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Banco Central pode rever sinalizações de cortes da Selic, indica diretor
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, afirmou nesta quinta-feira (7) que a preocupação com as expectativas de inflação para 2025 e 2026 não é somente com o nível acima da meta, mas também com o tempo em que elas estão desancoradas. Guillen participou da 11ª edição do Annual Brazil Macro Conference, organizada pelo Goldman Sachs.
“Cria um farol apontando para o lado errado e isso vai se perpetuando em reindexação de salários e impacto sobre a definição de preços”, explicou o diretor, que frisou que entre os efeitos dessas expectativas desancoradas está a necessidade de juros em nível contracionista.
Ele salientou ainda que as expectativas para o ano que vem e o seguinte já estão acima da meta de inflação há mais de 30 semanas.
Ao comentar sobre a evolução do processo de desinflação, o diretor do BC destacou a inflação de serviços e afirmou que a abertura teve certa queda seguida por certa estabilização.
Guillen também reiterou a mensagem do Comitê de Política Monetária (Copom) da importância da evolução do hiato e do mercado de trabalho para a trajetória de desinflação.
Forward guidance
O diretor de Política Econômica do Banco Central disse que a autoridade monetária vai avaliar o uso do instrumento do “forward guidance” à frente. O BC tem dito que vê novas reduções da taxa Selic em 0,5 ponto porcentual como adequadas nas “próximas reuniões”, no plural, citando os dois encontros seguintes.
“Para a frente, a gente vai analisar. Será que a incerteza aumentou e o forward guidance continua fazendo sentido, ou não continua fazendo sentido? É uma questão de confiança sobre o processo, de risco e retorno”, disse Guillen, no evento organizado pelo Goldman Sachs, com transmissão online de áudio.
Ele lembrou que o forward guidance do BC é condicional, ou seja, indica novos cortes de 0,5 ponto porcentual nas duas reuniões seguintes apenas caso o cenário esperado pelo BC se confirme. E disse ver vantagens de ter adotado essa medida – um “instrumento adicional de política monetária”, como definiu.
“Ao longo do segundo semestre do ano passado, contribuiu para indicar o que queríamos fazer”, disse Guillen, para quem esse instrumento de comunicação ajudou a dissociar as expectativas para a taxa Selic do comportamento do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos.
Segundo o diretor, será preciso ponderar o custo de manter o guidance nas próximas reuniões. “É um esporte de altíssimo risco para atletas avessos a risco, que são policymakers”, afirmou.
Selic no fim do ciclo
Diogo Guillen se recusou a responder o que, na visão da autoridade monetária, vai determinar o nível da taxa Selic no fim do ciclo. “Isso é o ‘forward guidance do forward guidance’, eu não vou dar. Mas, disso tudo, é o compromisso com o atingimento da meta”, afirmou, respondendo a uma pergunta durante participação em evento do Goldman Sachs.
Ele disse ainda que, no curto prazo, o debate doméstico sobre a relação em atividade e inflação e os choques globais de política monetária são o principal desafio para o BC. No médio prazo, destacou a discussão sobre preços relativos. “Atuar em política monetária com choque em preços relativos é difícil”, afirmou.
Consenso entre países
O diretor de Política Econômica do Banco Central reiterou que a expectativa de início dos processos de corte de juros é consenso entre os países, com uma discussão também compartilhada sobre se as taxas terminais serão ou não contracionistas. Os países, afirmou, em sua maioria, ou já iniciaram algum tipo de corte ou estão discutindo qual será o momento adequado para começar.
Outra pauta comum entre os países, defendeu, é o processo de reancoragem das expectativas de inflação no horizonte. A velocidade do processo de desinflação, porém, deve ocorrer com certa heterogeneidade, a depender do tipo de política monetária e do ciclo doméstico de inflação e atividade, ponderou. “Tem uma velocidade de desinflação em dois estágios ao mesmo tempo que tem o compromisso dos bancos centrais em atingir a meta.”
O diretor do BC também retomou a discussão sobre a taxa de juros real ser alta no Brasil e frisou que para evitar comparar “banana com laranja” é necessário utilizar a taxa neutra dos países para realizar essa análise.
Atividade externa
Diogo Guillen afirmou que o cenário externo tem caminhado para um crescimento que não desacelera tanto. Ao comentar sobre o cenário da atividade econômica norte-americana, disse que sempre foi cético sobre um soft landing nos EUA. “Sempre achei difícil”, disse. “Será que vai conseguir acertar pote de ouro no fim do arco íris?”
Guillen frisou ainda que assim como no Brasil, é possível observar resiliência do consumo nos EUA.
A análise de histogramas de analistas do mercado, afirmou, mostra que nos últimos meses aumentou a expectativa para o crescimento em 2024 e 2025 dos Estados Unidos.
Essa elevação, ponderou, não é tão clara na Europa , e na China, por outro lado, as revisões foram para baixo.
Reformas e PIB potencial no Brasil
O diretor de Política Econômica do Banco Central disse ainda que o conjunto de reformas econômicas dos últimos anos pode ter aumentado o PIB potencial do Brasil. Mas quantificar esses impactos é difícil, devido principalmente aos ruídos criados pela pandemia de covid-19, acrescentou.
“Qualitativamente, eu acho que tem um aumento de PIB potencial, eu acho que as reformas empurram para o lado de PIB potencial, flexibilidade, melhoram a alocação de recursos. Agora, cravar um número de reformas no mesmo momento em que teve uma pandemia, eu acho difícil”, disse Guillen, no evento do Goldman Sachs.
Com informações do Estadão Conteúdo
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