Ações para combater crise hídrica podem onerar setor elétrico em R$ 140 bi, estimam institutos
Estimativa foi calculada pelos Instituto Clima e Sociedade (iCS), Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e pelo Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema)

As ações adotadas este ano para combater a crise hídrica e a contratação de usinas termelétricas prevista na medida provisória da privatização da Eletrobras podem onerar o setor de energia elétrica em R$ 140 bilhões em até 30 anos, segundo estimativas do Instituto Clima e Sociedade (iCS), do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).
O Brasil enfrentou, neste ano, a pior estiagem em 91 anos, o que afetou os reservatórios das usinas hidrelétricas e levou ao acionamento de térmicas.
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O custo calculado pelas instituições inclui o empréstimo de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões que está sendo discutido para as distribuidoras, de modo a evitar que os repasses aos consumidores nos próximos reajustes tarifários sejam muito altos. A estimativa também considera os R$ 39 bilhões do leilão realizado em outubro para contratação simplificada de térmicas até 2025, de modo a ajudar a recuperar os reservatórios.
Do valor total, mais da metade deve ser direcionada para a contratação de 8 gigawatts (GW) de capacidade de pequenas centrais hidrelétricas e térmicas a gás prevista na Medida Provisória 1031/2021, que autoriza a capitalização e consequente privatização da Eletrobras.O texto foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro em julho, depois de passar pelo Congresso este ano.
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Estimativas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostram que os gastos com a contratação das usinas prevista na MP vão chegar a R$ 78,3 bilhões, já que as térmicas serão instaladas em regiões que não produzem gás, o que vai demandar a construção de gasodutos.
Mais emissões de carbono
Além disso, especialistas apontam que o setor pode ter um forte aumento nas emissões de carbono. Caso operem a 80% da capacidade, as térmicas previstas na MP da Eletrobras vão levar o país a emitir 20 milhões de toneladas a mais de carbono por ano. “É um aumento de 37,4% nas emissões do setor em 2019”, compara o coordenador de Projetos no Iema, Ricardo Baitelo.
Mesmo que as usinas térmicas contratadas a partir da MP da Eletrobras operem com 70% de capacidade, o aumento de emissões ainda é alto, estimado em mais 17,5 milhões de toneladas de carbono por ano.
“A crise hídrica não terminou, e vamos enfrentar anos difíceis porque o governo segue com as mesmas soluções, negando o combate às mudanças climáticas. Estamos deixando de priorizar a energia barata e não poluente para colocar na frente da fila a emissão de fósseis”, aponta a consultora de Energia do iCS Amanda Ohara, responsável por calcular as estimativas dos custos.
O ex-diretor do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Barata, defende a necessidade de repensar o modelo de planejamento energético brasileiro, além de um maior foco em eficiência energética, para ajudar a reduzir o consumo de energia.
“Lamentavelmente, no Brasil, a gente faz algo que não funciona e, depois, repete a mesma atitude, achando que vai funcionar. Nos últimos anos, o setor se diversificou barbaramente, com novos players tomando decisões, e só o consumidor, quem paga a conta, é que não participa delas”, diz Barata.