Mercado hoje: Ibovespa interrompe sequência de ganhos com crise na Americanas, pressionando varejo e bancos
Commodities seguraram o índice e impediram uma queda maior
O Ibovespa fechou esta quinta-feira (12) em queda após uma sessão atípica, tumultuada pela revelação da inconsistência contábil de R$ 20 bilhões nas Americanas, que deixou o papel da varejista em leilão por mais metade do pregão e perder 77% de valor, negociado no fim do dia a R$ 2,72, contra R$ 12 do pregão de ontem (11)
A crise pesou nas ações das outras varejistas – exceto Magalu (MGLU3), que liderou os ganhos da bolsa subindo 5,61% – e nos bancos, credores da companhia.
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A queda de 0,59% do Ibovespa, aos 111,8 mil pontos, interrompeu a sequência de seis altas seguidas. O setor de commodities, no entanto, ajudou a sustentar o índice, impulsionado pelo aumento da demanda chinesa. O petróleo Brent também subiu, fechando em alta de 1,65%, a US$ 84 por barril e ajudando as petrolíferas.
Pacote econômico
O fato mais aguardado do dia era o anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, do pacote de medidas do governo para o cenário fiscal do país.
Entre os principais anúncios, a projeção do déficit fiscal para 2023 reduzido de R$ 231 bilhões para um valor estimado entre R$ 90 e R$ 100 bilhões.
O que os especialistas dizem sobre o pacote
Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, as medidas anunciadas vão no caminho correto, em busca de maior saúde financeira para a nação, ainda que as referências estejam relativamente distorcidas, com Haddad usando como referência os percentuais de despesa e receita do PIB de 2022, quando o Brasil tinha “estado de calamidade decretado”, além de um forte avanço real da arrecadação.
As medidas do governo podem entregar uma economia de até R$ 242,7 bilhões nas contas públicas.
O que reverteria o déficit de R$ 231,55 bilhões projetado no Orçamento, para um superávit de R$ 11,13 bilhões. Haddad, porém, afirmou que as medidas podem não surtir o efeito esperado e trabalha com estimativa de déficit entre 0,5% e 1% do PIB.
Inflação nos EUA
Outro dado aguardado era o de inflação nos Estados Unidos. O CPI fechou o ano de 2022 em 6,5%, apresentando uma desaceleração nos últimos meses, em linha com o que era esperado pelo mercado, que agora aguarda a próxima reunião do Fed, em fevereiro.
Os anúncios da Fazenda e a inflação americana fizeram mais preço no dólar comercial, que fechou em firme queda de 1,56%, negociado a R$ 5,09 na B3.
No mercado de bonds, os títulos de dívida da Lojas Americanas caíram para 33% do valor de face para compra e 43% do valor de face para a venda. Isso significa que quem está disposto a comprar pagaria 33% do valor do título e que quem quer vender aceitaria 43% do valor.
Antes disso, a relação era de 65% do valor de face para compra e 67% para venda.
Como foi o dia do Ibovespa?
Após seis altas consecutivas e operar a manhã inteira em queda firme, o Ibovespa oscilava perto da estabilidade no começo da tarde desta quinta-feira, com as ações de varejo – em especial Lojas Americanas – e de bancos entre as principais baixas do pregão. Agentes também repercutem a inflação ao consumidor dos Estados Unidos em dezembro e o anúncio do pacote de ajustes pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Por volta de 14h10, o Ibovespa subia 0,08%, aos 112.603 pontos. O dólar apresentava queda no mesmo horário. A moeda americana perdia 1%, negociada a R$ 5,107.
No noticiário corporativo, investidores acompanham as notícias envolvendo a Americanas, que ontem anunciou R$ 20 bilhões em inconsistências contábeis. O diretor-presidente, Sergio Rial, renunciou ao cargo. O Valor informou que um comunicado circulado entre fornecedores da companhia informa que pode haver “adequação importante na estrutura patrimonial da empresa”.
A Guide considerou que a descoberta era uma “notícia desastrosa”. A XP colocou a recomendação da companhia sob revisão, assim como o Itaú BBA.
Além da ação da própria Americanas, a notícia tem efeito negativo também sobre outros papéis do setor de varejo.
Via ON (-1,92%), Méliuz ON (-5%) e Grupo Soma ON (-0,29%) recuavam. Na contramão, Magazine Luiza ON passava a subir (2,31%)
Bancos também recuam – o Bradesco BBI afirmou que a regularização das inconsistências contábeis pode levar as instituições credoras a realizar baixa contábil, no pior dos cenários, de R$ 20 bilhões. Santander e BTG Pactual, conforme o BBI, são os bancos com maior exposição ao setor de varejo – o segmento representa 7% da carteira de crédito de cada um.
BTG Pactual units (-3,32%), Santander units (-1,84%), Bradesco PN (-1,69%) e Itaú PN (-0,91%) registravam perdas significativas.
À tarde, deve entrar no radar o anúncio pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de um pacote de medidas econômicas. A apresentação deve ter quatro medidas provisórias, dois decretos presidenciais e duas portarias. O ajuste tende a ser feito principalmente pelo lado da arrecadação.
Inflação nos EUA desacelera
Nesta manhã foram divulgados os números de inflação nos EUA. O CPI de dezembro registrou queda de 0,1%, na relação com novembro, em linha com as expectativas de economistas consultados pelo “The Wall Street Journal”. No acumulado em 12 meses, o avanço foi de 6,5%, também em linha com as estimativas. Já o núcleo do indicador, que exclui as variações de energia e alimentos, avançou 0,3% e 5,7% em ambos os recortes.
Como apontou o Wells Fargo, em nota, as evidências cada vez mais convincentes de desaceleração da inflação trazidas pelo relatório de hoje aumentam a chance de que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) aumente a taxa dos Fed funds em apenas 0,25 ponto percentual em sua próxima reunião. “Mas com a tendência da inflação ainda acima da meta, esperamos que, mesmo que o Fomc entregue uma redução no ritmo, ele continuará apertando depois de sua próxima reunião.”
A queda dos preços ao consumidor em dezembro nos Estados Unidos é o principal motivo para o dólar ter atingido as mínimas ante o real na manhã desta quinta-feira, aponta Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. “O dado mostra que a tendência é de a inflação perder força nos EUA, com os preços dos barris de petróleo distantes do ápice do ano passado e com a economia da China voltando a abrir e reduzindo a pressão na ponta da oferta dos produtos”, diz.
Velloni ainda afirma que com essa sinalização de esfriamento de preços, o Fed pode ser mais flexível em seu aperto monetário. “Essa é uma inflação diferente. Ainda que a economia americana estivesse aquecida, havia um problema de oferta gerado pela pandemia. Agora o cenário começa a mudar.”
Outro motivo que explica a fraqueza do dólar frente ao real é a própria reabertura da China, diz Velloni. “Com essa retomada, as commodities se fortaleceram nas últimas sessões, trazendo os estrangeiros de volta para cá.” Além disso, Velloni menciona que as medidas fiscais do novo governo para conter a dívida pública criam um ambiente animador entre os agentes financeiros.