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‘Timing’ para estreia na Nasdaq foi excelente, diz CEO do Inter; ações fecham em forte queda em NY
O banco Inter iniciou a negociação de ações na Nasdaq, em Nova York, nesta quinta-feira (23). Os papéis passam a ser negociados com o ticker INTR. O primeiro dia foi negativo para os ativos, fechando com uma forte baixa de 12,56%, a US$ 3,48.
Ainda assim, o CEO do Inter, João Vitor Menin, afirmou que o timing para a estreia das ações da companhia na Nasdaq foi ótimo, mesmo em meio à derrocada das companhias com forte viés tecnológico, em função do aperto monetário promovido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).
O Inter havia tentando fazer a transferência para o mercado americano no fim do ano passado, mas acabou desistindo em dezembro, após muitos investidores terem optado por receber em dinheiro (“cash-out”) – e não em ações – em um momento de queda dos papéis.
Se a operação tivesse sido realizada no início do ano, os valores desembolsados teriam sido maiores. O cash-out previsto alcançava R$ 2 bilhões, quase o dobro do e a remuneração por unit sairia a R$ 45,84 ante o valor final atualizado de R$ 19,59.
“Eu sou otimista, gosto de ver o copo meio cheio. Acho que foi um excelente timing. Estando aqui nos Estados Unidos, fica muito mais fácil trazer uma base de acionistas de longo prazo do que há seis meses, quando o preço era mais caro e tinha que investir no Brasil. Agora tem um ponto de entrada interessante e a companhia não piorou [apesar da queda das ações], ela continua o que era antes”, disse em entrevista do Valor.
A Inter&Co – nova holding que controla o banco Inter e a fintech americana USend – estreou hoje na Nasdaq com a negociação de suas ações ordinárias de Class A. Além disso, há BDRs negociados na B3. “A listagem na Nasdaq marca mais um grande capítulo da nossa história. Ter nossas ações listadas na Nasdaq fortalece nosso posicionamento como uma empresa de tecnologia global, além de nos dar acesso ao mercado de capitais mais maduro do mundo”, comentou Menin.
Segundo ele, “ao longo dos últimos anos o Inter se transformou em um app bastante completo, com quase 20 milhões de clientes”. O Inter comprou a em janeiro e, há três semanas, lançou um serviço de conta global. A USend tem cerca de 200 mil usuários e a conta global outros quase 300 mil, o que significa que o Inter já tem cerca de 500 mil clientes “dolarizados” e pretende chegar à meta de 1 milhão até o fim do ano. Menin diz que o objetivo é bastante alcançável, já que o Inter tem aberto cerca de 4 mil a 5 mil contas por dia e esse ritmo deve acelerar.
A ideia é tanto aumentar a penetração da conta em dólar na base atual de clientes do Inter como conquistar usuários nos EUA, especialmente entre a comunidade de imigrantes, brasileiros e latinos. “Vamos ser muito assertivos com essa base de imigrantes. Existem quase 40 milhões, 50 milhões de imigrantes aqui, e eles são muito mal servidos, menos bancarizados, pagam alta taxas, têm produtos ruins. Então nossa chance de sucesso é boa.”
Da meta de 1 milhão de clientes, seriam 500 mil com conta global e 500 mil em solo americano propriamento dito.
Apesar de citar a facilidade de encontrar novos investidores, Menin lembra que o Inter fez um follow-on de R$ 5,5 bilhões no ano passado e, assim, tem um índice de Basileia de quase 35%, ou seja, não precisa de capital no momento. “Não precisamos fazer follow-on agora, talvez faríamos se tivesse um grande M&A em vista… mas é algo mais para frente.” Segundo o CEO, uma eventual operação de fusão e aquisição seria para adicionar funcionalidades, e não ganhar escala.
Sobre a relação com a Stone, que no âmbito da migração do Inter para a Nasdaq exerceu a opção de cash-out e, assim, – ficando com cerca de 4% do banco – Menin diz que a parceria entre as duas companhias continua ótima. “Eu fui muito vocal para que eles exercem o cash-out, era um direito deles, assim como de todos os minoritários. Temos uma relação muito construtiva com eles, que ainda possuem um assento no conselho.”
Segundo ele, não há nenhum acordo de acionistas que impeça novas movimentações, ou seja, a Stone pode reduzir ou aumentar sua posição no Inter a qualquer momento. Menin também comentou que a integração de produtos entre as companhias, que foi bastante alardeada quando o acordo foi anunciado, não andou muito. Além de questões exógenas, cada uma estava muito focada em assuntos das suas próprias operações. “Quando acharmos que temos espaço, podemos pensar nessa parte de interação de produtos, que de fato andou muito pouco”.
Com a redução da fatia da Stone e também do fundo Ponta Sul, Menin diz que isso naturalmente abre espaço para a chegada de outros grandes investidores, que até pelo fato de o Inter estar listado nos EUA agora, tendem a ser americanos ou europeus. “Aqui tem mais poupança, então o passivo dos fundos é mais de médio e longo prazo, eles têm uma visão mais de longo prazo do que no Brasil.”
Sobre o cenário brasileiro, o CEO diz que o segundo semestre tende a ser melhor do que o primeiro, mesmo com as eleições, já que o começou do ano foi muito afetado pela ômicron. Ele lembrou que o Inter desacelerou em linhas mais arriscadas, especialmente no cartão de crédito, adotando uma postura cautelosa. “Eu costumo dizer que é melhor ser sábio do que ser esperto. Eu não sei se temos os melhores modelos de crédito do mundo, então preferimos jogar no lado conservador, ter uma fatia pequena de crédito sem garantia. Mas continuamos crescendo o portfólio de cartões, não paramos, só desaceleramos. Se amanhã melhorar podemos voltar a crescer mais, se piorar podemos reduzir.”
Estreia em baixa
No início da tarde desta quita-feira, as ações da Inter&Co, holding do banco Inter, operavam em queda na Nasdaq. Há pouco, os papéis, cujo código é INTR, recuavam 2,65%, a US$ 3,67.
Com a reorganização societária do grupo, as ações do banco (BIDI3, BIDI4, BIDI11) deixaram de ser negociadas na B3 na sexta-feira (17) e os recibos de ações (BDRs) da holding estrearam na segunda-feira (20), sob o ticker INBR31.
Também nesta quinta-feira, ocorre a entrega das ações Classe A da Inter&Co para os acionistas que solicitaram o desfazimento de BDRs.
Para cada seis ações preferenciais do Inter e/ou seis ordinárias, o acionista recebeu um BDR. Para cada duas units, também foi entregue um BDR.
De acordo com a Inter&Co, após o recebimento dos BDRs na sua carteira, o acionista poderá cancelá-los e transformá-los em ações Classe A listadas diretamente na bolsa americana. “Para isso, deverá seguir as instruções e requisitos aplicáveis por meio dos seus respectivos agentes de custódia na B3 a qualquer momento”, diz.
“Durante os 30 primeiros dias de negociação dos BDRs na B3, o Inter subsidiará todas as taxas referentes a essa conversão. Após esse prazo, os custos serão de responsabilidade do acionista”, acrescenta.
Os acionistas – detentores dos papéis até 15 de abril, data em que a operação foi anunciada – que não quiseram ficar com os papéis da Inter&Co tiveram até 20 de maio para optar por receber sua parte em dinheiro (opção “cash-out”). Cada seis ações preferenciais ou seis ordinárias equivaliamm a uma ação preferencial PN resgatável. Duas units também corresponderam a uma PN resgatável, cujo valor atualizado é de R$ 39,18. O pagamento do “cash-out” foi feito na segunda-feira (20).
A reorganização societária do banco Inter foi aprovada em (AGE) em 12 de maio. Segundo o Inter, ao listar as ações da holding Inter&Co nos Estados Unidos, o banco se fortalece como uma companhia global de tecnologia, com acesso ao mercado de capitais mais maduro do mundo. “Aumentaremos e diversificaremos nossa base de investidores, clientes, serviços e produtos”, diz o banco, ressaltando ainda as oportunidades de expansão futura nos mercados internacionais.
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