efeito da exportação de commodities agrícolas deve expirar a partir do segundo semestre, diz Alexandre Viotto, head de mesa de câmbio na EQI.
“O dólar deve ter maior volatilidade neste ano do que em 2024. Podemos voltar a (ter um dólar) a R$ 6 antes de 6 meses”, diz o operador da EQI. “Se Trump taxar o Brasil, é uma certeza que o dólar não só vai parar de cair mais, mas vai disparar”, completa.
No radar doméstico, a entrega da meta fiscal de déficit zero é mais um fator que deve pressionar o câmbio e o valor do dólar hoje. O estresse sobre medidas de contenção de despesas foi o que levou ao fluxo de compra de dólar “acima do esperado em 2024“, lembra Alves.
“Querendo ou não, a estrutura de problema de confiança que o Brasil passa ao estrangeiro hoje não foi resolvida”. Assim, o especialista prevê um valor acima de R$ 6,00 para o dólar em 2025. E até mais próximo de R$ 6,30 a R$ 6,50.
Ou seja, o dólar deve devolver toda a queda desde janeiro. Isso para Alves.
Por fim, a XP Investimentos prevê uma taxa de câmbio a R$ 6,20 até o final deste ano. Para a corretora, “os fatores que sustentaram a valorização recente do real ainda apresentam bases frágeis”, diante da falta de mudança sobre a política fiscal do Brasil.
Fornecedores e analistas aproveitam baixa para se expor
Fornecedores de importadoras de bens aproveitam a baixa do valor do dólar para firmarem contratos de proteção contra a volatilidade da moeda. Hoje, a presença desses clientes cresceu na EQI, afirma Viotto.
Esses contratos são conhecidos como hedge, em que os importadores, nesse sentido, aproveitam para se proteger da uma futura desvalorização do câmbio
Hoje “é mais barato fazer hedge, depende do dólar spot e da taxa de juros futuros, diz o operador.
Aos clientes, ele recomenda a compra da moeda atualmente. “Eu entendo que agora é um bom momento para o investidor colocar o pé no acelerador e comprar dólares. Fora que a renda fixa nos EUA hoje paga em dólar e mais 4,5% com risco soberano do país.”
Thiago Pedroso, analista da Criteria, faz coro ao colega. “No ano passado, mais pessoas compraram o dólar depois que ele disparou”, adverte. “A maioria das pessoas compra em momentos de emoção, e não vê a variação cambial de fato”, afirma.
“Eu venho falando agora: ‘vamos enviar um pouco (para o exterior) agora’.”
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