Mario Mesquita, do Itaú: ‘Fortalecimento global dificulta estabilização do dólar abaixo de R$ 5’

Economista-chefe do banco diz que o Brasil 'é muito sensível ao contexto global'

O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita. Foto: Carol Carquejeiro/Valor
O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita. Foto: Carol Carquejeiro/Valor

O desempenho atual do dólar perante outras moedas do mundo e a relação histórica desses movimentos com o comportamento do real ante a moeda americana sugerem que, dificilmente, o câmbio conseguirá se estabilizar abaixo de R$ 5, aponta Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco.

Em geral, segundo ele, o Brasil “é muito sensível ao contexto global”, o que fica especialmente evidente nas análises de taxa de câmbio. “A moeda aqui segue basicamente as grandes ondas do dólar”, diz Mesquita, identificando três grandes ondas de fortalecimento global da moeda americana desde os anos 1970.

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“Essa mais recente pode estar chegando ao fim, embora o dólar tenha se fortalecido mais recentemente. Mas o que chama a atenção é que o movimento recente do dólar global dificulta a estabilização do real abaixo de R$ 5 e sugere que o nível próximo ao atual é razoável, dado o contexto global”, afirma Mesquita.

Ele pondera que a Selic mais alta deve ajudar a segurar a moeda, e os preços de commodities, ainda que tenham cedido nas últimas semanas, também devem se estabilizar em um patamar historicamente favorável para ajudar a estabilizar o real.

O Itaú se diz especialmente preocupado com o ambiente externo. Os sinais são de que o mundo pode estar “caminhando para uma desaceleração importante”, o que vai acabar afetando a economia brasileira também, diz Mesquita.

Com o processo inflacionário global, o Itaú espera que o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, leve sua taxa de juros para perto de 4% ao ano e mantenha esse patamar por bastante tempo. O Banco Central Europeu (BCE), no entanto, deve ter mais dificuldade na promoção do aperto monetário, por causa dos riscos à dívida de países na periferia do grupo, observa Mesquita.

“Tudo indica que caminhamos para uma desaceleração da economia mundial. Essa desaceleração vai ser mais intensa em alguns lugares do que em outros”, diz ele. Por ora, o Itaú não espera, por exemplo, recessão nos EUA, já que a enorme poupança feita pelas famílias durante a pandemia pode estar sendo utilizada agora, segundo Mesquita.

O Itaú projeta atualmente crescimento global de 2,9% neste ano e 2,6% em 2023, com 2% e 1%, pela ordem, para a economia americana; 2,5% e 0,7% para a zona do euro; e 4,2% e 5% para a China.

Uma “desaceleração importante da economia global já está contratada”, diz Mesquita, e o fato de os bancos centrais estarem subindo juros todos ao mesmo tempo aumenta a chance de que essa desaceleração seja mais pronunciada, com risco de recessão.

Mesquita observa que essa desaceleração global prevista agora é mais parecida com o que foi visto após da Segunda Guerra Mundial, ou seja, é uma desaceleração ocasionada por ações de política monetária e não por choques, como o financeiro em 2008/2009 ou o sanitário em 2020, com a crise da covid-19. “Recessões cíclicas, causadas pela política monetária, em geral, levam à contração mais suave do que recessões por choques. Consequentemente, demora um pouco mais também para ter o relaxamento da política monetária”, afirma.

Ele nota, porém, que, com o aumento das preocupações em torno de uma recessão global, o preço internacional das commodities começou a ceder. Isso, para ele, sugere que o risco de estagflação – inflação alta com atividade fraca – está diminuindo.

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