Negócio da Cosan de compra de 6,5% de ações da Vale foi ousado e faz sentido estratégico, diz consultor

José Carlos Martins, sócio-consultor da Neelix Consulting & Metals, avalia que negócio da Cosan ocorre num momento em que a ação da Vale está subavaliada

Logo da Cosan: Foto: Leo Pinheiro / Valor Econômico
Logo da Cosan: Foto: Leo Pinheiro / Valor Econômico

“Foi um movimento muito ousado. A palavra-chave é ousadia. E que faz todo sentido do ponto de vista econômico-financeiro”. Essa é a avaliação de José Carlos Martins, sócio-consultor da Neelix Consulting & Metals, sobre a aquisição de ações da Vale pelo grupo Cosan, comandado pelo empresário Rubens Ometto.

Ousado no sentido de que o valor de mercado da Cosan é em torno de R$ 30 bilhões e a aquisição, se atingir 6,5%, supera o montante R$ 22 bilhões. “Faz sentido estratégico, mas, por ora, com participação de 5%, é mais financeiro. Vamos ver como fica com o tempo, se ganha mais robustez a presença na Vale”, observa Martins.

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Com a experiência de quem foi diretor-executivo da Vale por dez anos, até 2014, o consultor diz que a empresa precisa de um empreendedor. “Não teve grandes nomes desde a saída (em 2011) de Roger Agnelli [ligado ao Bradesco]. Tem excelentes executivos, mas não são empreendedores, que assumem riscos. Nisso o Ometto vem somar”, afirma.

Observando que não tem ainda conhecimento mais detalhado do modelo da operação, Martins diz que a estrutura financeira tem de ser boa para proteger a companhia do empresário de fatos que afetem as ações da mineradora.

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Lembra que o negócio da Cosan ocorre num momento em que a ação da Vale está subavaliada. “Tem potencial de valorização. O papel está em US$ 14 ou US$ 15, mas deveria estar na faixa de US$ 22 a US$ 23.”

Além disso, comenta, tem a vantagem dos dividendos a serem pagos por Vale. Com eles, a Cosan pode cobrir parte do valor da operação — inicialmente bancada por empréstimos de R$ 8 bilhões de dois grandes bancos — e continuar reinvestindo na mineradora.

Há outro ponto que o consultor destaca nesse movimento. Ele queima etapas. Para montar um projeto de mina-ferrovia-porto, com capacidade de 20 milhões de toneladas por ano de minério de ferro, a Cosan gastaria em torno do valor que está investindo nessa fatia acionária de Vale. E isso poderia demorar de três a cinco anos, tendo de obter licenças ambientais.

Com 5% de participação, a Cosan passa a ter o equivalente a esse volume, uma vez que a capacidade instalada da Vale é de 400 milhões de toneladas por ano de produção de minério.

“A Cosan ainda leva de lambuja participação no negócio de cobre e níquel, sem contar que a Vale tem um minério com altíssimo teor de ferro, que hoje não se encontra disponível por aí”, afirma.

Em termos de sinergias de negócios de Cosan e Vale, que também seriam buscadas com a transação, Martins vê no momento as operações de ferrovia — Ometto tem a Rumo, voltada para transporte de grãos, e a Vale é a maior acionista da VLI, que também transporta grãos, outras cargas e fertilizantes. “Vai depender como a posição da Cosan vai evoluir e se consolidar na mineradora”.

Essa entrada terá de se consolidar, de fato, no grupo de grandes acionistas, que têm Previ, Bradespar, a trading Mitsui, Capital, Black Rock, Aberdeen… A Cosan, reforça Martins, traz uma visão mais operacional para a empresa.

Desde que se transformou em “corporation”, sem bloco de controle definido, a partir de 2017, os acionistas relevantes, que dão direção à empresa, tirando a Mitsui, têm perfil mais financeiro.

O consultor lembra que a Vedanta Resources, do megaempresário indiano Anil Agarwal, fez movimento semelhante em 2017, ao adquirir 11,4% da gigante Anglo American. Foi uma aquisição alavancada, com garantia das ações da mineradora.

Masele não conseguiu “entrar para dentro da empresa”. Após dois anos, Agarwal se desfez das ações, quando a Anglo já valia US$ 40 bilhões, o dobro do valor de mercado que tinha na época da aquisição das ações.

A Vale, na avaliação do consultor, é um ativo do setor de mineração que não se encontra outro igual e tem espaço de crescimento. Vem ainda operando abaixo da capacidade de minério de ferro. “O fundamental é a Cosan ser bem recebida pelos outros acionistas para poder contribuir com a gestão da companhia”, destaca.

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