Com dissenso, Fed inicia corte de juros em ritmo agressivo
Em meio a pressões dos mercados por um corte mais agressivo nas taxas de juros nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) surpreendeu boa parte dos economistas ao dar início a um ciclo de flexibilização monetária de forma mais tempestiva, com uma redução de 0,5 ponto percentual na taxa dos Fed funds, […]
Em meio a pressões dos mercados por um corte mais agressivo nas taxas de juros nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) surpreendeu boa parte dos economistas ao dar início a um ciclo de flexibilização monetária de forma mais tempestiva, com uma redução de 0,5 ponto percentual na taxa dos Fed funds, para o intervalo de 4,75% a 5,00%.
A decisão, porém, não foi tomada de forma unânime, ao contar com o dissenso da diretora Michelle Bowman, que optou por votar a favor de um corte de 0,25 ponto nos juros. Foi a primeira divergência entre membros da diretoria do Fed desde 2005.
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Na reunião, que contou com a divulgação das projeções macroeconômicas do Fed, o caminho para os juros no horizonte da política monetária mostrou taxas mais baixas do que os níveis previstos em junho, mas não de forma acelerada. A mediana das projeções dos dirigentes do Fed para os juros no fim deste ano caiu de 5,1% para 4,4% — o que indica uma redução adicional de 0,5 ponto na taxa até o fim deste ano. O banco central americano se reúne mais duas vezes até dezembro.
Em relação aos juros no fim de 2025, o ponto-médio das estimativas dos dirigentes passou de 4,1% para 3,4%, com a taxa caindo para 2,9% em 2026 — nível que passou a ser visto pelo Fed como o de longo prazo para os juros americanos. Antes, o banco central americano estimava a taxa de equilíbrio em nível um pouco menor, de 2,8%.
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O que ficou no foco dos participantes do mercado, porém, foi a atenção dada ao mercado de trabalho pelo Fed. No comunicado da decisão, o banco central americano incluiu a indicação de que está “fortemente comprometido” em apoiar o máximo emprego — algo que não constava na comunicação do Fed nas decisões anteriores, além do compromisso com o retorno da inflação à meta de 2%.
Alguma preocupação com o mercado de trabalho também foi notada por participantes do mercado, especialmente pela revisão na projeção para a taxa de desemprego. A mediana das estimativas dos dirigentes do Fed para o desemprego no fim deste ano passou de 4,0% em junho para 4,4% — nível que também passou a ser esperado para o fim de 2025.
O presidente do Fed, Jerome Powell, porém, tentou desfazer possíveis impressões sobre um caminho mais célere de flexibilização à frente. “Não estamos em um curso pré-estabelecido e continuaremos a tomar decisões reunião a reunião”, disse Powell, durante entrevista à imprensa após a decisão, ao ser questionado sobre os próximos passos na condução da política monetária. “Na medida em que a economia evolui, a política monetária será ajustada.”
Embora a maior parte dos economistas de mercado projetasse uma redução de 0,25 ponto percentual, desde sexta-feira o mercado passou a indicar um aumento relevante das chances de corte de 0,5 ponto nos juros — que passaram a ser majoritárias desde o início da semana, de acordo com os contratos futuros dos Fed funds, compilados pelo CME Group.
De acordo com Powell, o comitê não está com pressa e o início forte no ciclo de corte de juros não necessariamente indica que será assim nas próximas decisões. “Podemos ir mais rápido se for apropriado; mais devagar, se for apropriado; e podemos pausar, se for apropriado”, afirmou. “Esperamos, em um cenário base, continuar a remover a restrição e ver como a economia vai reagir e nos guiar em cada reunião.”
Powell observou ainda que todos os membros do comitê concordaram que era hora de agir e ressaltou que a decisão teve amplo apoio. “Estamos recalibrando [a política monetária] com o tempo e fizemos um bom começo forte, foi a decisão certa”, disse.
“A economia dos EUA está em bom lugar; nossa decisão de hoje é para mantê-la dessa forma”.
Além disso, Powell tentou impedir uma visão de que a economia americana está prestes a entrar em um período recessivo, com um pouso forçado (“hard landing”). Para ele, não há nenhuma sugestão na economia no momento de que a probabilidade de recessão é elevada. Nas projeções para o crescimento econômico dos EUA, inclusive, os dirigentes do Fed veem expansão de 2% neste ano, em 2025, em 2026 e em 2027. Ao mesmo tempo, o comitê vê o núcleo do de deflator de gastos com consumo (PCE) caminhando para 2% somente em 2026.
Powell disse ainda que o banco central americano tem sido paciente, e que a espera para começar a flexibilizar a política monetária pagou dividendos na forma da confiança de que a taxa de inflação está caindo. “O movimento é um compromisso com esse objetivo”, afirmou. Além disso, para ele, os dirigentes foram pacientes e, agora, estão “em boa posição para gerenciar riscos”.
Além disso, o Fed recalibrou sua postura devido à evolução da inflação e do emprego em direção à meta, afirmou Powell. De acordo com ele, o Fed se concentrou na inflação por um tempo, focado em trazê-la para a meta, mas chegou o tempo de mudar a postura. Ele reiterou, inclusive, que os riscos estão aproximadamente equilibrados, sem grandes preocupações com o emprego.
“O mercado de trabalho está em uma condição robusta, nossa intenção com o corte de hoje é manter dessa forma”, afirmou o dirigente. Nesse sentido, Powell notou que vários indicadores de emprego têm sido positivos, com taxa de desemprego saudável em 4,2%, participação da mão de obra em níveis elevados, enquanto os salários ainda estão um pouco altos, mas caindo para níveis sustentáveis.
Powell inclusive refutou o argumento de que teria dado início ao ciclo de forma mais agressiva em resposta à oscilação das expectativas do mercado para a decisão. “Vamos fazer o que achamos que é certo para economia, e foi o que fizemos hoje [ontem]”, destacou o dirigente.
Além disso, o dirigente também foi questionado sobre alegações de motivações políticas para a decisão, na medida em que foi a última reunião do Fed antes da eleição presidencial de novembro nos Estados Unidos. “Nosso trabalho é apoiar economia em nome do povo americano, e levamos isso a sério. Não colocamos outros filtros.”
*Com informações do Valor Econômico