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Bancos e gestoras elevam previsão de PIB para 2022, mas retração deve vir em 2023
Diante de resultados melhores tanto de atividade quanto fiscais ao longo do primeiro semestre e com as novas medidas de estímulo anunciadas pelo governo nas últimas semanas, instituições financeiras têm revisado suas expectativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Para 2023, no entanto, é esperada uma contração.
Os benefícios contidos na PEC Eleitoral, como a elevação do valor do Auxílio Brasil, e o estabelecimento de um teto para alíquotas do ICMS, que tende arrefecer o impacto do preço dos combustíveis nos orçamentos das famílias, abrindo espaço para outros gastos podem, no curto prazo, retardar o efeito do aperto monetário realizado pelo Banco Central (BC).
Essas medidas se somam a outras como os resgates do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), também estimulados pelo governo para aquecer a economia.
Vale lembrar, contudo, que as propostas são vistas como fatores de pressão para a inflação do próximo ano, o que tende a impactar o crescimento.
Benefícios devem impactar economia
O Itaú Unibanco elevou sua projeção para o PIB do Brasil em 2022 de 1,6% para 2%. A previsão para 2023 foi mantida em 0,2%.
Segundo o banco, a ampliação do pagamento de benefícios sociais no segundo semestre deste ano deve impactar positivamente a economia no período.
O banco, no entanto, alerta que a sustentabilidade fiscal “está voltando a ser um desafio relevante”.
“O próximo governo terá que definir sobre a continuidade dos auxílios que serão implementados no segundo semestre deste ano, além do arcabouço fiscal que será válido à frente, em uma economia emergente com dívida pública alta e juros elevados”, destacaram.
Na semana, a XP Investimentos também elevou de 1,6% para 2,2% a projeção para o crescimento do PIB em 2022.
A corretora justificou a revisão à retomada mais forte do mercado de trabalho e aos estímulos fiscais adicionais no curto prazo.
Segundo dados da da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (Pnad Contínua Mensal), a taxa de desemprego no país ficou em 9,8% no trimestre encerrado em maio deste ano, a menor taxa para o mês desde 2015.
O atual cenário também fez a XP revisar a expansão do segundo trimestre a subir de 0,6% para 0,8%. Para 2023, a expectativa se manteve em alta de 0,5%.
“Entre as razões, o aumento da mobilidade, preços de commodities em patamares ainda elevados e expansão dos investimentos de governos estaduais. Além disso, estimamos que a massa de renda disponível às famílias cresceu aproximadamente 7% no primeiro semestre de 2022 ante o segundo semestre de 2021, após ajuste sazonal”, destacam os analistas da XP, em relatório.
De acordo com a XP, o enfraquecimento da atividade no segundo semestre deste ano deverá ser mais suave do que o imaginado.
“As medidas contidas na PEC podem gerar impacto líquido de 0,25 ponto percentual sobre o PIB total de 2022, segundo nossos cálculos, via aumento de massa de renda disponível e, consequentemente, estímulo ao consumo. Incorporamos esses efeitos ao cenário base”, destacaram.
Efeito dos juros deve aparecer mais à frente
A melhoria do mercado de trabalho e o aumento da demanda do setor de serviços fizeram a Confederação Nacional da Indústria (CNI) elevar a projeção de crescimento da economia neste ano. Segundo o Informe Conjuntural do 2º Trimestre, divulgado nesta sexta-feira pela entidade, a estimativa passou de 0,9% em abril para 1,4% em julho.
O setor de serviços segue acima do nível pré-pandemia, apesar de ter desacelerado na passagem de março para abril.
A Santander Asset Management Brasil elevou sua projeção para PIB de 1,1% para 1,5% em 2022, mas manteve a previsão para 2023 em 0,5%.
“O efeito dos juros elevados sobre a atividade deverá ser sentido com mais intensidade nos próximos trimestres, quando antecipamos uma relevante desaceleração. Ainda assim, por ora, o que tivemos foi um primeiro semestre com performance mais positiva do que o antecipado”, escreve a equipe na Carta Mensal de julho.
Em revisão de cenário no início do mês, os economistas do Bradesco destacaram que o quadro fiscal do país ficou mais incerto nas últimas semanas, diante do avanço de pautas que ampliam desonerações e gastos do governo, o que reduz a probabilidade de superávit primário neste ano.
Ainda assim, o banco elevou a projeção para o PIB deste ano de 1,5% para 1,8%, mas reduziram a do PIB de 2023 de 0,3% para zero.
Política monetária mais dura e exterior são obstáculos
O Bradesco ressaltou que a atividade econômica segue aquecida e destaca a recuperação do mercado de trabalho, com ritmo forte de contratações no mercado formal nos primeiros cinco meses do ano.
Apesar disso, o banco projeta que, a partir do segundo semestre do ano, a atividade começará a perder fôlego.
“Os efeitos da política monetária devem se somar ao menor dinamismo da economia internacional e das condições financeiras mais apertadas. Ademais, o Brasil não será beneficiado pelo crescimento dos preços das commodities, como verificado nos últimos trimestres”, afirmam os economistas do Bradesco.
O Goldman Sachs revisou a projeção de crescimento real do PIB em 2022 para 2,1% ante os 1,6% da leitura anterior. Para 2023, houve corte de 0,8% para 0,7%.
O banco destaca que algumas medidas de estímulo fiscais adotadas neste ano já estão programadas para terminar até o começo do próximo. Além disso, é previsto um cenário de inflação mais alta, já que algumas das desonerações adotadas devem ser revertidas, além do cenário mais adverso no exterior.
“Nossa projeção para 2022 seria consistente com uma expansão de 0,8% no 2º trimestre e com o impulso de crescimento diminuindo para 0,3% no terceiro trimestre, seguido por uma ligeira contração no quarto trimestre”, destaca o banco.
Por Vitor da Costa, O Globo, Rio de Janeiro.
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