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O Brasil em NY: como o investidor estrangeiro vê a nossa economia?
Na última semana, ocorreu em Nova York a 16ª edição do LatAm CEO Conference promovida pelo Itaú-Unibanco. O evento já se tornou, nos últimos anos, um dos principais encontros anuais entre lideranças de grandes empresas latino-americanas e investidores institucionais.
Na edição deste ano, 130 empresas fizeram apresentações para mais de 500 grupos de investidores (70% dos quais estrangeiros). Ocorreram ainda mais de 1.300 encontros entre grupos menores de investidores e empresas, 85% das quais estavam representadas por seus CEOs ou membros de conselho.
Por reunir um público tão qualificado, o evento também é uma valiosa oportunidade de debater os rumos da economia mundial, latino-americana e, claro, brasileira.
CEO Conference em NY: o que foi discutido sobre a economia brasileira?
No caso da economia brasileira, o investidor estrangeiro parece andar mais otimista do que o investidor local. Essa situação, que não é incomum, muitas vezes decorre da comparação objetiva dos fundamentos de nossa economia com os de países considerados peers.
Isto é, países que “jogam na mesma liga” do Brasil por terem, por exemplo, mercados internos também significativos (alguns exemplos são África do Sul, Turquia e México).
Nessas comparações, o Brasil costuma se destacar positivamente, com algumas exceções, claro. Dentre elas, o México, que tem mantido um ambiente de negócios previsível e confiável, ao mesmo tempo em que se beneficia do movimento de nearshoring – isto é, de produção próxima ao mercado consumidor final.
Esse movimento foi impulsionado por um quadro geopolítico mais conturbado e pela maior relevância de estratégias de gestão de risco de cadeias de suprimento por parte das empresas, algo decorrente da experiência da pandemia, em que várias cadeias foram interrompidas.
A visão estrangeira mais positiva para o Brasil também vem de uma abordagem pragmática que reconhece que ativos brasileiros estão muito descontados, o que coloca um viés positivo para a performance futura destes, e que o posicionamento do mercado em ativos brasileiros segue leve.
Tudo isso ocorre em um contexto em que cenários extremos (isto é, os chamados “riscos de cauda”) vem se tornando menos prováveis.
Em particular, o cenário de juros americano vem subindo para patamares muito maiores, o que poderia induzir a apertos monetários em outras jurisdições e, assim, levar a uma desaceleração mais intensa da economia mundial.
Esse fato vem saindo do radar na medida em que a crise bancária americana leva a uma expectativa de aperto dos padrões de concessão de crédito, sem que para isso seja necessário elevar a taxa básica americana muito mais (nosso cenário no Itaú é que o banco central americano encerrou o ciclo de alta de juros, com a última elevação feita no início de março para o intervalo de 5,00 a 5,25% ao ano).
No cenário local, o arcabouço fiscal, que o governo brasileiro busca aprovar, muito provavelmente não estabilizará a relação dívida/PIB, mas restringirá o ritmo de piora desta relação.
O arcabouço estabelece ainda que o crescimento do gasto público ficará limitado em termos reais ao intervalo de 0,6% a 2,5% ao ano.
Considerando um crescimento potencial do PIB brasileiro entre 1,5% e 2%, isto implica que o tamanho do governo em relação à econômica deve oscilar, mas provavelmente não crescerá exponencialmente.
Assim, o arcabouço diminui o risco de caminharmos para um cenário extremo de questionamento da capacidade de pagamento da dívida pelo governo brasileiro.
A conferência contou ainda com a participação dos governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e Romeu Zema, de Minas Gerais.
Dentre os pontos importantes da discussão com os governadores, a agenda de privatizações de empresas estaduais teve destaque e ajudou a fomentar a percepção de que haverá no Brasil oportunidades interessantes de investimento para o setor privado nos próximos anos.
Em suma, embora o investidor estrangeiro, em geral, vislumbre que o quadro brasileiro ainda carece de uma narrativa consistente de crescimento, uma análise pragmática da situação coloca o Brasil como um destino potencial de fluxos de investidores estrangeiros.
Os pontos considerados para isso em relação a outros países são os seguintes: nível de preços dos ativos, posicionamento do mercado, riscos de cenários extremos e oportunidades pontuais (de privatização em alguns estados, por exemplo).
Resta saber se tal fluxo virá efetivamente para o país e com que intensidade, em um ambiente cíclico ainda desafiador e com dúvidas ainda relevantes sobre a política econômica do novo governo. A ver!
Por Fernando M. Gonçalves, economista e superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco. Artigo originalmente publicado na coluna ‘Macroscópio’, do Feed de Notícias do íon Itaú. Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.
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