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Análise: Petrolíferas lucram como nos tempos de Rockefeller
As companhias petrolíferas, bem ou mal administradas, privadas ou estatais, voltaram a ser o melhor negócio do mundo, como no tempo do magnata americano John D. Rockefeller. A Standard Oil Company, fundada por ele em 1870, chegou a ter 90% do mercado americano de querosene e gasolina, até ser desmembrada em 34 companhias em 1911.
Rockefeller não ficou mais pobre, pelo contrário. Como manteve participação nas novas empresas, tornou-se o primeiro e ainda o maior bilionário da história empresarial americana (e mundial), usando como régua o produto interno bruto. Em 1937, ano da sua morte, seu patrimônio foi estimado em US$ 1,4 bilhão, equivalente a 1,5% do PIB americano.
As herdeiras da Standard Oil, como ExxonMobil e Chevron, e seus pares no mundo todo passaram por maus bocados nos últimos anos, mas estão no topo novamente, na esteira da alta do petróleo e do gás, efeito da retomada da demanda no pós-pandemia e dos gargalos de abastecimento provocados pela guerra na Ucrânia.
Um levantamento feito pelo repórter Felipe Laurence, do Valor, mostra que as maiores produtoras americanas, europeias e latino-americanas faturaram US$ 594,3 bilhões no segundo trimestre, alta de 77% na comparação anual, e lucraram quase US$ 100 bilhões, o que é o triplo do mesmo período do ano passado.
A Petrobras, apesar de não fazer parte do grupo do “Big Oil” global, veio com números que fizeram jus às chamadas “supermajors” e arrancou exclamações de todos os analistas que acompanham a estatal brasileira. Foi o melhor resultado da estatal e o maior dividendo já pago: quase R$ 90 bilhões. Cerca de R$ 30 vai para o caixa da União ajudar a pagar o aumento no Auxílio Brasil no valor do vale-gás. “O dividendo é nosso” é o novo “o petróleo é nosso”. Finalmente, parte dos donos do negócio — o povo brasileiro — vai receber, ainda que indiretamente, sua parte dos lucros.
Os analistas não pouparam elogios, porém chamaram atenção para os riscos eleitorais. Ainda assim, de dez casas acompanhadas pelo Valor, nove recomendam a compra do papel (seja ação ordinária, preferencial ou recibos negociados em Nova York) e uma tem posição neutra. Cinco delas aumentaram o preço-alvo recentemente. No caso da preferencial, os valores vão de R$ 33,70 a R$ 53,00 entre sete bancos, uma média de R$ 43,00. Nesta segunda-feira, a PN fechou R$ 36,63, alta de 5%, em patamar recorde.
As ameaças de uma recessão global podem limitar os ganhos. Ainda assim, a aposta que os preços do petróleo fique perto de US$ 100 o barril até o fim do ano. No caso da Petrobras, além dos preços, há mais uma pedra no caminho: a eleição que pode definir se a gigante brasileira, responsável por cerca de 80% do fornecimento nacional de diesel e gasolina, será ou não privatizada — e, por que não, desmembrada como a Standard Oil em várias empresas concorrentes.
Por Nelson Niero, Valor — São Paulo
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