Campos Neto diz que mercado está menos receoso com favoritismo de Lula nas pesquisas

Presidente do Banco Central avaliou que diminuiu o temor com passagem de um governo para outro

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, acredita que a inflação brasileira vai atingir um pico entre abril e maio e depois deve recuar. Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, na GloboNews, na noite de segunda-feira, Campos Neto avaliou que a intensificação das tensões entre Rússia, Ucrânia e União Europeia colaborou para a alta do petróleo – mas que já vinha em uma trajetória de alta anterior, frisou -, e citou ainda a quebra da safra e o risco de escassez hídrica como elementos que anteciparam o pico da alta de preços.

Campos Neto também comentou sobre a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em que o mercado entendeu uma crítica da autoridade monetária ao subsídio aos combustíveis. “A linguagem da ata é técnico-estrutural. O que quisemos dizer é que, uma baixa artificial dos preços dos combustíveis, pode ter um efeito de curto prazo na inflação, mas, olhando o cenário estrutural, isso iria piorar o cenário de inflação estruturalmente falando”, argumentou.

Ainda a respeito da ata, o presidente do Banco Central comentou sobre a ausência de risco fiscal, aventada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, por causa da redução de despesas. ”A melhoria fiscal teve efeito na inflação, mas foi parcial, os gastos acompanharam a variação da inflação, mas precisa olhar o longo prazo. O que os agentes econômicos estão olhando hoje com relação ao equilíbrio fiscal é o crescimento. Devemos nos debruçar em como fazer Brasil crescer estruturalmente, sermos capazes de ter programa que convença os investidores de que vai ter crescimento”, disse.

Ainda a respeito do crescimento, Campos Neto disse que o país havia se preparado para uma depressão que não houve, com política monetária frouxa e injeção de recursos na economia, e que o Brasil teve mais problemas de demanda do que de oferta e elogiou a atuação do BC: “Largamos na frente de outros países na fixação de taxa de juros restritiva. Nossa missão principal é a inflação. Temos uma janela de atuação e vamos atuar. O instrumento que temos é eficiente e vamos usá-lo”, afirmou. O instrumento, explicou, é fazer a inflação ficar controlada para favorecer o crescimento.

Cenário eleitoral

O presidente do Banco Central disse que o mercado passou a ser menos receoso da passagem de um governo para o outro, ao responder se o favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas eleitorais já estaria “precificado no mercado” ou se haveria turbulência.

Campos Neto disse que, observando os preços de mercado, “o que tem acontecido mais recentemente é uma eliminação de vários preços que mostram o risco da passagem de um governo para outro”. “Porque provavelmente um governo que representava um risco de medidas mais extremas está se movendo para o centro. Essa é a nossa interpretação do que a gente captura nos preços de mercado”, acrescentou.

Campos Neto lembrou ainda da importância de o Banco Central ter ganho autonomia – o que foi feito nesse governo, frisou -, “para ter independência entre o ciclo político e os ciclos de política monetária”. No entanto, destacou que ainda é muito cedo. “Muitas coisas devem acontecer no processo eleitoral.”

O presidente do BC disse que pretende terminar seu mandato – que vai até dezembro de 2024 -, mesmo se o presidente Jair Bolsonaro não vencer o pleito neste ano. “Fico até o fim do mandato”, cravou.

Questionado sobre o risco de o Brasil perder investimento externo por causa da questão ambiental, principalmente o aumento do desmatamento, Campos Neto disse que o BC não tem como entrar nesse debate, mas ressaltou a agenda verde, que visa criar condições para o desenvolvimento de finanças sustentáveis, maior disponibilidade de recursos para empreendimentos sustentáveis e melhor gerenciamento dos riscos climáticos. O presidente do BC admitiu que o risco existe, mas que o BC discute qual agenda pode adotar para fazer o país avançar nesse território.

Ainda na esfera política e dos riscos geopolíticos, Campos Neto disse que o BC está preparado para possíveis oscilações e pressões e que, mesmo com a percepção de incerteza eleitoral, o Brasil tem recebido investimentos externos e tem tido uma performance melhor nos últimos 12 meses que muitos países. “Estamos bem”, concluiu.

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