A relação nem sempre clara entre o Plano Real e a estabilização da democracia no Brasil

Um dos principais personagens do plano que acabou com a inflação no país fala sobre a relação do Real com a democracia

Os economistas Persio Arida e Gustavo Franco. Foto: José Paulo Lacerda/Estadão Conteúdo - 10/03/1995
Os economistas Persio Arida e Gustavo Franco. Foto: José Paulo Lacerda/Estadão Conteúdo - 10/03/1995

A Inteligência Financeira, para a série de podcasts que produz sobre os 30 anos do Plano Real, entrevistou os principais nomes por trás do plano econômico que mudou a história do Brasil. Assim, os personagens comentaram sobre os legados atuais daquilo que construíram.

Mas talvez a resposta mais original foi a de Persio Arida.

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O economista, que com André Lara Resende formulou a Proposta Larida, que por sua vez deu sustentação teórica ao Plano Real, estabeleceu uma relação entre o plano e a estabilização da própria democracia.

“Acho que tem que chamar a atenção para uma conexão que as pessoas normalmente não olham. Sobre a conexão entre democracia e estabilização”, conta Arida.

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Com fala pausada e clara, Arida segue seu raciocínio.

Conta que a inflação brasileira foi de 12% ao ano em 1970 até 200% em 1984.

O ano de 70 marca a conquista do tricampeonato mundial de futebol pela seleção brasileira, mas que coincide com a época mais dura da ditadura, que ganhou poderes excepcionais a partir de 13 de dezembro de 1968.

É nesta data que entra em vigor o Ato Institucional nº 5. Já 1984 marca a pavimentação da redemocratização no país.

Persio Arida lembra que foram tentados planos de estabilização durante a ditadura. Mário Henrique Simonsen tentou. Antônio Delfim Netto também.

“Quando entra a democracia, a coisa muda. Por que que a coisa muda? Porque no regime militar você não tem como protestar. E dois, se der inflação, deu, acabou. Não tem pressão política para mudar. A ditadura é assim mesmo”, analisa o economista.

Plano Real: mudanças com a redemocratização

Assim, a coisa muda na avaliação de Arida com a redemocratização.

Então, governantes sabem, ou aprendem, que combater a inflação garante votos. E principalmente descobrem que o inverso é verdadeiro. É por isso que para o especialista a democracia coloca pressão política no problema inflacionário. “Por isso que os planos de estabilização começam depois da democracia”.

Há que se destacar que desde o governo do presidente José Sarney, os planos foram muitos. Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Verão, Plano Collor 1, Plano Collor 2. Todos fracassaram, mas também formaram uma espécie de colchão de aprendizado para a formulação da proposta que enfim acabaria com a inflação: o Plano Real.

Arida encerra sua análise com a situação presente.

“A lição continua mesma. Olha, se deixar a inflação subir, não vai ser reeleito. Eu não tenho a menor ideia se o Lula vai ser reeleito ou não, nem se vai se candidatar, mas uma coisa eu garanto: deixa a inflação subir que eu garanto que nem ele nem quem ele indicar vai ser reeleito. Com certeza”.

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