O Comitê de Política Monetária (Copom) apontou que, se as projeções do cenário de referência do colegiado se concretizarem, a meta contínua de inflação será descumprida em junho deste ano. A avaliação consta na ata da última reunião do colegiado divulgada nesta terça-feira.
Segundo a ata, a inflação acumulada em 12 meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos se as projeções do cenário de referência se concretizarem. “Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”.
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O novo regime de meta contínua da inflação estabelece que, se a inflação acumulada em 12 meses ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, a meta será considerada descumprida. A meta de inflação é de 3% ao ano com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p.) para cima ou para baixo.
Caso a meta seja descumprida, o Banco Central (BC) terá que publicar uma carta aberta ao ministro da Fazenda e uma nota no Relatório de Política Monetária. A carta deverá trazer as razões do descumprimento e as medidas necessárias para que a inflação retorne à meta.
A projeção do Copom aponta para inflação em 5,2% em 2025 e de 4% no terceiro trimestre de 2026, o horizonte relevante atual do colegiado.
Cenário adverso
Segundo a ata, o Copom avaliou que o cenário de inflação de curto prazo “segue adverso”. No documento, o colegiado destacou que os preços de alimentos “se elevaram de forma significativa” e destacou fatores como a estiagem que foi observada ao longo do ano e a elevação do preço das carnes que foi afetada pelo ciclo do boi. “Esse aumento tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”, apontou o colegiado.
Ao tratar dos bens industrializados, o colegiado ressaltou que o “movimento recente do câmbio” pressiona preços e margens “sugerindo maior aumento em tais componentes nos próximos meses”.
O colegiado também destacou que a inflação de serviços continua acima do nível compatível para o cumprimento da meta “em contexto de atividade dinâmica” e que “acelerou nas observações mais recentes”.
Para o futuro, a ata apontou que o comitê vai acompanhar o ritmo da atividade econômica “fundamental na determinação da inflação, em particular da inflação de serviços”, além do repasse para o câmbio da inflação e as expectativas de inflação, que, segundo o colegiado, apresentaram desancoragem adicional e são determinantes para a inflação futura.
“Enfatizou-se que os vetores inflacionários seguem adversos, como hiato do produto positivo, a depreciação cambial, a inflação corrente mais elevada e as expectativas de inflação mais desancoradas”, diz o documento.
O documento diz ainda que “o cenário se desenrolou” de maneira que tornou apropriada uma alta de juros de 1 ponto percentual em janeiro e a indicação de alta de 1 ponto para março.
O documento reafirma a mensagem de que, “para além da próxima reunião, a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
Desancoragem adicional
A ata do Copom diz ainda que as expectativas de inflação se elevaram de forma significativa, indicando desancoragem adicional. “As expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, elevaram-se de forma significativa em todos os prazos, indicando desancoragem adicional e tornando assim o cenário de inflação mais adverso”, diz o documento.
“A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”, diz a ata. “Foi ressaltado que ambientes com expectativas desancoradas aumentam o custo de desinflação em termos de atividade.”
*Com informações do Valor Econômico
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