Banco Central aumenta juros para 7,75% ao ano; saiba o que muda nos seus investimentos
A elevação, de 1,5 ponto percentual, visa a tentar conter a inflação e deve aumentar a atratividade da renda fixa
O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) anunciou, no início da noite desta quarta-feira (27), um aumento de 1,5 ponto percentual na Selic, a taxa básica de juros do país, que vai a 7,75% ao ano, o maior nível desde setembro de 2017. A autoridade monetária avisou, ainda, que vai fazer mais um aumento de 1,5 ponto percentual na sua última reunião do ano, em 7 e 8 de dezembro.
Essa forte elevação tem como objetivo domar a inflação. Na terça (26), o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de outubro, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi uma surpresa negativa: ficou em 1,2%, contra a previsão média do mercado financeiro de 0,97%. No acumulado de 12 meses, chegou a 10,34%.
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Depois dessa notícia, os analistas do mercado financeiro, que previam uma elevação de 1 ou 1,25 ponto percentual da Selic desta vez, passaram a apostar em 1,5 ponto percentual. Além disso, coube a Roberto Campos Neto, presidente do BC, a tarefa de remediar, com os juros, os efeitos do descumprimento do teto de gastos por conta do pagamento do Auxílio Brasil com vistas à eleição de 2022.
Apesar da unanimidade na opinião de que os juros deveriam mesmo subir agora, há discordância, entre os especialistas sobre os motivos e o que fazer daqui em diante:
Últimas em Economia
João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos
“O Copom foi cauteloso com o risco fiscal e a inflação, que não é fruto só de choques de preços, está mais disseminada, o que traz mais pressão para o próximo ano. Com a Selic a 9,75%, a inflação fica apenas um pouco abaixo da meta. Não haveria tanto espaço para subir o juro acima disso, e há espaço para reduzi-lo já no final do ano que vem 2022.”
Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da RPS Capital
“O BC continua olhando para trás no fiscal, dá mais peso para o passado do que para o futuro. Estamos mudando o regime fiscal com a PEC dos Precatórios. Com outra regra fiscal, o juro de equilíbrio é outro, é mais alto. “[A queda futura dos juros, não antes de 2023], vai depender muito das eleições e das regras fiscais que os candidatos mais bem colocado vão apresentar.”
Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama, e Elisa Andrade, analista de macroeconomia da corrretora Órama
“Entendemos que, a despeito de a responsabilidade fiscal ser fundamental para a ancoragem das expectativas, parte da inflação atual está sendo impulsionada por choques de oferta. Sendo assim, pode ser prematura a visão de uma relação mecânica, automática e imediata dos atuais ruídos políticos sobre a demanda agregada, que exijam um choque de juros desproporcional para contê-la. É provável, inclusive, que movimentos mais acentuados de alta tragam desaquecimento da atividade, que procura uma retomada mais consistente para o ano que vem (com o progresso da vacinação), além de poder trazer o espectro da dominância fiscal. Nesse sentido, a elevação de 150 pontos-base parece ser adequada para as condições de momento.”
Por que importa?
A taxa de juros é a principal ferramenta do BC para proteger o valor da moeda brasileira, que vem caindo substancialmente. Quando a Selic sobe, empresas e consumidores se sentem desestimulados a tomar crédito para investir na produção ou adquirir bens, a economia esfria e a alta dos preços desacelera.
Como afeta seus investimentos?
De maneira geral, o aumento dos juros torna as aplicações em renda fixa mais atraentes e reduz a atratividade das ações. Com juros maiores, por que correr riscos na Bolsa? No entanto, a seleção de aplicações precisa ser mais cuidadosa. Há empresas que ganham com a alta da Selic e com outras circunstâncias da economia neste momento, como a taxa de câmbio entre dólar e real subindo.
Com reportagem de Júlia Moura e edição de Denyse Godoy