Brasil tem 2ª maior inflação entre 16 países e energia explica 2/3 do “excesso”, aponta UBS BB
A inflação foi o principal foco da economia mundial no último trimestre e tem sido neste ano
O Brasil fechou 2021 com a segunda maior inflação em um painel de 16 países analisados pelo UBS BB em um estudo, atrás apenas da Turquia. Considerando o núcleo da inflação – medida que busca suavizar o efeito de itens mais voláteis -, o Brasil ficou em quarto lugar.
O exercício do UBS BB inclui, além do Brasil, Austrália, Canadá, Chile, Colômbia, República Tcheca, Hungria, Japão, México, Polônia, Rússia, África do Sul, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos e a zona do euro.
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A partir dos 16 selecionados, o UBS BB construiu uma “tendência comum” da inflação – uma “aproximação” da inflação global -, que foi comparada com o desempenho do Brasil. A equipe concluiu que a energia explica dois terços do “excesso” de inflação no país, em relação a essa tendência, em 2021. O terço restante foi devido ao núcleo de bens.
“Os serviços foram muito semelhantes à ‘tendência’ e a alimentação foi muito superior ao longo de 2020 e 2021, mas terminou 2021 muito próximo da ‘tendência comum'”, escrevem o economista-chefe do UBS BB, Alexandre de Ázara, e os economistas Fabio Ramos e Rodrigo Martins.
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A inflação foi o principal foco da economia mundial no último trimestre e tem sido neste ano, observam eles. Ela está alta em todos os lugares, levando os bancos centrais a reagir aumentando as taxas de juros ou sinalizando que estão prestes a fazê-lo, um movimento no qual o Brasil foi um dos líderes ao elevar a Selic em 8,75 pontos percentuais desde março de 2021, para 10,75%.
O UBS BB observou que, desde 2017, quando o Brasil conseguiu reduzir a inflação do período 2013-2016, seu índice cheio está mais correlacionado com a “tendência comum”. “Ao contrário do pico anterior, que não estava correlacionado com a inflação global, agora parece que estamos vivendo um fenômeno mundial”, dizem Ázara, Ramos e Martins.
Olhando para os núcleos – que excluem alimentos e energia -, o Brasil desacelerou mais do que a tendência no início da pandemia. Traçando a inflação de núcleo anualizada em 24 meses – isto é, no período da crise da covid-19 -, porém, os economistas observaram que o Brasil se comportou bem em linha com a tendência, que também foi de aceleração nos últimos meses. O que explica essa inflação cheia mais alta do Brasil pode estar fora dos núcleos, então?
Analisando a inflação da alimentação no domicílio no Brasil, o estudo percebeu que ela é altamente volátil e tem uma correlação mais baixa com seus pares, mas convergiu no fim de 2021 para a “tendência comum”. A energia, por sua vez, é um dos itens de maior correlação com o painel. “Mas está se comportando de forma diferente no Brasil, pois além da gasolina e outros combustíveis, inclui os custos de energia elétrica”, dizem os economistas.
A variação ano contra ano do custo da energia no Brasil foi de 34,9% em dezembro de 2021, ante 4,4% em dezembro de 2020. Enquanto isso, a “tendência comum” apresentou variações de 17,2% e -4,6%, respectivamente.
Se o grupo energia no Brasil tivesse observado a mesma variação anual da tendência, a inflação cheia no país seria de 7,7% em 2021 e de 3,5% em 2020, frente aos 10,1% e 4,5% oficiais, aponta o estudo. Como a tendência em 2021 foi de 6,5%, a diferença de energia explica dois terços do “excesso” de inflação no Brasil naquele ano e um terço da diferença em 2020, afirma o relatório.
“Esse é o efeito combinado da depreciação cambial real de 20% que ocorreu no Brasil após o início da pandemia e o aumento nos custos de energia elétrica devido ao uso de usinas termelétricas, causado pelo baixo nível dos reservatórios de água em 2021. Isso deve ser contido daqui para frente já que a estação chuvosa nos últimos três meses aumentou os níveis dos reservatórios, o que significa um fator baixista para a inflação de 2022”, dizem os economistas.
A inflação do núcleo de bens do Brasil, por sua vez, foi muito mais fraca em 2020 e é muito mais alta em 2022, observa o relatório. Como a variação de bens em 2020 foi menor que a “tendência comum” e muito maior em 2021, o efeito foi uma variação de 5,2% nos dois anos. “Os bens são o principal determinante do aumento do núcleo de inflação no Brasil”, afirmam Ázara, Ramos e Martins.
O núcleo de serviços, por sua vez, demonstra um comportamento bem em linha com a tendência tanto em 12 quanto em 24 meses.
A inflação cheia no Brasil em 2015-2016 – fruto de uma política monetária excessivamente frouxa e de uma expansão fiscal exagerada, segundo o IBS BB – foi tão alta quanto a observada no fim de 2021, indica o estudo. A questão é que, diferentemente daquela época, agora, a inflação do mundo também está bem mais elevada. “Desta vez, parece ser um fenômeno muito mais global nos preços das mercadorias”, conclui o relatório.
Com Valor Pro, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.