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André Braz, da FGV: Corte de impostos para conter inflação terá pouco efeito no orçamento das famílias
O corte de impostos em alguns produtos, anunciado ontem pelo governo para diminuir preços e dar mais fôlego ao bolso do consumidor, deve ter pouco efeito para aliviar o orçamento já apertado das famílias, na análise do economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz. Responsável por cálculo dos indicadores da família dos Índices Gerais de Preços (IGPs) da FGV, o especialista comentou que outros fatores entram na composição de preço dos produtos – e podem ajudar a mantê-los mais caros. Como exemplos ele cita uma relação desequilibrada de oferta e demanda e até matéria-prima mais cara. Além disso, os itens que serão contemplados com corte de imposto pesam pouco no orçamento familiar, informou.
Na tentativa de conter o avanço da inflação, o governo decidiu reduzir em 10% as tarifas de importação de bens de capital, informática e telecomunicações. A medida entra em vigor em 1º de abril e busca baratear a importação de máquinas e produtos de tecnologia. Além disso, a União anunciou que vai reduzir de 18% para zero o imposto de importação do etanol, além de zerar a taxa de importação de seis produtos da cesta básica: café, margarina, queijo, macarrão, óleo de soja e açúcar cristal.
Braz frisou que itens selecionados para corte de imposto são preços livres – e não monitorados, como é o caso de combustíveis. No caso desse tipo de preço, fatores fora do controle do governo, de relação de oferta e demanda e até mesmo cotação de commodities entram na composição de preço no mercado doméstico, mesmo com a redução do imposto. Isso também faz com que seja praticamente impossível prever o impacto do corte do imposto, em pontos percentuais, no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação do governo.
Braz deu exemplos do que poderia acontecer com o preço de alguns itens contemplados com corte de imposto pelo governo. Como é o caso do etanol. Com a gasolina mais cara e menor imposto em etanol, isso na prática deixaria essa segunda opção mais atrativa ao consumidor que possui um carro flex, por exemplo, que pode usar os dois produtos como combustível. “Mas, se com aumento de demanda, a oferta do etanol não acompanhar [alta procura] isso vai levar a uma relação de oferta menor do que demanda, e acabar deixando o etanol mais caro”, exemplificou.
Outro exemplo que ele citou foi o óleo de soja. Mesmo com corte de imposto no mercado doméstico, o preço desse produto é influenciado por sua matéria-prima, a soja, uma commodity cujo preço flutua no mercado internacional, e tem se mostrado volátil, como o preço da maioria das commodities – tendo em vista o ambiente internacional turbulento, com a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Um aspecto que também deve ser levado em consideração é o fato de que, na prática, os produtos alvos da medida do governo pesam pouco nas despesas do brasileiro. Ele informou que o peso de todos os itens, cujo corte de impostos já foi anunciado pela União, representa em torno de 3% no IPCA “Para se ter uma ideia, somente aluguel residencial pesa mais que isso, em torno de 3,66%; já o gasto com energia elétrica do consumidor, por exemplo, pesa 4,99% no IPCA”, acrescentou. “No IPCA, açúcar cristal pesa 0,14%; margarina, 0,11%; óleo de soja, 0,33%; café solúvel, 0,01%; café moído, 0,42%; queijo, 0,54%; macarrão, 0,15%; e etanol, 0,93%”, enumerou ele. “E no IPCA, temos o quesito TV, som e informática, que pesa 0,87% no indicador, mas somente informática seria 0,32% [de peso]”, acrescentou ele.
Na prática, para Braz, mesmo com imposto menor, não há garantia que os preços dos produtos contemplados pelo governo chegarão mais baratos nas gôndolas. “Existe uma série de outros mecanismos de mercado, operando por trás [dos produtos que serão contemplados por corte de imposto] que podem não permitir essa queda de preços junto ao consumidor”, resumiu.
Com Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico
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