Chuvas no RS: o que esperar do clima na região para os próximos anos?
Especialistas explicam o que está acontecendo e as possíveis soluções para evitar que essas ocorrências se torem constantes
Há algumas semanas, o Estado do Rio Grande do Sul (RS) vem enfrentando uma sequência de fortes chuvas que culminaram em enchentes em mais de 440 municípios, incluindo a capital, Porto Alegre. Para se ter uma ideia, de acordo com o boletim diário da Defesa Civil, nessa quarta-feira (15), mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas pelas chuvas no RS.
Mas, por qual motivo o Estado gaúcho está passando por esse evento climático tão severo? E mais: o que esperar para os próximos anos?
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Nós, da Inteligência Financeira, conversamos com especialistas da área ambiental e de meteorologia, que trouxeram as explicações. Além disso, os profissionais também apontaram possíveis soluções que podem contribuir para que essas chuvas no Rio Grande do Sul não sejam constantes. Veja só!
Por que essa concentração de chuvas no RS?
Então, começamos explicando o motivo do clima extremo. De acordo com Renata Franco, especialista da área ambiental e regulatória, no caso específico de Porto Alegre, a ausência de uma significativa inclinação do relevo, dificulta o escoamento de água em uma região em que se tem, também, uma convergência natural das águas.
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“Além disso, de um lado tem-se a Cordilheira dos Andes e do outro o Oceano Atlântico. Assim, os ventos que cruzam o continente de oeste a leste, por cima dos Andes, ganham velocidade na bacia do Rio da Prata. E essa intensa circulação atmosférica acaba por impulsionar tempestades severas”, explica.
Mas claro que não podemos deixar de levar em consideração que as enchentes no Rio Grande do Sul foram causadas pela grande quantidade de precipitação registrada em poucas horas. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), entre os dias 30 de abril e 4 de maio, foram mais de 500 mm em diversos pontos acumulados simultaneamente. E não houve tempo hábil para o escoamento ou a absorção da água pelo solo.
“Vale apontarmos que as áreas mais afetadas, como as bacias dos rios Jacuí e Taquari, têm presença de diversos tipos de solo. Como Argissolo, Chernossolo, Latossolo etc. Mas, independentemente da capacidade de retenção ou drenagem de cada um deles, a saturação do solo ocorreu pela quantidade muito elevada de água em um curtíssimo período, o que causou alagamentos, enchentes e erosões”, esclarece Heloisa Pereira Nóbrega, meteorologista da Ampere Consultoria, empresa de inteligência nas áreas de meteorologia.
Portanto, a soma desses dois fatores (relevo e ventos atmosféricos), acrescentando o aquecimento global e uma “natural” deficiência de drenagem nos centros urbanos por ausência de investimento das prefeituras, temos a situação vivenciada no Rio Grande do Sul.
Tempo quente e seco
Além disso, outro fenômeno que contribui para que as chuvas no RS permaneçam no Estado é o clima quente e seco do Sudeste. A região, que já deveria estar mais fria, vem enfrentando temperaturas acima dos 30ºC.
Então, essa massa quente e seca impede que as nuvens carregadas subam do Sul em direção as outras áreas do Brasil. E aí, o resultado é o que estamos presenciando: chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul.
Quando as chuvas no RS darão uma trégua?
Ainda de acordo com Heloisa, nos próximos dias ainda poderemos ter chuvas no RS. “Já entre o final dos meses de maio e junho, podemos esperar maior presença de ar frio no Estado e menor potencial de chuva. Aliás, o frio intenso poderá ser outro problema para as milhares de pessoas que estão em abrigos precários, sofrendo com a falta de suas casas e suprimentos”, alerta.
Por outro lado, a previsão do tempo no Rio Grande do Sul apresentada pela maioria dos modelos meteorológicos indica que, no trimestre de junho a agosto, devem ser registradas chuvas abaixo da média normal climatológica.
“Apesar disso, essa indicação dos modelos pode ser de que a frequência temporal das chuvas no Sul não deve ser boa. Mas eventos severos de precipitação não estão descartados ao longo do período. Isso pode ocorrer em particular em julho no Rio Grande do Sul, quando o Estado possui um alto valor climatológico de precipitação”, pontua a meteorologista.
O que esperar para os próximos anos?
Desse modo, com todos esses problemas envolvendo chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul, a dúvida que fica é se eventos climáticos extremos como esse podem se tornar constantes na região.
Segundo Renata Franco, infelizmente, podemos dizer que esses fenômenos podem sim ser rotineiros. “As alterações climáticas provocadas pelo aumento da emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) e consequentemente da temperatura no Globo estão cada vez mais frequentes e mais extremas. Além do aquecimento global, temos a intensificação de alguns fenômenos meteorológicos como El Niño e La Niña”, afirma.
De acordo com um registro do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em 2023 o país teve 1.161 desastres naturais. “Um recorde desde que os registros começaram em 2011. E isso demonstra essa tendência de aumento [de eventos climáticos extremos]”, alerta a especialista.
Possíveis soluções para as chuvas no RS
Mas uma boa notícia: ainda temos chances de evitar que esses problemas se tornem constantes.
“A solução não é única e deve ser enfrentada. As cidades devem ser repensadas de modo a privilegiar áreas verdes que propiciam conforto térmico, recarga de água, construções sustentáveis, dentre muitas outras soluções. Além disso, o poder público deve se atentar para ocupações irregulares em áreas de risco, em encostas e as margens de rios. Deve-se enfrentar o problema da escassez de drenagem urbana, muitas vezes esquecida diante da falta de planejamento e valores envolvidos nas obras”, pontua Renata.
Por fim, a especialista da área ambiental diz que a população deve repensar a sua relação com o meio ambiente e o consumo. “E isso ao privilegiar ações mais sustentáveis, que visem a redução das emissões de GEE e a prática de economia circular”, conclui.
Como doar para as vítimas das chuvas do RS
Todo esse desastre, claro, fez com que milhares de brasileiros decidissem contribuir para ajudar os gaúchos que estão sofrendo com as enchentes no Rio Grande do Sul. E são diversas as formas de contribuir.
Uma delas é o Pix do SOS Rio Grande do Sul, que já arrecadou até a tarde desta terça-feira (14) mais de R$ 100 milhões, de acordo com informações do Governo do Estado.
Mas claro que existem outras formas de contribuir. Por isso, confira aqui como doar para o Rio Grande do Sul.