Argentina vai apostar em ‘superministro’ para comandar a economia

Sergio Massa substitui Silvina Batakis, que ficou apenas 28 dias no cargo

Assim como no Itaú Unibanco, o euro segue como a moeda mais transacionada pelo terceiro mês consecutivo - Foto: Pixabay
Assim como no Itaú Unibanco, o euro segue como a moeda mais transacionada pelo terceiro mês consecutivo - Foto: Pixabay

Sergio Massa, político próximo das duas alas do dividido governo argentino, vai comandar a economia da Argentina. Ele foi indicado para o lugar de Silvina Batakis, que ficou apenas 28 dias no cargo. Ele vai chefiar um superministério, com mais poderes na área econômica, que incorporará as pastas de Produção e Agricultura. A troca ocorre em meio a uma crise econômica, com disparada da inflação e do dólar. Analistas, porém, estão céticos quanto a uma possível mudança de rumo da economia.

Massa, de 50 anos, que até a quinta-feira (28) ocupava a presidência da Câmara dos Deputados, disse que anunciará na segunda-feira os integrantes da equipe econômica.

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O novo superministro é tido como o mais importante articulador político entre membros do governo ligados ao presidente argentino, Aberto Fernández, e os partidários da vice-presidente Cristina Kirchner — que estão à beira do rompimento total desde o fim do ano passado. Kirchner era ferrenha opositora do acordo que a equipe do ex-ministro da Economia Martín Guzmán firmou com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em março, para rolar uma dívida de US$ 44,5 milhões. Guzmán renunciou em 2 de julho.

O movimento para destituir Batakis e nomear Massa foi coordenado conjuntamente por Fernández, representantes de Kirchner, e por 12 governadores que se reuniram na Casa Rosada na quarta-feira. Batakis entregou o cargo na tarde de ontem e a fusão dos Ministérios e a escolha de Massa foi informada por meio de um comunicado duas horas depois.

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“O modo como a crise vinha se desenrolando desde a saída de Guzmán chegou a um ponto insustentável nas últimas semanas e o governo precisava agir para ao menos tentar mostrar que buscava uma solução”, disse o economista da consultoria Perspectiv@s Económicas, Luis Secco. “Mas a chegada de Massa é menos uma ação de resposta à crise econômica e mais uma espécie de construção política, que pretende dar um marco de governabilidade e algum peso de controle institucional ao Gabinete”, analisou.

“Mas é muito difícil que a eventual ascensão de Massa signifique que se possa fazer mais do que o governo vem fazendo em termos de gestão econômica até agora”, afirmou Secco. “Na verdade, nem Fernández, nem Cristina, nem Massa, nem quem quer que seja demonstrou disposição de renunciar às suas visões de gastomaníacos sobre papel de Estado. Massa foi um dos gestores que mais promoveram gastos nas gestões peronistas, através de aposentadorias e pensões sem ter fundos para todos e da cobrança impostos extorsivos para financiar suas iniciativas de gastos”, disse. “Sabendo o que já sabemos sobre ele, considero perda de tempo esperar alguma mudança em termos de política econômica.”

As incertezas afetam a economia argentina há vários anos, mas ganharam intensidade nas semanas que se seguiram à substituição de Guzmán por Batakis. No começo de julho, o dólar no mercado paralelo estava cotado a 200 pesos, mas acumulou seguidas altas recordes na semana passada, quando chegou a ser negociado por 380 pesos. Medidas do governo para limitar a venda de dólares para importadores e restringir gastos de pessoas físicas no exterior alimentaram a disparada da moeda americana — cuja taxa oficial, fixada pelo governo, é de 130 pesos.

Neste mesmo período, o risco-país subiu de 2.050 para 2.996 pontos e os preços dispararam. A inflação acumulada no ano até junho chegou a 36,2% e economistas já projetam uma taxa de 90% para 2021. Pelo acordo com FMI, essa taxa deveria chegar, no máximo a 48%.

O país vive também uma crise de desabastecimento de produtos importados, como café e óleo diesel — que tem levado a seguidos protestos de caminhoneiros.

“Não vejo como Massa pode tirar o país desse atoleiro”, afirmou o economista da consultoria Ferrerés & Asociados, Nicolás Alonzo. “Qualquer plano destinado a dar alguma estabilidade à economia teria de ser muito duro, algo que seri contrário ao seu perfil político”, afirmou.

A saída de Batakis do Ministério, no entanto, foi recebida positivamente pelo mercado, com o dólar no paralelo revertendo a alta e fechando em 313 pesos. A ex-ministra vai ocupar agora o presidente do estatal Banco Nación. Já o ex-titular do Ministério da Produção, Daniel Scioli, retornará ao posto de embaixador no Brasil.

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