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Cenário agora sinaliza queda menor da Selic, dizem economistas
A trajetória da inflação prevista pelo Banco Central deve levar a um aumento das projeções do mercado para a taxa Selic no final deste e do próximo ano, avaliam os economistas. Ou seja, os juros devem cair menos do que se esperava.
A leitura dos analistas é que os patamares de 9% para a Selic em dezembro, e de 8,5% no fim de 2025, como indicado pelas medianas da pesquisa Focus, serão insuficientes para fazer com que o IPCA convirja para o centro da meta, de 3%.
Essa percepção ganhou força depois da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do BC, na semana passada.
No cenário de referência, o BC estimou que a inflação fecharia este ano em 3,5%, cairia a 3,2% em 2025, e repetiria a mesma taxa em 2026.
Isso significaria que, com a trajetória da taxa Selic indicada no relatório Focus, a autoridade monetária não vê o IPCA convergindo para o centro da meta, que é de 3%.
Ciclo menor
“A mensagem que veio das projeções do RTI, de inflação acima da meta dois anos à frente, é que não parece ser possível a Selic cair até 8,5%, que o ciclo teria de parar antes”, diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor da A.C. Pastore & Associados.
“Do ponto de vista de mercado, já houve uma reavaliação a esse respeito: a curva não coloca mais 9% como uma Selic terminal possível.”
O nível da taxa Selic precificado pela curva de juros tem oscilado ao redor de 9,75% desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), há duas semanas, enquanto o Boletim Focus ainda não se moveu.
Como mostrou o Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o colegiado tentou usar a ata, divulgada em 26 de março, para mostrar que seu cenário-base para o juro no fim do ciclo estava preservado, mas não convenceu o mercado.
Para Schwartsman, o atraso nos ajustes das projeções é natural pela forma de apuração do Focus, mas a tendência continua sendo de elevação das medianas.
Uma Selic de 8,5% no fim do ano que vem, com IPCA de 3,5%, como indica a mediana, representaria juro real de 5% – apenas um pouco acima da taxa neutra calculada pelo próprio BC, de 4,5%, e em linha com a estimativa de boa parte do mercado.
“Se a projeção para a inflação segue acima da meta e para reduzi-la à meta você precisa de um juro real maior do que o neutro, estamos vendo que o juro terminal claramente não será 8,5%”, diz Schwartsman, que espera Selic de 9,25% no fim de 2025.
Futuro presidente do BC
Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, considera “bem possível” um aumento da mediana da Selic no fim deste ano, de 9% para 9,25%, na próxima edição do Focus.
As projeções do relatório trimestral sugerem, diz ele, que seria necessário uma taxa entre 9,5% e 9,75% no fim deste ano para promover a convergência da inflação à meta.
Mesmo assim, Leal mantém a projeção da Selic a 9% no fim deste ano, com um corte de 0,5 ponto porcentual em maio, seguido por cinco baixas de 0,25 ponto.
Interromper a redução dos juros ainda no primeiro semestre, em sua visão, poderia colocar o BC sob pressão na segunda metade do ano, quando o governo escolherá o próximo presidente da autarquia.
“O modelo do BC não está convergindo não só por causa da trajetória de juros do Focus, mas também por causa das expectativas de inflação, que estão acima da meta. E por quê? Porque ninguém sabe que BC estará aí a partir de janeiro”, diz.
“Se o BC parar de cortar juros agora, essa vai ser uma profecia autorrealizável: você aumenta a chance de ter um nome heterodoxo e, aí, as expectativas não caem mesmo.”
Risco alto
A diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management, Solange Srour, acredita que a mediana do Focus para a Selic não deve mostrar grandes mudanças por ora.
Segundo ela, é mais provável que os economistas esperem mais dados de inflação subjacente para ver a evolução da relação entre o mercado de trabalho aquecido e os preços de serviços, uma das incertezas apontadas pelo BC.
“Com base no nosso cenário, parece que a Selic terminal daria para ser menor que 9,75%, mas depois de um discurso que mostra uma certa divisão no Copom, dados mais fortes de mercado de trabalho, PIB dos Estados Unidos e discursos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mais duros, o risco está para ser mais alto do que ser mais baixo”, diz, observando que a precificação da Selic em torno de 9,75% pode ser um nível restritivo demais.
“Mas é um patamar mais condizente com os dados e a comunicação recente do que os 9% do Focus.”
Segundo ela, o que vai determinar qual número está mais próximo da realidade são os dados dos próximos meses, e, principalmente, quando terá início a queda de juros pelo Fed.
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo
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