A pergunta agora é: de quanto será a próxima alta da Selic?

Gestores e economistas avaliam que o Copom pode subir a taxa básica mais uma vez em março, entre 0,75 e 1 ponto percentual, e por fim ao ciclo de elevação

O fim do ciclo de alta dos juros está próximo. Gestores e economistas ouvidos pelo Valor avaliam que o Banco Central pode subir a taxa básica mais uma vez na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de março e colocar um ponto final no movimento de elevação. A questão que fica é: qual será o tamanho da próxima subida da Selic?

Será, de acordo com a sinalização do próprio BC, menor que 1,5 ponto. As apostas contemplam uma subida entre 0,75 e 1 ponto percentual. Para a economista sênior da LCA, Thais Marzola Zara, o próximo movimento da autoridade será uma alta de 1 ponto percentual na Selic, o que levaria a taxa básica ao patamar de 11,75%.

Segundo a especialista, os juros tenderiam a se manter nesse nível até o começo de 2023, quando o Copom passaria a reduzir a Selic. “O horizonte relevante para a política monetária já mudou, com maior peso para 2023.” Conforme a economista da LCA, “[o BC] encerra o ciclo em março, porque em maio já tem o foco totalmente centrado em 2023 e com estimativa de inflação para o próximo ano dentro da meta”. Um eventual ciclo de baixa poderá levar a Selic a um patamar de 6,5%, nos cálculos da LCA. “Mas esse nível só deve ser atingido em 2024.”

A Tendências Consultoria Integrada estima que o BC vai elevar a Selic em 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom, em março. Com isso, a taxa básica subiria para 11,50% ao ano. O movimento encerraria o ciclo de alta dos juros, na avaliação do economista sênior da consultoria, Silvio Campos Neto. “O estágio do ajuste já está avançado e e apenas fica a dúvida se o ajuste será de 75 pontos-base ou 100 pontos-base. Nós estimamos que tende a ser de 75, mas o próprio BC deve passar a sinalizar melhor qual será a tendência nas próximas semanas.”

Na avaliação do economista-chefe da Garde, Daniel Weeks, o fato de o Copom estar adiantado no ciclo de aperto cria um colchão para absorver choques vindo do exterior e também deveria tirar um pouco do ímpeto de quem projeta a Selic muito acima dos 12%. “Não existe regra de Taylor que te gere um juro básico muito acima de 12%, mesmo para quem tem inflação mais alta”, afirma.

A projeção para o IPCA deste ano da Garde está acima da do mercado e do BC – em 6,0%. Para 2023, a estimativa da casa se encontra em 3,2%. Nesse sentido, a Garde mantém a projeção de uma taxa de fim de ciclo de 11,75%, com alta de 1 ponto percentual na próxima reunião. “Se houver alguma surpresa negativa marginal na inflação corrente ou nas expectativas, o Copom pode optar ainda por algum ajuste residual em maio. Mas não acredito que vá voltar a 150 pontos”, diz.

Weeks avalia ainda que, embora a decisão do Copom de sinalizar uma redução no ritmo de aperto na próxima reunião possa ter um reflexo negativo sobre o rali do real, esse efeito deve ser pequeno diante de outras dinâmicas mais importantes, como o futuro da política monetária americana e a rotação global de carteiras em direção a ativos emergentes. “Se [o Copom] tivesse sido mais ‘hawkish’ [inclinado a um aperto monetário mais forte], poderia dar algum impulso adicional”, diz Weeks.

A economista-chefe da Somma Investimentos, Eduarda Korzenowski, analisa que o principal desafio do BC era indicar a desaceleração na intensidade do ciclo de aperto monetário sem “perder o tom”, o que poderia gerar uma desancoragem adicional das expectativas de inflação. “O BC conseguiu frisar aspectos importantes do ponto de vista fiscal, de que, apesar da melhora dos indicadores fiscais no curto prazo, o cenário ainda preocupa bastante”, avalia.

De acordo com Eduarda, a autoridade deve promover uma alta de 0,75 ponto na próxima reunião e encerrar o processo de aperto monetário com a Selic em 11,50%. “Há uma defasagem na política monetária e corre o risco de, se continuar elevando a Selic acima desses patamares, termos uma inflação abaixo da meta em 2023”, aponta.

A ausência de sinalização sobre a magnitude da próxima alta conferiu um grau maior de liberdade para o Copom e deve retirar da mesa apostas que contemplavam Selic muito superior a 12,25% no fim do ciclo, avalia o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso. Mesmo assim, o cenário-base da instituição de uma taxa Selic de 12,25% no fim do ciclo não foi alterado. Segundo Caruso, a projeção contempla uma alta de 1 ponto na reunião de março e um ajuste adicional de 0,5 ponto em maio. “Quando [o BC] opta por usar o plural em ‘seus próximos passos’, é uma escada, com um ajuste que vai desacelerando”, afirma.

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