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Como a Coteminas, de Josué Gomes, entrou em recuperação, apesar do dinheiro dos chineses
A Coteminas e suas empresas controladas já vinham há tempos dando sinais sérios de problemas financeiros e operacionais. As tentativas do empresário Josué Gomes da Silva de negociar passivos e tentar ampliar prazo de pagamentos de diferentes dívidas esbarravam no volume envolvido nas variadas negociações e na dificuldade de estruturar condições viáveis de retomada do negócio.
Trata-se de uma recuperação judicial que deve envolver pelo menos 12 bancos como credores, pela lista de dívidas da Coteminas em seu balanço, que inclui os “bancões” tradicionais, que já carregam provisões de outras empresas de consumo, como Bradesco, Banco do Brasil, Santander, além de outros menores, como Fibra, Daycoval, Pine e Sofisa.
Gomes chegou a dizer que buscava vender ativos da família para tentar reduzir a alavancagem de seus negócios e também obteve R$ 100 milhões em financiamento da Shein em 2023, mas pela deterioração de suas operações e pelos problemas em uma das negociações com credores, a situação ficou insustentável.
A Shein fechou esse acordo com a Coteminas no ano passado, após reuniões com Gomes e após encontro com membros do governo, no momento em que se negociava novas condições de importação pelos sites estrangeiros ao país.
Josué Gomes é filho de José Alencar, morto em 2011, vice-presidente da República no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Gomes e Lula tem relação próxima, e o empresário esteve em comitivas da Presidência, como a que visitou a China em 2023. O empresário é presidente da Fiesp, a federação das indústrias paulistas, e chegou a ser cotado para chefiar o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior em 2022.
A Companhia de Tecidos Norte de Minas-Coteminas é controladora direta da Springs Global e indireta da CSA (Coteminas S.A.). A companhia Tecidos Santanense é controlada pela Coteminas. A Ammo é uma divisão de comércio para produtos de cama, mesa e banho da Coteminas.
O pedido de recuperação judicial das empresas informado hoje reflete divergências com credores que apareceram meses atrás.
Como o Valor antecipou em fevereiro, depois de receber um aporte da gestora Farallon, por meio de debêntures conversíveis em ações de R$ 175 milhões, a empresa não conseguiu cumpriu os indicadores financeiros que balizam cláusulas do contrato de financiamento (“covenants”), a colocando em situação de default.
A Farallon poderia antecipar o vencimento da dívida que está atrelada somente à subsidiária da Coteminas e tem como garantia 100% das ações da Ammo.
Farallon e Odernes Fundo de Investimento subscreveram parte das debêntures, que vencem em 2027 e remuneração de 20% ao ano. A operação seria de R$ 300 milhões, mas a Coteminas, na época, só conseguiu por no mercado cerca de R$ 175 milhões, na metade de 2022.
Naquele momento, segundo fontes afirmavam, as partes ainda tentavam reestruturar esse vencimento.
O Valor apurou que, até abril, essas negociação não avançavam. Com isso, a empresa informou ao mercado no dia 2 de abril, sobre as reestruturações de dívidas, sem incluir um acordo com as debêntures.
No comunicado, a Coteminas informava “a conclusão de importante etapa” no processo de reestruturação, que inclui negociações com credores para prolongar e reduzir dívidas. Com a venda de ativos não operacionais, o passivo cairia em R$ 70 milhões — pequeno frente ao tamanho dos passivos totais. A empresa dizia que trabalhava para finalizar uma auditoria prévia para alienação de outro ativo, com redução adicional de mais R$ 30 milhões nos passivos.
Os empréstimos e financiamentos da Coteminas, de curto e longo prazo somavam R$ 958 milhões.
No mesmo documento, enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa dizia que finalizara o alongamento de “parte relevante de seus passivos financeiros”, para cerca de oito anos, com taxas de juros menores e vencimento final em 2033, envolvendo financiamentos de cerca de R$ 550 milhões. Afirmava ainda que outro acordo estava em andamento, mas não houve atualização desde então.
Bancos e fornecedores já acompanham de perto a crise que a empresa passava, assim como trabalhadores, que fizeram greve em frente à fábricas em 2023. Não chega a ser, portanto, surpresa o pedido de recuperação. “Já estava desenhado isso lá atrás”, resume um fornecedor de serviços para comércio eletrônico.
Com informações do Valor Pro, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico
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