Vale a pena aproveitar a queda do dólar e investir fora do Brasil?

Conheça os problemas e as vantagens dessa estratégia

- Ilustração: Marcelo Andreguetti
- Ilustração: Marcelo Andreguetti

A queda da moeda norte-americana pode ser a oportunidade que faltava para o investidor que quer ousar na diversificação do portfólio. O real, hoje, compra mais dólares, portanto, você tem mais recursos para aplicar em terras estrangeiras. Mas é preciso avaliar se o melhor caminho é realmente internacionalizar o patrimônio. A ideia de fazer o investimento nos Estados Unidos agrada principalmente os jovens, que são mais agressivos na hora de escolher o destino dos recursos. Já as gerações maduras preferem algo estável. O montante a ser dolarizado depende, porém, dos objetivos de cada família, de cada investidor.

E é preciso levar em conta os cenários doméstico e internacional para bater o martelo. Desde dezembro de 2021, a cotação do dólar em relação ao real caiu mais de 17%. Até 21 de dezembro, o dólar vinha de uma alta de seis meses em relação ao real – eram R$ 5,75 para US$ 1. A inflação está em alta por aqui. De janeiro de 2021 a janeiro deste ano, o índice (o IPCA) foi de 10%. As taxas de juros no Brasil tornam a tomada de dinheiro mais cara. Há eleições este ano, e temos que lidar com os impactos da guerra na Ucrânia. A bolsa, porém, está subindo e o dólar caindo – cenário paradisíaco para o mercado.

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“Os Estados Unidos têm o melhor mercado de ações do mundo, é bem regulamentado e as empresas querem emitir ações lá – isso não vai mudar tão cedo”, aponta Daniel Cawrey, diretor de Estratégia da Passfolio. O Brasil vive um momento em que suas exportações, como petróleo e soja, estão indo bem. É, portanto, um bom momento para investir em dólares.

Abrir uma conta em moeda norte-americana é o início de uma história que pode ter um final feliz – ou seja, o investidor pode se dar bem. Ele recebe um cartão de débito que pode ser usado nos Estados Unidos, Europa e também no Brasil. Ou ter acesso a diversas opções de ações de empresas, como Google, Amazon e Apple.

Vale lembrar que o investidor pode comprar esses papéis via BDRs ou ETFs, que permitem ao brasileiro comprar aqui ativos de empresas estrangeiras. Outras opções são papéis de renda fixa, fundos de investimento, criptomoedas e até imóveis em terras americanas.

O mercado norte-americano tem maturidade e oferece diversificação de investimento e menor risco, já que os papéis oscilam menos. “As históricas empresas norte-americanas de tecnologia, por exemplo, estão sempre evoluindo e se reinventando”, afirma Guilherme Zanin, analista da Avenue Securities. Vale lembrar, no entanto, que uma boa parcela das grandes companhias americanas já possui seus respectivos recibos (os BDRs) sendo negociados na bolsa brasileira.

Por quanto tempo o dólar ainda vai cair?

Zanin lembra que não é possível saber quanto tempo essa “fase” de dólar em baixa vai durar. Enquanto o Brasil já está finalizando o processo de alta de juros (ao menos é o que parece), o que trouxe um grande fluxo de dólares para cá, vários países vão começar agora esse movimento. Os recursos passarão a ser destinados para esses locais e a valorização do dólar pode começar a dar o ar da graça novamente.

Até quando os brasileiros terão a oportunidade de aproveitar a valorização do real? Essa é a pergunta de 1 milhão de dólares. Não é possível afirmar qual é o melhor dia, com dólar mais baixo, para se fazer o investimento. Zanin sugere que o investidor faça suas escolhas aos poucos, com calma, até para conseguir fazer um preço médio do dólar interessante.

Tijolos americanos

Os imóveis, considerados um dos investimentos mais seguros no país, também estão na mira dos brasileiros que querem dar um passo internacional. Para adquirir um imóvel, é preciso que um advogado dê suporte lá em terras norte-americanas. A taxa cobrada pelas corretoras é de 0,38%. Muitos que optam por imóvel nos Estados Unidos estão aposentados, anseiam por uma vida mais tranquila e consideram que lá tem alto nível de segurança. Mas há os que têm entre 35 e 50 anos de idade e, em razão de uma oferta de trabalho, decidem fazer a mudança.

Remessa de dólares

Segundo Tulio Portella, diretor comercial da B&T Câmbio. Os recursos enviados aos Estados Unidos pela corretora no primeiro trimestre deste ano (US$ 16 milhões) cresceram 53,8%, em comparação a igual período de 2021 (US$ 10,4 milhões). “Trata-se do envio de quantia para a mesma titularidade no exterior. É possível enviar e usar dinheiro para pagar imóvel ou arcar com os custos de vida, por exemplo”, diz Portella. Houve alta também no investimento especificamente em imóveis no período, de 65%. O montante passou de US$ 612 mil para US$ 1,010 milhão.

Os riscos de se dolarizar o patrimônio

A opção de dolarizar o patrimônio, porém, não é uma unanimidade entre os especialistas. Há quem ache que o mercado interno mereça ser priorizado. Apesar de acreditar que o dólar vai cair ainda mais – “pode chegar a R$ 4,60” – Rogério Kurussu, chefe da assessoria de investimentos da Terra Investimentos, afirma que não é hora de investir lá fora.

“Acredito no real no médio prazo. A renda fixa e os múltiplos são atraentes para o capital brasileiro. Os juros e a inflação vão cair e, em 2023 e 2024, os investidores vão ganhar. Investimento não é especulação de curto prazo”, aposta Kurussu. Em tempo: múltiplos são diferentes indicadores que mostram se vale a pena comprar um ativo – se está caro ou barato.

Este é um ano atípico e todos os pontos devem ser levados em conta para decidir o que fazer com o dinheiro. “Nós vamos continuar a ter flutuação e turbulência na variação cambial nos próximos meses. A taxa de juros atrai investimentos para o Brasil. As exportações crescem, assim como os preços das commodities. Seria hora de escolher os Estados Unidos para fazer investimentos, que têm também taxas de juros em alta?”, questiona Pierantoni. “O caminho é investir na economia real brasileira e no mercado de capitais. Os ganhos, no médio prazo, vão acontecer.”

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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