Análise: Desaceleração no setor de serviços segura revisões positivas para o PIB
Especialistas avaliam que a economia está em um patamar pior do que se acreditava no início do ano
Após duas quedas consecutivas na atividade dos serviços, economistas divergem sobre a perspectiva para o resto do ano, mas concordam que o setor sinaliza que a economia brasileira está em um patamar pior do que se acreditava no início do ano.
“Essa PMS [Pesquisa Mensal de Serviços, divulgada pelo IBGE] deve segurar revisões de PIB para cima que vinham acontecendo. Traz uma informação de que começamos 2022 um pouco pior do que esperávamos anteriormente. Portanto, essas revisões pra cima do PIB devem cessar, ficando ainda abaixo de 1% e mais próximas da projeção que a gente tem que é de 0,6% para 2022”, comentou a economista-sênior da AZ Quest, Mirela Hirakawa. “A surpresa foi negativa”, pontuou, ressaltando ainda a revisão do dado de janeiro, que levou os serviços de uma queda anteriormente prevista de 0,1% para declínio de 1,8%. Em fevereiro, de acordo com os dados revelados hoje, a queda foi de 0,2% ante janeiro.
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“Cabe salientar que o último IBC-Br divulgado, outro importante indicador de atividade, que serve como antecedente do PIB, também ficou abaixo do esperado pelo mercado. Todavia, podemos inferir que a atividade econômica brasileira, que no ano passado tinha apresentado recuperação do período de pandemia, começa a desaquecer e isso vem sendo refletido pelos indicadores de atividade”, avaliaram os economistas da CM Capital em relatório.
O economista do Banco BV Carlos Lopes também classificou o resultado da PMS como “fraco”, mas disse que não vê uma fraqueza consolidada que se arrastará para o ano todo. “Pelo contrário, vemos esse resultado como ainda sendo pontual. Talvez ainda uma extensão da piora da pandemia em janeiro”, comentou.
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Lopes destaca que os serviços prestados às famílias, que tiveram alta modesta de 0,1%, foram o ponto que mais decepcionou no dado de fevereiro. “Pode ser reflexo da pandemia que preocupou em janeiro. Fora isso os outros setores em grande parte continuam se recuperando bem. A gente ainda mantém uma visão positiva para os serviços no ano a despeito desse resultado pior em fevereiro”, declarou.
Hirakawa, da AZ Quest, observa que, apesar da decepção que deve acionar a cautela nas projeções de PIB, o grupo de serviços às famílias tem potencial para desempenhar melhor ao longo do ano com a melhora das condições da pandemia, embora inflação e juros altos também estejam no cenário.
“Esse grupo é muito importante para entender a dinâmica geral dos serviços e do PIB ao longo de 2022. E, aqui, a gente tem um carregamento muito relevante, de 15,3%, que é ainda acima do que a gente tem de diferença entre o patamar atual e o patamar pré-pandemia, que nesse grupo está em 13,7%”, analisou. “Ou seja, a gente tem ainda um espaço para a retomada de serviços prestados às famílias e está dentro das nossas expectativas do PIB projetado para 2022, que é de 0,6%. Um dos motivos desse crescimento vai ser esse segmento dos serviços prestados às famílias”, concluiu.