‘Apagão de dados’ pode levar Copom usar informações defasadas; BC nega
Servidores do Banco Central não devem aceitar reajuste de 5% e preparam contraproposta

O apagão de dados gerado pela greve dos servidores do Banco Central (BC) levanta dúvida sobre quais informações estarão disponíveis ao Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima reunião, em 3 e 4 de maio.
A Associação Nacional dos Analistas do Banco Central do Brasil (ANBCB) afirma que, por causa da greve, a diretoria trabalhará com dados defasados. A autoridade monetária, no entanto, diz que o encontro não será prejudicado.
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Ontem ocorreu nova reunião entre o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e representantes dos servidores. Segundo relatos, a categoria ouviu que o reajuste linear de 5% – anunciado na semana passada pelo governo – é consenso entre ministros e foi chancelado pelo presidente Jair Bolsonaro. Apesar de receberem sinalizações positivas em relação a outras demandas de melhoria para a carreira, a tendência é que os funcionários do BC apresentem contraproposta.
Os trabalhadores pedem reajuste de 27% e reestruturação de carreira. Eles e outras categorias da elite do funcionalismo começaram a se mobilizar após o presidente Jair Bolsonaro sinalizar que pretendia contemplar apenas categorias da área de segurança pública, sua base eleitoral.
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A entidade afirma que as expectativas do mercado para os principais indicadores da economia, coletadas pelo BC e publicadas semanalmente no relatório Focus, não serão atualizadas para o Copom. O último boletim disponível é de 25 de março – sem a mobilização, as projeções disponíveis seriam de 29 de abril. O comitê decide os rumos da taxa básica de juros (Selic), que está em 11,75% ao ano.
Segundo o BC, entretanto, “a produção das apresentações de conjuntura para o Copom é atividade essencial e, portanto, será realizada durante a paralisação. Em sistema de contingência, os dados da pesquisa Focus continuarão sendo acessados e usados pelos integrantes do Copom”. A categoria contesta, contudo, que essa atividade seja um serviço essencial.
As projeções, especialmente de inflação, são importantes para a condução de política monetária porque compõem cenários e influenciam as decisões do Copom.
A categoria entrou em greve em 1º de abril e diversas publicações foram suspensas. De acordo com levantamento de impactos da greve em cada departamento do BC, divulgado pela entidade, cerca de 60% dos servidores do departamento de estatísticas estão em greve desde o primeiro dia. Além disso, mais de 70% dos comissionados pediram dispensa da função.
“Apesar de continuar coletando informações brutas para compilar as estatísticas econômico-financeiras, os processos de compilação de estatísticas dentro do Dstat [departamento de estatísticas] foram significativamente afetados com a operação-padrão realizada pelos servidores do departamento e estão parados com a deflagração da greve dos servidores do departamento e estão parados com a deflagração da greve dos servidores do Banco Central”, disse a associação.
As estatísticas do setor externo, monetárias, de crédito e fiscais também foram impactadas e foram publicadas somente até janeiro deste ano. Normalmente, na reunião de maio os dados fechados disponíveis são de março, com informações preliminares de abril.
Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, haverá impacto mesmo se o colegiado tiver acesso aos dados. “Com o Copom acessando as expectativas do mercado é um mal menor. Pelo menos a autoridade terá acesso aos dados e poderá divulgar na reunião. Evidentemente que a divulgação desses dados juntamente com a decisão da autoridade poderá gerar um solavanco no mercado”, afirmou. “Vale pontuar também que, de maneira indireta, as próprias expectativas não estão em sua plenitude, ao passo que as mesmas se retroalimentam”, acrescentou.
A economista da Tendências e pesquisadora associada do Ibre-FGV Juliana Damasceno lembra que algumas das categorias que mais se mobilizam por reajustes estão entre as que já ganham mais e que se não há dinheiro para, por exemplo, ampliar o alcance de benefícios sociais para a fatia mais pobre da população é difícil justificar com bom senso que haja recursos para aumentos para esses servidores. “Quem tem mais poder de influência acaba levando seu bocado”, diz ela. Por outro lado, acrescenta, servidores veem bilhões destinados a emendas de relator e ao fundo eleitoral enquanto suas categorias não têm reajuste desde 2017.
No BC, o salário inicial (sem comissão) para analistas é de R$ 19.197,06 e pode chegar a R$ 27.369,67 no último nível da carreira. A remuneração dos técnicos começa em R$ 7.283,31 e vai até R$ 12.514,58.