Brasil tem ‘compromisso com estabilidade econômica’, diz Haddad ao FMI
Ministro da Fazenda afirma em carta que governo Lula está comprometido em 'garantir estabilidade macroeconômica em ambiente desafiador'
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, em comunicado ao Comitê Monetário e Financeiro do Fundo Monetário Internacional (IMFC, na sigla em inglês), que o Brasil tem compromisso com a estabilidade macroeconômica, com a justiça social e a sustentabilidade ambiental. O IMFC um colegiado de 24 membros com designação para definir as diretrizes as diretrizes do FMI, o Fundo Monetário Internacional.
O documento, assinado em conjunto com mais dez países foi enviado em meio às reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial, em Washington, DC, onde estão reunidas autoridades econômicas de todo o mundo até a próxima sexta-feira (14).
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Carta de Haddad ao FMI ameniza relação com Campos Neto e BC
O ministro Haddad assina o documento, embora não participe do evento, já que participa da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à caminho da China.
Conforme o comunicado ao IMFC, o governo Lula, após cem dias, provou seu firme compromisso de garantir a estabilidade macroeconômica em um ambiente desafiador, ao mesmo tempo em que cria espaço para cumprir uma agenda ampla. “A principal prioridade é manter a sustentabilidade fiscal e da dívida, ao mesmo tempo em que fortalece os programas sociais e o apoio aos mais pobres”, destaca Haddad no documento.
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O texto do ministro da Fazenda ameniza os atritos com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Lula vem alfinetando publicamente Campos Neto em discursos. Sua principal queixa é a taxa de juros básica, a Selic, hoje fixado a 13,75% ao ano e criticada pelo presidente da República por ser ‘alta demais’.
“O Brasil foi a primeira grande economia a começar a apertar a política monetária no início de 2021, quando ficou claro que as pressões inflacionárias eram amplas e persistentes. Depois de atingir um pico acima de 12% no início de 2022, a taxa de inflação caiu pela metade e é comparativamente menor do que na maioria das economias avançadas”, aponta.
No entanto, ressalta Haddad no comunicado, o crédito contraiu e a atividade econômica continua a abrandar, com o mercado de trabalho a dar sinais de moderação. “Espera-se um crescimento moderado no próximo ano, com a melhora do cenário macroeconômico geral”, afirmou o ministro.
De acordo com as expectativas do mercado, a inflação cairia gradativamente para, aproximadamente, 4% em 2024, dentro da faixa de tolerância, mas ainda acima da meta de inflação. Segundo o texto, com o aumento da confiança no quadro fiscal e uma trajetória de consolidação fiscal afetando consistentemente as expectativas de inflação, haverá espaço para acomodação da taxa básica de juros.
Haddad alerta a perigo de ‘fragmentação da economia’
Ainda na carta ao FMI, Haddad afirmou considerar a fragmentação da economia global “um risco importante, que deve ser enfrentado com determinação”.
Para ele, a crescente concentração dos fluxos comerciais e de investimentos entre países alinhados geopoliticamente, especialmente em setores estratégicos, é extremamente preocupante.
O ministro afirma que as políticas industriais e tecnológicas nacionais nas economias centrais contribuem ainda mais para esse processo, e isso pode levar a perdas de bem-estar para mercados emergentes e economias em desenvolvimento (EMDEs) que precisam de diversificação e integração com cadeias produtivas de alto valor agregado.
“A redução da atividade global, a menor integração vertical das empresas, o protecionismo aberto ou disfarçado e o desvio de investimentos podem agravar a situação. Estamos convencidos de que garantir uma ordem econômica internacional baseada em regras que promovam a integração econômica, a diversificação da produção, o compartilhamento de conhecimento e menos pobreza e desigualdade é a melhor maneira de evitar uma maior fragmentação”, destacou o ministro.
Combate a mudanças climáticas
Outro tema abordado pelo ministro no documento encaminhado ao FMI foi o combate a mudanças climáticas.
“A pandemia mostrou o potencial e as deficiências da cooperação global diante de um desafio global esmagador. As autoridades de todo o mundo reagiram prontamente, seguindo diferentes estratégias e abordagens, inclusive o FMI. No entanto, estamos convencidos de que uma cooperação internacional mais estreita teria resultado muito melhor, especialmente para os países mais pobres e populações mais vulneráveis”, aponta.
Para Haddad, o progresso na implementação da agenda do Acordo de Paris — plano em que os governos acordaram em manter o aumento da temperatura média mundial abaixo dos 2°C em relação aos níveis pré-industriais — exige que as economias avançadas intensifiquem o financiamento climático para apoiar os esforços de mitigação, adaptação e transição das EMDEs.