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A inflação vai cair? Veja o que dizem os analistas sobre o IPCA-15 de março
Embora a prévia da inflação de março tenha vindo bem acima da expectativa da AZ Quest, a composição do número, observada a partir de medidas que tentam suavizar o efeito de itens mais voláteis, indica que a desinflação está ocorrendo, segundo a economista Mirella Hirakawa.
Apesar disso, Hirakawa destaca que sua projeção teve a quinta surpresa consecutiva para baixo “na composição do número”, diz, olhando para medidas subjacentes como os núcleos IPCA-EX2 e IPCA-EX3 e excluindo higiene pessoal, que tem sido muito volátil.
“A expectativa do mercado estava até pior que a nossa. Éramos o limite inferior [das projeções] e ainda assim veio abaixo. É marginalmente para baixo, mas é pulverizado, o que é muito mais importante, porque se você tem uma surpresa em apenas um item, não consegue ter certeza da trajetória. O que a gente observa é uma surpresa boa que indica uma trajetória da composição”, afirma.
Houve, segundo Hirakawa, uma surpresa de 0,13 ponto para cima nos preços administrados, parte dela compensada pelos preços livres, em que a composição foi melhor.
A surpresa em administrados é explicada por energia elétrica e combustíveis, nota Hirakawa. “A energia elétrica é perene, porque é o efeito de TUST e TUSD maior do que esperava. Esse impacto fica para o ano”, diz, em referência às tarifas do setor que voltaram a vigorar.
A gasolina, por outro lado, já dá sinais no sentido contrário (baixista) nos dados de alta frequência, aponta a economista, e, por isso, a pressão observada agora não deve ser repassada para o ano.
“A surpresa veio de itens voláteis, principalmente um que tem sinalização mais clara de que pode cair em breve”, afirma.
A AZ Quest espera um IPCA de 5,5% para 2023. Para março, o número deve ficar ao redor de 0,65%.
Política monetária
Apesar do “copo meio cheio”, o número não traz um viés baixista para a composição de inflação do Banco Central, diz Hirakawa, porque a autoridade monetária já estava no limite inferior das projeções, segundo ela.
“Segue o jogo para o BC. O número de hoje traz pouca surpresa benigna, mas pode confirmar um cenário de desinflação. Por ora, parece que não tem grande surpresa de composição que ele consiga responder com política monetária”, afirma.
O nível da inflação subjacente continua muito elevado, lembra Hirakawa, fator que justifica em grande parte o tom do BC.
A AZ Quest espera que o corte na Selic comece em agosto deste ano, mas Hirakawa diz ver uma “janela de oportunidade” começar a surgir a partir de junho, quando se espera que o novo arcabouço fiscal já tenha sido apresentado. “Vai depender de todos os ingredientes dessa receita para ter um bom produto final”, afirma.
XP
O resultado da prévia da inflação de março é “um sinal de alívio em meio à turbulência”, segundo Rodolfo Margato, economista da XP. “As leituras recentes do IPCA mostraram a inflação ao consumidor ainda pressionada, mas os resultados da prévia de março trouxeram sinais mais animadores”, diz em comentário.
Os principais desvios de alta em relação à projeção da casa vieram de gasolina, higiene pessoal e frutas, segundo Margato. Por outro lado, as principais surpresas baixistas vieram de veículos próprios, lácteos e derivados e tubérculos, raízes e hortaliças.
Apesar do índice cheio um pouco acima das estimativas, Margato diz avaliar os resultados desagregados do IPCA-15 como “relativamente benignos”.
Por exemplo, aponta, a média dos núcleos de inflação – medidas que tentam suavizar o efeito de itens mais voláteis – avançou 0,41% em março, ante fevereiro, abaixo da projeção de 0,46% da XP. “Assim, a média móvel de três meses anualizada com ajuste sazonal – importante para avaliar a tendência de curto prazo – ficou praticamente estável na comparação mensal (de 5,80% para 5,82%). Ou seja, ainda longe da meta de inflação do Banco Central (3,25% em 2023), mas um sinal de alívio na margem”, afirma.
Da mesma forma, acrescenta, a inflação de serviços subjacentes (mais sensível à política econômica) subiu 0,32% em março, ante fevereiro, também significativamente abaixo da projeção de 0,49% da XP. A média móvel de 3 meses anualizada e dessazonalizada variou de 4,41% para 4,43% no período.
Os componentes de preços industriais e industriais subjacentes vieram acima dos números da XP, mas Margato destaca que a grande contribuição altista foi do volátil item de higiene pessoal, especialmente dos preços de perfumes.
“A nosso ver, parece cedo para afirmar que o processo de desinflação retomará tração daqui para frente, tendo em vista o cenário de elevação das expectativas inflacionárias, taxa de câmbio depreciada e alguns estímulos de curto prazo à atividade econômica. No entanto, a perspectiva de não haver reaceleração dos preços ao consumidor é bem-vinda”, diz Margato.
A XP espera um IPCA de 5,5% em 2023.
Itaú Unibanco
A leitura do IPCA-15 de março corrobora o cenário de desinflação em curso, embora as medidas de núcleo sigam rodando acima do compatível com o cumprimento da meta de inflação, na avaliação do Itaú Unibanco. “Na margem, com dados dessazonalizados e anualizados, a inflação de industriais subjacente está rodando em ritmo de 7%, enquanto o núcleo de serviços está próximo de 5%”.
O banco aponta em relatório que nas próximas leituras, embora com pressão em preços administrados, principalmente gasolina e medicamentos, “devemos observar recuo da inflação acumulada em 12 meses para ao redor de 4,0%, influenciado pelo efeito base dos cortes de impostos no ano passado”.
“A inflação volta a acelerar nessa base de comparação a partir do terceiro trimestre do ano. Projetamos 6,1% para o IPCA em 2023 e 4,2% em 2024.”, completa o Itaú.
Warren Rena
A prévia da inflação ao consumidor de março veio em linha com o esperado pela Warren Rena: alta de 0,67% e 5,36% acumulada em 12 meses. “Esta foi a menor variação para março desde 2020. Nossa avaliação sobre a inflação subjacente, medida que busca identificar as tendências do movimento da inflação desconsiderando fatores temporários, é de continuidade da desaceleração”, diz Andréa Angelo, economista-chefe da casa.
“Vale ressaltar que há uma importante desaceleração em curso da inflação afetada pela dinâmica menos favorável da atividade econômica e da política monetária que devem ter seus efeitos intensificados a frente. Esperamos que a inflação encerre o ano em 6%”, conclui.
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