Ações da Petrobras caem mais de 7% com críticas de Bolsonaro aos preços dos combustíveis

Os investidores ficaram atentos, nesta segunda (7), ao posicionamento do governo em relação ao aumento dos preços dos combustíveis com a alta do petróleo, com o presidente Jair Bolsonaro criticando a política de preços da Petrobras

A Bolsa fechou em forte queda acompanhando o sentimento de maior aversão ao risco nos mercados globais e pressionada pelo desempenho negativo dos papéis da Petrobras.

O Ibovespa cedeu 2,52%, aos 111.593 pontos. Entre as ações, as ordinárias da petroleira (PETR3, com direito a voto) cederam 7,65%, negociadas a R$ 34,14, e as preferenciais (PETR4, sem direito a voto) cederam 7,10%, cotadas a R$ 31,80.

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Segundo os dados da Economatica, a empresa perdeu R$ 34,674.301 bilhões em valor de mercado nesta segunda-feira.

No exterior, a possibilidade de sanções ao petróleo russo fez com que o preço da commodity disparasse e provocou a queda dos índices acionários na Europa e nos Estados Unidos.

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Pressão sobre combustíveis

Na cena interna, os investidores ficaram atentos ao posicionamento do governo em relação ao aumento dos preços dos combustíveis com a alta do petróleo, com o presidente Jair Bolsonaro criticando a política de preços da Petrobras, nesta segunda-feira.

O presidente Bolsonaro afirmou que a paridade internacional do preço do petróleo é resultado de uma “legislação errada” e “não pode continuar acontecendo”. Ele disse que haverá uma reunião com os ministérios da Economia e da Minas e Energia e a Petrobras para tratar dos preços.

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, confirmou ao GLOBO, que o governo avalia a possibilidade de adotar um subsídio temporário para segurar o preço dos combustíveis, semelhante ao adotado em 2018, quando o governo subsidiou o preço do diesel para acabar com a greve dos caminhoneiros.

Uma possibilidade é que esse subsídio seja bancado com dividendos da Petrobras (parte do lucro transferida à União) e também com receitas extras de royalties e participações especiais.

Em relatório, analistas do Goldman Sachs avaliam esse programa de subsídio como positivo, caso seja aprovado, pois removeria, no curto prazo, o “risco de interrupção da rentabilidade da empresa, uma vez que a Petrobras seria reembolsada pela diferença entre os preços dos combustíveis domésticos e internacionais”.

Para o banco, os preços do diesel e da gasolina estão em uma média de 32% abaixo dos níveis de paridade internacional. O Goldman mantém a recomendação de compra para a empresa, destacando que o rendimento de dividendos compensa os riscos eleitorais.

Petrobras despenca após fala

Para Farto, da Renova Invest, a queda dos papéis no pregão é reflexo direto das falas de Bolsonaro questionando a política de preços da estatal.

“O investidor sabe que há um histórico de intervenção nas políticas de preço da Petrobras e nesse momento de aversão ao risco, é comum eles se desfazerem do papel, até porque as ações da empresa vêm de uma valorização no último mês. A dúvida é que em uma situação mais crítica, eventualmente, possam chegar a uma política de controle de preços. Sabemos que, hoje, existem dispositivos legais que impedem a União de fazer qualquer tipo de controle de preços, mas já vivemos experiências no passado em que esses dispositivos falharam.”

O economista e sócio da BRA, Alexsandro Nishimura, destaca que a combinação de vários fatores geradores de incerteza penalizaram o papel, em um contexto no qual discussões sobre o congelamento temporário de preços ocorrem.

“As falas do presidente sinalizam as intenções do governo. Num momento de elevada aversão a riscos, qualquer ruído se amplifica e ganha contornos maiores. O esforço do governo em derrubar a política de paridade de preços induz ainda mais incertezas quando combinada com a indicação de novos nomes para o Conselho.”

As ADRs, que são recibos de ações de empresas negociados no exterior, caíram 7,93% no pregão da Nasdaq, cotadas a US$ 13,36. Nishimura destaca que os efeitos negativos podem prejudicar os próximos pregões.

“Os efeitos de tais medidas têm potencial de afetar os fundamentos que vinham ajudando as ações a subirem recentemente”, diz.

Intervenção política no radar

Para o analista de Research da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, a queda das ações no dia seguiu o movimento geral de baixas nos papéis devido ao ambiente de maior risco.

Além da Petrobras, outras companhias do setor de petróleo fecharam o dia com quedas. As ordinárias da PetroRio (PRIO3) caíram 2,30% e as da 3RPetroleum (RRRP3), 0,83%.

“Estamos vendo nas bolsas globais, um aumento do prêmio de risco. Isso tem a ver com a articulação entre Estados Unidos e Europa para reduzir a dependência russa. Mas não é possível fazer isso de uma hora para outra, e é muito difícil você cobrir os choques que isso acarretará em uma série de cadeias, inclusive na de petróleo.”

Arbetman ressalta que possíveis intervenções por parte do governo estão no radar dos investidores e impedem que o papel acompanhe a tendência positiva para as empresas do setor de petróleo, com a alta do Brent. A Ativa tem recomendação neutra para o papel.

“Possíveis intervenções estão no radar e somos um país que tem dependência muito grande do recurso energético oriundo de combustíveis fósseis. Ainda é cedo para saber quais vão ser os desdobramentos do aumento do preço do Brent. Não sabemos se o governo vai sair por uma linha menos ofensiva ou se vai vigorar uma alteração forte. Se essa segunda parte passar, podemos ver que o cenário pode ficar menos positivo por causa do desembolso que a companhia pode fazer no refino.”

Um profissional de mercado também destaca que os investidores começam a se questionar se a Petrobras é realmente um hedge, mecanismo de proteção, para a alta do petróleo. Ele cita a defasagem estar alta e o fato de que existem alternativas melhores para proteção no setor.

Entre as medidas que estão sendo veiculadas para tentar conter a alta dos combustíveis, Arbetman avalia que a saída via ICMS como menos agressiva para a Petrobras. “A gente observava isso como positivo para a Petrobras. Mas diante da situação dos estados, a aprovação se torna mais difícil.”

Com reportagem de O Globo.

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