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Campos Neto: intervenção em preços resolve no curto prazo, mas desencoraja investimentos
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira que intervenções em preços de energia, como petróleo e eletricidade, podem solucionar o problema de alta nos preços no curto prazo, mas desencorajam investimentos no setor.
Durante painel sobre mudanças climáticas promovido pelo Bank of International Settlements (BIS), conhecido como o banco central dos bancos centrais, Campos Neto disse que há três soluções para a inflação mundial de alimentos e energia e usou o exemplo brasileiro.
Como um grande produtor de commodities, o Brasil está com um “choque positivo”, com uma balança comercial positiva, melhora na renda e a arrecadação federal surpreendendo para cima.
Por outro lado, o país tem um choque negativo social, com alta nos preços dos alimentos e de energia, com a população mais pobre precisando de assistência.
Nesse cenário, segundo Campos Neto, a solução para esse problema precisa de “muita atenção”. Ele apontou três. A primeira seria algo bem “liberal e prático”, mas inviável socialmente, de dizer que os preços ditarão o equilíbrio do mercado.
“Você pode ser bem liberal e prático e dizer que os preços vão ditar o equilíbrio. Em algum momento, os preços vão subir, o consumo vai cair e as pessoas vão se adaptar. Isso não é socialmente ou politicamente viável”, disse.
A segunda seria fazer uma intervenção nos preços. Segundo o presidente do BC, isso acontece em vários países, mas só serve para resolver o problema no curto prazo.
“Eu vou intervir nos preços, nos processos de produção de petróleo, de produção de eletricidade e isso vai solucionar o problema no curto prazo, mas desencoraja investimentos e no final das contas eu acredito que o setor privado vai resolver o problema, não o governo”, afirmou.
A terceira solução, considerada boa por Campos Neto, é a de subsídios, mas que traz um perigo.
“Você pode pegar um pouco desse choque positivo e transferir para solucionar os problemas sociais por subsídios. Essa é uma boa solução, mas há o problema de que, quando você cria o subsídio, há o risco de se tornar uma despesa permanente”, disse.
Campos Neto ressaltou que a inflação mundial atual tem vários fatores, entre eles a inflação verde (causada pelas mudanças estruturais necessárias para uma transição para energia limpa), inflação dos combustíveis fósseis e um grande problema na oferta.
De acordo com Campos Neto, muitos países estão tentando solucionar a alta de preços em energia e alimentos, proibindo exportações e tomando medidas protecionistas, o que, segundo ele, não é uma boa saída.
“Acredito que isso está criando uma grande incerteza em investimentos e vai exacerbar o problema. Essas políticas feitas por países individualmente numa tentativa desesperada para ter certeza que tenham segurança energética e alimentar de uma maneira descoordenada estão adicionando a inflação verde e de combustíveis fósseis ao mesmo tempo”, disse.
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