Como a redução do IPI pode impactar preços ao consumidor

Os consumidores não devem esperar que o corte de 25% na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) signifique redução equivalente nos preços dos produtos beneficiados, segundo economistas ouvidos pelo Valor. Os especialistas consideram difícil estimar qual será o benefício final, mas acreditam que parte do corte será absorvida pela cadeia e que a medida não terá grande efeito sobre a inflação, como esperado pelo ministro da economia, Paulo Guedes.

Dificilmente o desconto chega ao consumidor final, segundo o economista Roberto Luiz Troster. “O varejista vende considerando o preço que ele pagou, se baixou o custo, precisa ver quanto o industrial vai repassar e depois o varejista”, afirmou.

Para o economista e professor da Unifesp André Roncaglia, algum benefício vai chegar ao consumidor final, mas é difícil estimar qual. “As marcas aproveitam para fazer propagandas dos produtos com ‘IPI reduzido’, mas se efetivamente há redução é difícil saber, pois existem várias formas de maquiar a redução de preços sem reduzir efetivamente”, afirmou

De acordo com Roncaglia, o efeito da redução varia conforme o mercado. “Dificilmente a redução vai chegar integral ao consumidor, pois pode haver outras formas das empresas aumentarem o preço ou não reduzirem tanto”, afirma. O efeito do imposto aparece, mas parte pode ser absorvidos pelas empresas.

Inflação

Com relação à inflação, o efeito deve ser nulo ou próximo de nulo, segundo Roncaglia. “Reduzir o imposto é um efeito de uma vez e os preços se acomodam às pressões de demanda. Se reduz o imposto mas aumenta muito a demanda o preço pode até subir se a capacidade produtiva do setor não der conta da demanda”, afirmou.

Para Roncaglia, a ideia de reindustrializar o país por meio da redução do imposto também não deve ser efetiva. “Não são 25% de uma redução de IPI que vão reduzir o problema da indústria. Alivia mas não resolve”, afirma.

O economista Roberto Luiz Troster reforça que os preços dos produtos não vão cair e o impacto na inflação vai ser mínimo. Ainda segundo o economista, em um país de dívida pública complicada como o Brasil, que fez uma recente redução no imposto de renda, com essa medida a possibilidade é, no futuro, haver mais dívida. “No Brasil, historicamente, que

A economista-chefe do Credit Suisse, Solange Srour, estima que a redução de alíquota poderá ter efeito sobre a inflação, de redução de 0.5 ponto percentual. Mas esse efeito deve ser mitigado pelo aumento nos preços de combustíveis e alimentos. Assim, está mantida a expectativa de IPCA de 6,2% em 2022 e 3,8% de 2023 do banco.

A avaliação feita pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, na última sexta-feira era de que o corte de 25% nas alíquotas do IPI deverá ajudar a reduzir a inflação. Ele frisou, por outro lado, que esse não é o foco central da medida, e sim dar um primeiro passo para a reindustrialização do país.

A área técnica acompanhará com atenção a evolução dos preços dos produtos industrializados a partir da medida. Eventuais aumentos poderão ser combatidos com aumento da importação, via redução das tarifas para entrada de produtos estrangeiros. Essa não é, porém, a intenção do governo nesse momento, informam fontes.

A possibilidade, porém, está sobre a mesa. Guedes já declarou que pode haver uma dose adicional de abertura comercial ainda este ano.

O corte do IPI e a abertura comercial são temas que se entrelaçam na estratégia do governo. Há um acordo entre Guedes e a indústria pelo qual a abertura comercial ocorrerá à medida em que sejam reduzidos os custos da produção local, o chamado “Custo Brasil”. O corto do IPI ajuda a cortar esse custo.

Fonte do mercado de automóveis avaliou que o corte no IPI deverá ser repassado ao consumidor. Comentou que a concorrência no mercado interno é muito grande, por isso a tendência é que haja redução dos preços na ponta, na medida do possível.

O governo anunciou na última sexta-feira um corte de 25% nas alíquotas do IPI para todos os produtos industrializados, exceto tabaco. Estima-se que a medida beneficie 300.000 empresas e ajude a elevar o Produto Interno Bruto (PIB) em R$ 467 bilhões em 15 anos. Os investimentos devem ser aumentados em R$ 314 bilhões nesse período.